Sociedade

Quem não é o maior
quer ser o melhor

DA REDAÇÃO - 05/03/1999

Como o próprio nome sugere, o Primeiro de Maio Futebol Clube de Santo André nasceu futebol, a 18 de agosto de 1913, mas hoje é um dos principais clubes associativos do Grande ABC, com patrimônio avaliado em R$ 35 milhões e orçamento anual de R$ 2,6 milhões. Carinhosamente chamado de Verdinho, está mais para a grandeza de um Verdão. Em comum com o Palmeiras, no entanto, apenas a beleza do verde e do branco capaz de unir corintianos, são-paulinos e santistas. Localizado em pequena mas privilegiada área central, o Primeiro de Maio cresceu significativamente na última década, virou clube poliesportivo e provou que quem não é o maior pode estar entre os melhores.


Sem os espaços generosos de potências como Aramaçan, Mesc ou Volkswagen Clube, o clube que teve José Lari como primeiro presidente precisa fazer das tripas coração quando sonha crescer e só pode olhar para cima. Com área total de apenas 18 mil metros quadrados, metade construída, ao lado do Paço Municipal, a alternativa é a verticalização, inclusive para preservar o verde cada dia mais raro.


Tanto que maritacas, rolinhas, sabiás e bem-te-vis devem estar espantados com a possibilidade de perder mais um pedaço do pequeno oásis que lhes resta para o happy-hour diário, com a indispensável parceria dos funcionários, que lhes servem ração e água. Há até um bem-te-vi que vem comer na mão dos sócios e costuma roubar pedaços de salgadinhos de crianças e pais distraídos. As aves se adornaram de tal forma do verde que ameaçam promover o movimento dos sem-árvore, porque a prevista demolição do antigo restaurante já sacrificou algumas palmeiras. Sorte que não será preciso derrubar a centenária figueira central. Assim, a revolta dos pássaros e dos defensores da natureza não será tão notada.


Prioridade-1 -- A prioridade número um da diretoria, cujo mandato vence a 31 de março do ano 2000, é a construção de salão social em área de 3.572 metros quadrados amparado por restaurantes, american-bar, anfiteatro, salas de vídeo e exposições, banheiros e mezanino. O salão social prestes a sair do papel vai significar investimento próximo de R$ 1,6 milhão. O orçamento ordinário prevê cerca de R$ 2,6 milhões anuais entre taxas de manutenção, de cursos e de transferência de títulos. A verba extraordinária para a prioridade um vem do somatório do saldo de caixa e da venda de 300 títulos de sócios remidos a R$ 3 mil em 10 parcelas, além de outros 300 no valor de R$ 700 divididos em 14 de R$ 50.


A obra é mesmo essencial porque o salão vai significar locações, além de arrecadação com festas e shows, como no Aramaçan, e deve ser entregue até o final do mandato do presidente Nelson Roberto Mazzucatto, que vai completar período de seis anos. A definição de obreiro é muito mais do que rótulo em Mazzucatto. Mesmo porque, se dirigente faz é porque fez errado ou gastou muito e mal; se não faz, alguns sócios criticam porque não fez. Entre estar na boca do associado pelo que fez ou pelo que não fez, o presidente, palmeirense de quatro costados e torcedor do Santo André nas horas vagas, prefere a ousadia de fazer.


Com 53 anos e dois netos, aposentado como diretor financeiro da Câmara de Santo André por 26 anos, Mazzucatto tem no mínimo familiaridade com números, embora reconheça que em alguns momentos faz valer a pura intuição de que vai dar certo. Assim tem sido nos últimos cinco anos, desde quando, como oposição, assumiu em substituição a Lino Vezzá, considerado um dos principais dirigentes clubistas do Grande ABC e que comandou o Primeiro de Maio por uma década. Hoje, o que se vê é um clube em constante e necessária metamorfose, que implica em novos processos de administração e tecnologia em sintonia com os tempos atuais. "Quando assumi, o Primeiro de Maio já tinha boa estrutura. Só procuramos melhorar, modernizar de acordo com as necessidades do associado, que cresceu cerca de 9% em cinco anos" -- lembra Nelson Mazzucatto.


Esse melhorar, que não é sinônimo de crítica, vai dos cuidados com os jardins à difícil manutenção do complexo aquático de cinco piscinas, que contemplam os associados com a opção da térmica à específica para hidroginástica. Portaria, exames médicos, controle de taxas de manutenção, acesso a piscinas e salas de atividades físicas, além da simples cessão de uma bola ou qualquer material, tudo está informatizado. O clube adquiriu o primeiro computador em 1985 e a portaria atual foi construída em 1988.  A reforma da lanchonete fez com os cerca de 12 mil associados, entre titulares e dependentes, ganhassem prático self-service por quilo coordenado pelo Buffet Status para suprir a momentânea ausência do restaurante, enquanto a prioridade número um não vira realidade-10. 


