Ora bolas, se fosse tudo isso, expressão máxima de mandachuva, claramente não seria jornalista. Mais precisamente, perseguiria jornalista metido a besta. Jornalista metido a bestar é quem tem a mania de tirar o sossego dos mandachuvas. Aliás, é contra essa turma diminuta no tamanho, mas gigantesca na influência deletéria, sobretudo nas administrações públicas, que tanto me empenho.
Se me perguntarem três motivos que explicariam a gênese da decadência regional, não teria dúvidas em apontar: em primeiro lugar esse lixo em forma de três-em-um, em segundo esse mesmo lixo de três-em-um e em terceiro lugar mais uma vez esse lixo social de safadezas, omissões, manipulações, autoritarismo e tudo o mais.
Contra esse tipo de gentalha que se acha a fina flor da sociedade não existe saída senão uma Lava Jato. Como a Lava Jato é um ponto fora da curva de combate à corrupção no País, e preferencialmente direcionada às grandes capitais, porque falta efetivo em subúrbios metropolitanos como a Província do Grande ABC, não se deve esperar muito. Exceto quando milionários multipartidários espertos se envolvem com gente semelhante de esferas mais importantes em instâncias pouco transparentes.
Limites da Lava Jato
E mesmo assim é recomendável que não se generalize a ideia e a perspectiva de que a Lava Jato os atingirá. Eles são tão sortudos e influentes que fazem jogadas mais que delituosas para se manter a salvo. Investigações de escândalos numa Capital como São Paulo, por exemplo, quase sempre não dão em nada. Os rigores do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Judiciário sofrem desbastes quando sob as guarda de instituições análogas estaduais, ainda mais estruturalmente depauperadas.
Milionários multipartidários e espertos são mesmo um lixo, mas estão sempre bem acompanhados por gente que se diz do bem e acima de qualquer suspeita. Eles têm relações intestinas com parte do Judiciário, com parte do Ministério Público, com parte de agentes públicos e também com parte de agentes sociais, sobretudo institucionais. Usam máscaras corporativas e institucionais para sustentarem prestígio entre os iguais ou parecidos. Instrumentalizam mandachuvinhas nos intentos. Mandachuvinhas são raias miúdas do entorno dos milionários multipartidários e espertos. Eles, os mandachuvinhas, fazem qualquer negócio. Não arredam pé dos mandachuvas milionários multipartidários e espertos.
Intrinsecamente espertos
Milionários multipartidários são intrinsecamente espertos. Essa associação que dispensa vírgula forma perigosíssima trindade. Milionários sem interesses político-partidários e muito menos versados em malandragens éticas e morais são construtores de riquezas. Geralmente não estão nas colunas sociais dos jornais e revistas. Exceto em casos especiais.
Quando se acrescenta à condição de milionário a qualificação (ou desqualificação) de multipartidário, é melhor sair de baixo. Quando se junta dinheiro e política a regra geral é que se pretende fazer política da pior espécie com dinheiro pernicioso. O dinheiro com caráter e comprometimento social prescinde da política partidária para alcançar objetivos dentro das regras do jogo da competitividade meritocrática.
Quando um milionário de nova e nebulosa safra, ou consolidadamente histórico, não sai dos corredores dos paços municipais, podem apostar que boa bisca não é. Está em busca de vantagens indecorosas que não delegam a terceiros em situação de normalidade delitiva.
Relações espúrias
Quando frequenta corredores judiciais, então, é sinal de que se avançou há muito tempo o sinal republicano. Se na calada da noite encontrar tanto representantes da política quanto do Judiciário, não há sombra de dúvida que alguma coisa está aprontando. O milionário multipartidário e esperto não dá ponto sem nó. Tudo que parece ouro, ouro é.
Há milionários multipartidários e espertos que também usam e abusam do penduricalho da religiosidade como fonte de vantagens terrenas. Contracenam informalmente, mas sempre à espera de holofotes, com luminosidades espirituais. Pegam carona em esteios de honorabilidade e notabilidade imaginando que obterão ganhos de escala com o que acreditam ser uma espessa armadura de idoneidade terceirizada.
Milionários multipartidários e espertos contracenam também com políticos em ascensão e com políticos no poder. Informações não lhes faltam para se darem bem nos negócios a custos módicos. Nem sempre colocam a mão no bolso para financiarem candidatos a qualquer coisa importante. Dão algum dinheiro aqui, outro ali, mas amarram tudo no dia de amanhã do suposto vencedor.
