Ele é o filho jovem que toda mãe queria ter. Saudável, bem comportado, estudioso, inteligente, ágil nas decisões, sem vícios, casado e bom pai, com apenas 29 anos está a caminho do primeiríssimo escalão do staff brasileiro de uma das maiores companhias do planeta. Aparência de rapaz de 20, o campineiro Eduardo de Camargo Andrade assumiu há pouco menos de um ano desafio espinhoso e atraente para abrir em grande estilo as portas do terceiro milênio: ajudar a General Motors a subir para o topo no ranking de vendas de carros populares no Brasil, no qual ocupa a terceira posição.
Vê-lo à frente de uma equipe enxuta, de 11 colaboradores, é deparar com exemplo bem acabado do jovem executivo que ascende num ambiente em que até recentemente despontavam quase que exclusivamente profissionais com idade acima dos 40. Eduardo Andrade é sangue novo, principalmente pela atitude. Rejeita sala fechada e recusa-se a ser chefe padrão antigo, que dá ordens. Sua filosofia é integrar, trabalhar com conceitos. Decisões são discutidas em equipe; prevalece o convencimento, para ele um método inteligente e agregador. Eduardo Andrade considera tão importante o trabalho integrado que gostaria de sentar-se numa mesma mesa redonda com os colaboradores. Mas contenta-se em ocupar mesa disposta ao lado das demais, num espaço de poucas divisórias. O jovem executivo trabalha no prédio que abriga o Banco GM, em São Paulo, e visita a cada 15 dias a fábrica, em São Caetano.
"Sou contra a figura autoritária do chefe tradicional. Me sinto melhor e mais produtivo como integrante de uma equipe" -- diz o jovem executivo. Eduardo Andrade tem razões de sobra para agir dessa maneira nestes tempos de competitividade em alta. Precisa manter a equipe unida e afinada, com sinergia de sobra para que tudo dê certo quando a GM lançar no ano que vem o carro popular compacto que será fabricado em Gravataí, no Rio Grande do Sul, cujo projeto se chama Blue Macaw (Arara Azul). A montadora enxerga no novo carro a escada para atingir o topo do mercado. A programação de marketing para o lançamento está em estágio avançado. Eduardo Andrade e sua equipe cuidam de todo o projeto, da criação a projeções e simulações. "Gosto do mundo complicado, porque os desafios me estimulam" -- afirma.
Carreira meteórica -- Eduardo Andrade foi descoberto pela GM no ano passado, nos Estados Unidos, durante feira de recrutamento de executivos realizada em Orlando, na Flórida. Formado em Economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), acabara de concluir mestrado no Boston College e já carregava na bagagem importante experiência internacional na área de Marketing. Com apenas 25 anos havia sido responsável pela operação que instalou a subsidiária da italiana Parmalat na Colômbia. Graças em grande parte à precisão do seu trabalho, em apenas três meses a companhia atingiu o topo do mercado de leite longa vida naquele país.
"Aceitar o comando da operação da Parmalat na Colômbia foi decisão fundamental. Eu estava bem aqui no Brasil, também na área de Marketing da Parmalat, onde acabara de ingressar. Recebi o convite numa quinta-feira, para dizer sim ou não na sexta. Para muita gente, permanecer no Brasil representaria mais status, por se tratar de mercado infinitamente maior. Pensei alto. O que me fascinou foi a missão de definir toda a estratégia de mercado da Parmalat na Colômbia, onde me reportei exclusivamente ao presidente da subsidiária, em Bogotá. Sabia que se tratava de operação pequena se comparada à do Brasil, mas tive oportunidade de colocar em prática minhas idéias" -- analisa o executivo.
Eduardo Andrade se programou para vencer. Não é chefe autoritário, mas estabelece metas e permanentemente cobra bom desempenho dos membros da equipe. É, sobretudo, profissional exigente consigo mesmo. Lê tudo o que pode sobre Marketing e aprende com cases de outras empresas. Seu grande mestre na matéria foi o Departamento de Marketing da Unilever, primeiro emprego, onde trabalhou na área de margarinas. "Foi importante ter trabalhado na Unilever. A empresa é totalmente focada no Marketing. Aprendi a posicionar produtos no mercado. A Unilever é a melhor escola brasileira de Marketing" -- enfatiza.
