Imprensa

Desafios da Internet

DANIEL LIMA - 09/10/2007

Sei lá o que vai ser do futuro da mídia impressa tradicional por conta da modernidade da Internet associada ao pragmatismo cultural, se de pragmatismo cultural pode ser chamada a industrialização da leitura, o fast-food informativo com que a maioria se contenta.


O que sei é que dou à Internet o mesmo tratamento ao único cartão de crédito que utilizo: nada mais que a conveniência de me socorrer como suplemento à paixão por conhecimento (no caso da Internet) e a indisposição ou cautela para não sair por aí com dinheiro vivo demais (no caso do cartão de crédito). Até mesmo o prazo de pagamento não me tira o foco de consumidor. Tanto que jamais recorri ao crédito rotativo. Aprendi a dançar conforme a música que escolho.


Como lidar com a avalanche de informações que os sites de marcas tradicionais da mídia impressa e também algumas inovações do mundo virtual nos impõem goela abaixo para quebrar a disciplina de quem sabe dividir cada dia em partes interdependentes, sem se deixar levar pela errática volúpia induzida pelos meios de comunicação?


A Internet só não causa mais estragos no mundo jornalístico (entenda-se como mundo jornalístico as empresas cujas logomarcas, prestígio e credibilidade decorreram do mundo real, impresso em papel) entre outras razões porque a leitura na tela de computador é um saco.


Sei lá se é por causa da hipermetropia que exige o uso de óculos, o fato é que não suporto ler na tela de computador. Há estudos que garantem que uma coisa não tem nada a ver com outra, ou seja, hipermetropia é uma coisa, baixa acuidade visual proporcionada pela tela de computador é outra. Ou seja: a tela é um saco para todo mundo, o que, convenhamos, tem amenizado o desastre de migração de leitores de papel para a tela.


Por isso imprimo tudo que acho indispensável à leitura, já que jornais e revistas têm limitações imensas em lidar com determinados temários e os tratam de maneira marginal.


Por exemplo? A mídia tradicional escreve muito pouco sobre a mídia tradicional, num pacto de compadrio misturado com comodismo associado com corporativismo que cheira a malandragem. Então e por isso vou lá na Internet e visito sites providenciais que ajudam a destrinchar por que, por exemplo, o “Estadão” baixou o pau no governo Lula da Silva quando da queda do avião da TAM ou por que se escondeu naquela véspera de eleições presidenciais a gravidade do choque no espaço aéreo entre o Legacy e o avião da Gol, com 154 mortes. O dinheiro da “Operação Aloprados” era muito mais importante para quem jogava tudo para impedir a vitória de Lula no primeiro turno.


Também devoro noticiário jurídico, de casos que me interessam como profissional de Imprensa e aos quais a mídia em geral dedica pouca importância ou baixa profundidade. Um exemplo? A disputa entre Ministério Público e Polícia Judiciária pela titularidade de investigação criminal que, como se sabe, está emperrada agora no Supremo Tribunal Federal por conta do julgamento do empresário Sérgio Gomes da Silva, o bode expiatório do caso Celso Daniel.


Da minha lista de favoritos constam endereços eletrônicos de vários veículos impressos ou mesmo apenas virtuais com abordagem do Grande ABC. Não subestimo nenhum. Acho-os muito importantes para retirar insumos que eventualmente possa utilizar em artigos deste blog ou reciclá-los e torná-los pauta da revista LivreMercado. Mas sempre, faço questão de ressaltar, retiro-os da virtualidade para imprimi-los em papel e tinta.


Estava esquecendo de dizer que também devoro tudo que sai sobre a Internet na própria Internet. Meu arquivo particular de quase três mil pastas recheadíssimas reúnem artigos, notas, notícias, reportagens e análises desse mundo revolucionário. Reforço tudo com livros. Há pesos e contrapesos sobre virtudes e deficiências do mundo digital. Não faltam argumentos de quem projeta o fim dos jornais de papel como conhecemos hoje, cada vez mais semelhantes aos sites das próprias corporações que os mantêm.


Chego a concordar com a maioria dos argumentos. Acho até que os próprios donos dos jornais de papel estão cavando a sepultura dos veículos, porque em larga escala reproduzem o material nos sites de acesso em boa margem gratuito. Ou seja: emprestam cada vez mais ao mundo virtual a credibilidade da informação histórica dos veículos palpáveis. Se a passagem não se der economicamente apropriada, enchendo a bola de quem fatura pouco e esquartejando a qualidade da matriz, o desastre será total.


Neste artigo que escrevo com rapidez e certo sentimento de exorcismo porque pretendo dormir mais tranquilo esta noite e esse tema estava a me incomodar, não tenho nenhuma preocupação de aprofundamento de impressões pessoais dos meios de comunicação sob a influência direta da Internet. O que sei é que na revista LivreMercado não cometo o crime de lesa-anunciantes de colocar no ar todas as matérias de cada edição ao mesmo tempo. Transfiro-as para internautas cadastrados em conta-gotas ao longo do mês. Dessa forma, evito a canibalização e, também, amplio a possibilidade de somar leitores de papel que possivelmente sairão do mundo virtual para o real. Contrariamente, portanto, ao que ocorre com mídias impressas que se reproduzem na tela de computador e contratam a crise de leitura palpável de amanhã.


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