Faces contraditórias
Há milionários multipartidários e espertos sem escrúpulos. Eles são autoritários, detestam a imprensa independente, submetem-se servilmente a interesses nefastos desde que enxerguem que possam usufruir de vantagens na próxima esquina de oportunismo. Usam mandachuvinhas para darem recados ameaçadores e perdem o que resta de fragmentos de civilidade quando encontram um ambiente propicio à inviabilidade de provas que os desmascarem.
Milionários multipartidários e espertos compram o silêncio da imprensa submissa. A maneira mais comum é a reserva de espaço de publicidade dos empreendimentos que dirigem ou, em outras situações, ao financiarem por baixo do pano de modo a disfarçar o desconforto de investir numa publicação que pouco tempo atrás lhe imporá contrariedades circunstanciais.
Também não se pode esquecer dos milionários multipartidários e espertos que se dizem benemerentes. Recomendados por especialistas em marketing, adotam iniciativa cujo custo é desprezível com relação ao benefício de lustrar a imagem pessoal e corporativa. Apostam na memória curta e na ignorância de uma sociedade que não sabe distinguir sinceridade e magnanimidade típicas das Madres Terezas de oportunismo programado para enganar a plateia.
Astúcia nas relações
Milionários multipartidários e espertos estão sempre em busca de alguma medida que amenize eventual desconfiança de que mantêm novas relações espúrias com administradores públicos até outro dia censurados. É verdade que são raros os milionários multipartidários e espertos que se manifestam publicamente contra determinados mandachuvas de outras áreas. Só o fazem, em situação normal, quando têm convicção de que não serão surpreendidos com reviravolta do quadro político.
Não é tarefa para amadores detectar milionários multipartidários e espertos, exceto em situações em que o ego fala mais alto. Normalmente eles atuam nos bastidores. Fazem das administrações públicas ramais preferenciais de negócios. Não pagam impostos, por exemplo. E sabem que podem contar com anistia informal, dessas em que dívidas consolidadas desaparecem milagrosamente dos ativos das prefeituras. Nada que uma compensação mais que lucrativa a bolsos privados não resolva.
Não é para qualquer um chegar ao topo da hierarquia de milionário multipartidário e esperto. Só para se tornar milionário é uma tarefa quase insuperável. Menos de 1% da população da região integra-se a essa categoria.
Quanto menos, melhor
Como nem todo milionário é multipartidário, a condição é favorável a quem se impõe com articulações. Milionário multipartidário tem uma densidade demográfica muito menor ainda – com potencial de travessuras diametralmente oposta, como menos concorrentes na praça. O passo seguinte, de esperteza, é praticamente automático ao milionário multipartidário. Ou alguém acredita que o ingresso na política, sobretudo nos bastidores da política, não é um sinal compulsório de que se pretende entrar na roda viva da maracutaias?
Por mais que se deva lamentar a existência de milionários multipartidários e espertos, aqueles que são identificados maciçamente como tal (ou seja: uma escala razoavelmente volumosa dos formadores de opinião e tomadores de decisões o identificam num piscar de olhos) entram para uma categoria diferenciada. Deixam de ser espertos para se tornarem potenciais otários, porque sempre haverá a possibilidade, mesmo nesta Província dominada por eles, de a vaca da identificação de crimes torcer o rabo da impunidade.
Um caso anedótico
Há uns 20 anos escrevi um artigo nesta revista digital (então newsletter) denunciando que um ex-deputado da região mandou um emissário com a mensagem de que estava eu na lista de assassinato que supostamente ele detonaria. Não dei nome ao potencial mandante da ameaça ao preparar um texto imediatamente publicado. Não é que um ex-deputado me mandou às barras da Justiça, por sentir-se alvo da publicação?
Jamais vivi situação tão kafkiana. Lembrei ao meritíssimo no dia da audiência que apenas diante da confirmação de que o autor da queixa-crime teria de fato me ameaçado confirmaria a identidade repassada pelo mensageiro. Ao se considerar atingido pela divulgação da notícia, o ex-deputado estaria assumindo claramente o crime. Os demais ex-deputados da região estariam isentos. É claro que o ex-deputado não cometeu a insanidade de autodenuncia-se.
Por que volto ao passado? Porque não faltam milionários multipartidários e espertos (além de corruptos, se querem saber) a vestir a carapuça. Que chamem o Judiciário. Não tenho obrigação judicial de dizer a um meritíssimo em quem eventualmente me inspirei para produzir esse texto. Até porque, como disse, não faltam figurinhas carimbadas desse álbum de malabarismos delinquenciais. Quem vai se autodeclarar milionário multipartidário e esperto e, também, corrupto?
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!