Durante a permanência na fabricante da margarina Doriana, Eduardo Andrade percebeu que para crescer teria de fazer mestrado nos Estados Unidos. Bebeu na fonte do Tio Sam, onde planejamento e racionalidade são componentes essenciais do Marketing mais poderoso do mundo. Mas sacou a contrapartida: que características voláteis do mercado brasileiro, hoje até que razoavelmente estabilizado, ensinam o marqueteiro a ser profissional flexível. "Nos anos de inflação alta, 80% do Marketing brasileiro era de curtíssimo prazo. Hoje, com todas as mudanças que ocorreram após o Plano Real, só metade do Marketing que se faz no Brasil é de longo prazo. Nos Estados Unidos, ao contrário, tudo é programado para longo prazo" -- relata.
Como um jovem executivo realizou a aparentemente complicada passagem do mundo dos alimentos para o mundo dos automóveis, tão distintos quanto bolacha e amortecedor? Sob o ponto de vista exclusivamente técnico, Eduardo Andrade garante que não há segredo. "No mundo do Marketing tudo é produto. Nossa missão é vender imagem" -- sintetiza. Mas há, sim, diferenças. Mais do que sutis diferenças.
No mundo dos alimentos o marqueteiro tem de trabalhar com prazos mais curtos. Do ponto zero -- desenvolvimento -- ao lançamento de um produto alimentício costumam decorrer, no máximo, seis meses. Quando o assunto é automóvel, o prazo de elaboração do plano de Marketing pode representar anos. Foi justamente isso o que aconteceu com Eduardo Andrade no exame que realizou nos Estados Unidos para ser admitido na General Motors. "Me pediram opinião de design para um carro a ser lançado em 2003. É assim mesmo na indústria automobilística. O Marketing automobilístico tem de ter visão de longo prazo e, consequentemente, planejamento mais aprimorado" -- conta.
Eduardo Andrade é protagonista de mudança que ocorre no principal foco da indústria automotiva, que privilegia as áreas técnica e financeira, mas já começa a se transferir para o Marketing. A instalação de novas montadoras no País, com mais diversificação e tecnologia embutida nos produtos, e o advento do carro popular fizeram com que as fábricas passassem a dar a devida importância à imagem. O jovem executivo cita o exemplo do Classe A que a Mercedes-Benz produz na nova fábrica de Juiz de Fora, em Minas Gerais. "Quanto vale o carro e quanto vale a estrela?" -- pergunta. "Como carro, eu não compraria. Mas o conceito, o símbolo da Mercedes, isso tem muito valor".
No caso da General Motors, Eduardo Andrade diz que a montadora tem imagem de credibilidade, qualidade, alta tecnologia e bom serviço ao consumidor. O carro símbolo da GM no Brasil é o Vectra, sinônimo de produto de sucesso com excelente imagem. "O Vectra é líder absoluto no seu segmento. É um carro que conquistou o consumidor brasileiro por tudo que agrega de positivo, da tecnologia embarcada à relação custo-benefício" -- analisa.
Vida tranquila -- Eduardo Andrade é jovem de hábitos comedidos. Gosta de viagens, mas dispensa aventuras. Dedica as horas de folga principalmente ao filho Gabriel, nascido há um ano nos Estados Unidos, na época em que concluía o curso de mestrado em Economia no Boston College. É casado há sete anos com Manuela Andrade, também jovem executiva da GE Capital, subsidiária brasileira da norte-americana General Electric. Mora em confortável apartamento no Bairro Moema, em São Paulo. A cada 15 dias embarca a família numa Blazer e toma o rumo de Campinas, onde visita familiares e encontra amigos.
Ele e a mulher têm pouco tempo para ficar juntos durante a semana. Por isso, tomaram duas decisões que consideram fundamentais para o bom relacionamento no lar: não falar de trabalho e conviver o máximo possível com o pequeno Gabriel. "O fato de sermos executivos e nosso tempo ser tomado em grande parte pela atividade profissional não afeta a vida em família" -- garante Eduardo Andrade. "Esse é, inclusive, um lado muito interessante em nossas vidas. Trabalhamos em áreas diferentes e somos pessoas realizadas. Considero a realização profissional muito importante para nossa boa e sadia convivência".
Quanto ao filho Gabriel, o jovem executivo diz que o importante não é a quantidade do tempo que fica com o bebê, mas a qualidade. Ele sabe que educação e apoio da família são valores que o colocaram no topo do Marketing brasileiro com apenas 29 anos de idade.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!