Sociedade

Órgão gestor para
Paranapiacaba

DA REDAÇÃO - 05/01/1999

Sempre lembrada quando o assunto é exploração do turismo no Grande ABC, Paranapiacaba está longe de reunir consenso entre Poder Público, entidades e empreendedores que espicham os olhos para a vila inglesa. O empresário Beto Carrero já manifestou interesse em erguer ali complexo de lazer e entretenimento sobre a História do Brasil. Mas as intervenções necessárias para esse parque temático fazem arrepiar as ONGs (Organizações Não-Governamentais), que não admitem qualquer arranhão no patrimônio histórico da vila. A Prefeitura de Santo André, por sua vez, desconhece a carta de intenções que Beto Carrero protocolou em 15 de julho de 1998 junto à Rede Ferroviária Federal, dona do patrimônio de Paranapiacaba. A diretora municipal de Desenvolvimento Urbano, Cláudia Cabral de Souza, acha positiva a pretendida restauração da malha de trilhos que dá acesso ao local, mas avisou que não se vai permitir o uso da vila como cenário de negócios privados.


"É por isso que insistimos na criação de um órgão gestor para administrar o local" -- afirma Cláudia, ao se referir ao estatuto que a Prefeitura entregou para a Rede no mês passado. A idéia é constituir uma fundação de direito privado sem fins lucrativos que terá como missão conjugar preservação e aproveitamento de Paranapiacaba de forma turística. O Fórum da Cidadania do Grande ABC pensa igual, mas prepara estatuto com leque mais abrangente de representantes. 


Pelo modelo da Prefeitura, o conselho curador da fundação -- instância superior de deliberação -- seria formado por Poder Público, Rede Ferroviária, Fórum da Cidadania, membros da comunidade da vila e empresários. No conselho consultivo seriam incluídas entidades preservacionistas, ONGs e universidades, entre outras. 


O Fórum da Cidadania prefere alargar o poder decisório do conselho curador com assentos para até oito entidades, além da Prefeitura e Rede. Seriam também convidados OAB (advogados), IAB (arquitetos) e ONGs como o Movimento Pró-Paranapiacaba. O coordenador-geral do Fórum, Sílvio Pina, não faz restrições ao capital privado. "É mais saudável ter ocupação da vila com fins lucrativos do que não ter nenhuma ocupação. Basta haver respeito à preservação ambiental e histórica" -- diz.  Tanto o estatuto elaborado pela Prefeitura quanto o do Fórum prevê que qualquer interessado em Paranapiacaba -- de empresários que queiram erguer negócios a moradores que desejam montar pousadas ou promotores de eventos culturais -- tem de submeter propostas ao órgão gestor. 


A Rede Ferroviária, segundo a diretora de Desenvolvimento Urbano de Santo André, está receptiva a passar a administração da vila a esse colegiado de representantes enfeixado na fundação. A expectativa é de que até março projeto de lei dê entrada no Congresso Nacional autorizando a transferência. Paralelamente, a Prefeitura contratou junto a núcleos de arquitetura e pesquisa ambiental da USP (Universidade de São Paulo) um plano diretor, espécie de inventário sobre o que existe e pode ser explorado turisticamente na vila ferroviária. O Fórum da Cidadania, conforme Pina, acha interessante, mas ressalva que se trata de ação unilateral sujeita à aprovação dos demais interlocutores do futuro órgão gestor.


Segundo a jornalista Maria Cristina Poli, idealizadora do parque temático projetado para o Grupo Beto Carrero, a proposta também contempla a democratização de idéias. Mas estudos somente terão início a partir de sinal verde da Rede à carta de intenções de Beto Carrero. Os estudos devem demandar entre seis e 10 meses com participação de historiadores, ambientalistas, arquitetos, representantes da Rede, Prefeitura e Fórum da Cidadania. Com o estudo e o orçamento em mãos, o grupo pretende captar recursos pela Lei Rouanet, de incentivos fiscais à cultura. "A privatização da Fepasa (Ferrovias Paulista S/A) mobilizou as atenções da Rede nos últimos meses e não permitiu análise mais detalhada do nosso projeto" -- diz Poli. 


O Movimento Pró-Paranapiacaba está à procura de patrocinadores para editar e distribuir cartilha didática sobre a vila.  Dirigida ao público adulto, especialmente professores, o objetivo é oferecer material com riqueza histórica para ser utilizado na multiplicação de informações sobre o patrimônio histórico e cultural. Por meio de pesquisa patrocinada pela Cultura Inglesa de Santo André, foi possível produzir 40 páginas.


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