Numa época em que novas tecnologias e a economia globalizada jogaram para o alto profissões como engenheiro de telecomunicações, operadores de Internet e estrategistas em investimentos globalizados, quem começaria uma carreira como professor de Geografia ou de laboratorista para manejar os infinitos símbolos e fórmulas da Química? Não parece, mas muita gente. Prova disso são os disputados vestibulares da Fundação Santo André, um dos mais antigos templos do ensino na região, que se prepara para recepcionar 10 mil candidatos no exame classificatório para 2000 e confirmar a tradição de maior vestibular do Grande ABC.
Todo esse interesse, que representa 30% a mais de vestibulandos em relação à temporada passada, é só mais uma demonstração do aparato que a Fundação mobiliza para se tornar não só atraente aos novos alunos, mas um pólo de intensa vivência acadêmica dos oito mil matriculados que já formam sua comunidade estudantil. Não é por acaso que o centro de ensino acaba de dar salto triplo em novidades. A primeira é o cartão universitário, uma parceria com o Banespa que coloca os estudantes a par de toda a vida escolar por meio de cinco terminais de consulta, além de funcionar como cartão eletrônico para movimentar a conta bancária. É a primeira linha direta do Banespa com essa abrangência dentro de uma faculdade, onde também foi instalada agência com elástico horário das 10h às 21h. O aluno poderá consultar, sob uma mesma senha eletrônica, notas, faltas, situação das mensalidades, informações administrativas da secretaria e novos cursos, entre outros, além de obter extratos e fazer saques bancários.
A segunda boa-nova é a plena informatização da Biblioteca Central, cujos 23 mil exemplares receberam código de barras, o que facilitará sobremaneira a média de 180 consultas e 120 empréstimos diários. Os usuários têm agora seis computadores para localizar instantaneamente títulos e autores e ainda ganharam 20% de espaço sobre os cerca de 450 metros quadrados anteriores. A biblioteca é aberta a alunos e ao público em geral e incorporou outros seis computadores para os serviços internos dos funcionários.
A terceira novidade atende pelo nome de Projeto Inter Ação, por meio do qual alunos do curso de Economia da Faeco (Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas) começaram a participar em setembro da tradicional gincana de simulação de investimentos promovida pela Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). A Faeco entra numa arena onde constam nomes de primeira grandeza na parceria com a Bovespa, casos de USP (Universidade de São Paulo), Fundação Getúlio Vargas, Mackenzie e PUC (Pontifícia Universidade Católica). "As equipes recebem R$ 100 mil e simulam aplicações durante o ano. Vence a escola que der o melhor rendimento à quantia" -- anima-se o diretor da faculdade, professor Carlos Vieira.
Os recentes passos no centro de ensino de Santo André somam-se a outros não menos intensos. A irmã da Faeco, a Fafil (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), acaba de sair de mais uma bem-sucedida maratona acadêmica, a Infomat99. Foi a 16ª edição anual consecutiva da tradicional Semana da Informática e Matemática, que reuniu cerca de quatro mil participantes. Nos últimos três anos a Fafil passou a convidar especialistas em diversas áreas para falar aos alunos e enriquecer o que o diretor João Carlos Lernic considera importante aproximação escola-empresa. "Saímos da relação aluno e professor, que era o próprio palestrante. Convidando técnicos e mestres de outras escolas, conseguimos saltar no grau de qualidade dos temas expostos" -- relata Lernic.
As semanas culturais têm justamente o propósito de agregar ensinamentos aos repassados em sala de aulas. As aulas são suspensas e o aluno aprofunda pesquisas e trabalhos em laboratórios e nas palestras. As atividades contam pontos para a aprovação no final do ano, diz Lernic. Antes da Infomat99 a Fafil havia se mobilizado na Semana Cultural, da Faculdade de Letras, e na Semana de Ciências, da Faculdade de Ciências Sociais, que este ano focou o Projeto Tamar, das tartarugas em extinção.
Mais de 40 palestras foram desenvolvidas na Infomat99, com um arco que se abriu de temas mais específicos, como Geometrias Não-Euclidianas, a assuntos emergentes como Drogas, E-Business (comércio eletrônico) e Bug do Milênio. Todas as semanas culturais são abertas à comunidade em geral. A Infomat também exercitou o espírito solidário estudantil, já que o ingresso às palestras e exposições era feito mediante um quilo de alimento. A Fafil calcula ter arrecadado duas toneladas de mantimentos, doados a 400 famílias atendidas pela Igreja Nossa Senhora Salete, na Vila Helena, e às 100 crianças assistidas pela Creche João 23, da Vila Palmares, as duas em Santo André.
Centro universitário -- Criada em 1962, a Fundação Santo André está em contagem regressiva para se tornar um centro universitário. Com isso, conquistará autonomia para criar ou remanejar vagas, cursos e grade curricular sem ficar na fila de autorizações do Conselho Estadual de Educação. O pedido para esse salto de independência foi protocolado em meados deste ano no Conselho e a expectativa é de que seja aprovado no decorrer do primeiro semestre de 2000. Para tanto, a Fundação vem fazendo vigorosa lição de casa. Além de passar longe de qualquer conceito D e E no provão do Ministério da Educação, recebeu por três anos seguidos nota A nos cursos de Administração. Em 1998, a nota máxima também foi obtida nos cursos de Letras e de Administração Hospitalar, avaliados pela primeira vez.
"Não viabilizamos projetos quebra-galhos. Não abrimos mão da qualidade do ensino" -- conceitua João Carlos Lernic para explicar a trajetória ascendente dos 17 cursos de graduação e outros 10 de pós que a Fundação oferece entre a Fafil e a Faeco. Igual ênfase é dada aos 800 alunos que frequentam outro braço da instituição, o Ensino Médio. Outro forte pilar de sustentação da Fundação Santo André está no gabarito do quadro docente. Mais de 40% dos 250 professores são mestres e doutores e pelo menos 50 deles serão efetivados em período integral neste segundo semestre. "Esse é mais um requisito para nos tornarmos centro universitário, embora muitos professores já se dedicassem em jornada integral voluntariamente à escola, pois isso é fundamental para nossos projetos de pesquisas" -- saúda Lernic.
A Fundação passou por consultoria da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) durante 15 meses, no ano passado. A parceria consolidou o objetivo da escola de dar ao aluno e ao mercado produtos e respostas rápidas às mutações sociais e culturais. Por estar vinculada à Prefeitura de Santo André e não ter fins lucrativos, a Fundação consegue cobrar mensalidades 50% menores que as de mercado. Mas o grande interesse da comunidade estudantil se estende à atualidade de ensino. Os cursos de História e Geografia, por exemplo, ganharam novas nomenclaturas em bacharelado e licenciatura plena, o mesmo ocorrendo com Matemática, que incorporou licenciatura em Informática. O curso de Administração de Empresas acoplou habilitações em Marketing, Finanças, Sistemas e Recursos Humanos.
Novas habilitações também estão chegando na forma de cursos como Automação de Escritórios, Administração de Serviços, Eventos e Administração Esportiva. "O Grande ABC desenvolveu fortemente a área terciária e temos de acompanhar esse processo" -- explica João Lernic, que tem outro alvo de prioridades voltado aos trabalhos sob encomenda de empresas e entidades. Pesquisas acadêmicas e os 13 laboratórios da Fundação estão direcionados para esse braço de serviços, que desenvolveu recentemente o Plano Diretor de Informática da Câmara de Vereadores de Santo André e fechou convênio para formar educadores especiais para a Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!