Também nos últimos anos a diretoria promoveu a ampliação do deck da piscina externa, além de construir terraço sobre pequena arquibancada e vestiários com banheiros à altura dos usuários do gramado sintético, ex-areião, para a prática de futebol soçaite. Novo Departamento Médico com assistência de 15 a 16 horas diárias, canchas de bocha comparadas às melhores da América do Sul e pistas de boliche, além de bombas térmicas de tecnologia americana para as piscinas, aparato de proteção contra raios e atualizado sistema de telefonia, incorporam o mix de reformas ou obras realizadas ou complementadas nas administrações do atual presidente. Nelson Mazzucatto é sócio do clube desde o tempo em que o futebol de salão estava no auge e a entrada ainda se dava por meio de corredor que descia da Rua Coronel Oliveira Lima. A antiga Caverna ganhou a companhia de pequena piscina, salão de jogos e ginásio poliesportivo. Destaque nas décadas de 50 e 60, a modalidade atraía grande público e vivia tempos de glórias no cenário estadual. Tudo foi negociado na década de 80 para dar lugar a um estacionamento e ao Shopping Santo André.


O futebol profissional dos anos 20, dos tempos em que o campo era na Rua Brás Cubas, próxima à Praça do Carmo, e dos clássicos contra o contemporâneo Corinthians da Vila Alzira, já virou doce lembrança de quem viu jogar craques que fazem parte da história de cada troféu. A vaga na Segunda Divisão paulista hoje é do Santo André. O futebol de 11 contra 11 ficou na saudade e salonismo de títulos agora se limita a disputar com certa competência as divisões menores da Federação Paulista. O espaço só é suficiente para o gramado sintético, onde jogam sete de cada lado.


Há, porém, quadras descobertas, inclusive para peteca, e centro esportivo de três andares que envolve bares, lanchonetes, sanitários, canchas de bocha, pistas de boliche, salas de ginástica, artes marciais e academia de musculação, salão de snooker, sala de xadrez informatizada e quadra de tênis, que será reformada e impermeabilizada devido a infiltrações. A infra-estrutura conta ainda com saunas, cabeleireiro e equipado ginásio poliesportivo, onde ocorrem jogos de futsal internos e de campeonato, basquete e vôlei, além de, por enquanto, festas e bailes comemorativos promovidos pelo Departamento Social e que dentro de um ano devem ganhar casa nova.


Esporte para todos -- O clube da Avenida Portugal não se limita a competições internas como o futebol soçaite masculino em várias categorias e feminino, o futsal da garotada ou o basquete dos marmanjos. Também participa de campeonatos e torneios além-muros nas modalidades de futsal, natação, snooker, xadrez, bocha, boliche e vôlei, além de alguns sócios se aventurarem na tradicional São Silvestre no último dia de cada ano. Internamente, há cursos ou aulas que vão desde pintura, arraiolo e ponto-cruz aos ligados à atividade física, como ginástica, natação, hidroginástica, musculação, ioga, tai-chi-chuan, jiu-jítsu, caratê, judô, tênis e futsal. Sem falar do sempre intelectualizado xadrez. O professor Fábio Antônio Zanirato é o coordenador do Departamento de Esportes.


As opções sociais, de esporte e lazer aos sócios, amparados por 134 funcionários, não terminam aí. Há ainda o grupo da Melhor Idade, que pratica ginástica e dança e promove passeios. No início do ano, o Projeto Verão teve apresentações de aeróbica, axé e outros ritmos em parceria com a Academia Vital e o Colégio Singular. Para filhos acima de 13 anos de pais colunáveis ou não, o clube oferece ainda a Over Sound, danceteria que funciona às sextas-feiras. Outra prestação de serviço atende ao problemático estacionamento. Foram fechados dois convênios com uma alternativa em cada portaria -- a segunda fica na Rua Álvares de Azevedo. 


Outro item que afeta não só os clubes como a sociedade como um todo é a segurança. No Primeiro de Maio, onde a vigilância não pode ser ostensiva, já se pensou em monitoramento por meio de câmeras. Mas a alternativa esbarrou na invasão de privacidade que ocorreria nos vestiários, vez por outra visitados por ladrões que conseguem burlar a ronda imposta por 14 seguranças acompanhados de walktalk.


Terceirizar? Nem pensar. "Não dá certo em nenhum setor. Economizamos e administramos melhor sem gastar com terceiros. Aqui fazemos tudo o que é possível. Temos pintor, encanador, pedreiro, eletricista, serralheiro e jardineiro, todos funcionários registrados" -- argumenta Nelson Mazzucatto.


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