Isso e muito mais serão expostos na próxima quarta-feira, quando o Instituto ABC Dados apresentar os resultados da primeira pesquisa de opinião “A Cara do ABC”. Trata-se de iniciativa inédita, porque jamais contamos com uma ação que se prenuncia sistêmica para tentar retirar a imensidão de interrogações sobre o que é viver na região.
Quando classifico a iniciativa como inédita num contexto de sistemicidade quero dizer que minha memória alcança uma pesquisa realizada em 2004 pelo Instituto Brasmarket a meu pedido, quando estava diretor de Redação do Diário do Grande ABC.
Vou tentar encontrar mais detalhes sobre aquela pesquisa que, salvo engano, mediu a temperatura de satisfação de morar na região.
A vantagem que se apresenta com o ABC Dados é que haverá constante monitoramento comportamental de temáticas regionais cujos cruzamentos contribuirão para se entender o chão em que pisamos, o céu que nos contempla e os tropeços que sofremos.
Reviravolta possível?
Possivelmente o que teremos será muito mais que aferir o grau de entusiasmo ou de decepção por morar na região, embora esse seja um ponto de extraordinária importância. Ou o leitor acredita que haveria possibilidade de uma reviravolta do que chamo de Capital Social na região se não houver ao menos um potencial de adesão a propostas transformadoras?
Por enquanto somos institucionalmente uma nau sem rumo, embora não faltem espertalhões que acreditam que, mesmo formiguinhas sem talento e empenho, estão conduzindo o tronco da regionalidade.
O interessante nas entrevistas do ABC Dados é que a questão relativa ao orgulho ou não de morar na região (com as opções discriminadas de “sente muito orgulho”, “sente pouco orgulho” e “não sente orgulho”, além de “não soube responder”) não está divorciada de outras abordagens igualmente exploratórias da alma dessa sociedade desorganizada.
O orgulho ou não de morar na região é o sétimo quesito de perguntas e vem após, entre outros, sobre “muito satisfeito, pouco satisfeito ou nada satisfeito” quando o assunto é Segurança Pública, Educação Pública, Transporte Público e Trânsito. E também vem após algo intrínseco:
“Em sua opinião, a região do ABC é um lugar ótimo, bom, regular, ruim, péssimo ou não soube responder para se viver?
Entenderam os leitores que quando chegar à fase do mata-mata do sentimento de orgulho, com suas variáveis, o entrevistado estaria preparadíssimo para oferecer uma resposta madura, já que questões anteriores despertariam percepções críticas sintonizadas com o ecossistema em que vive?
Partindo-se, portanto, desse proposto, acredito que as quatro variáveis a respostas dos entrevistados estarão clarificadíssimas. E nesse ponto vou mais adiante: diria que é preciso ter uma bateria carregadíssima de paixão pela região e pela cidade em que se vive para superar uma alternativa que não seja tudo, menos “sente muito orgulho”.
Fosse eu a responder, optaria pela alternativa “não sente orgulho”. O leitor de CapitalSocial pensa diferente?
Encadeamento crítico
Insisto um pouco na projeção de que o resultado final sobre a questão do orgulho não seria dos melhores porque a pesquisa mostra seriedade no encadeamento de perguntas ao antepor questionamento sobre o grau de satisfação com os serviços públicos nas áreas de segurança, educação, saúde e transporte. Ora bolas: trata-se de condicionante reflexivo com efeitos realísticos que não podem ser desprezados.
Quero crer que o resultado sobre o orgulho de morar ou não na região, ou mesmo de perscrutar se a região é um bom lugar para se viver, estaria comprometido caso não houvesse um cerco contextualizador do ambiente regional, chamando-se à consciência o estágio em que se encontram os serviços públicos mencionados.
É possível que alguém insatisfeito com os serviços públicos afirme ao entrevistador que a região é um ótimo lugar para se viver e que sente muito orgulho de morar aqui? Claro que é possível, mas a resposta é muito menos provável do que entre os entrevistados que aprovarem as áreas de segurança, educação, saúde e transporte público.
O ambiente metropolitano é uma imensa bandeira vermelha de alerta à qualidade de vida. E isso pesa muito na hora de decidir se temos orgulho ou não de morar onde quer que seja por aqui. Possivelmente pese menos entre aqueles que já se acostumaram com o caos e não têm perspectiva de vida fora da zona do agrião da decantada riqueza ao alcance de todos. Fora isso, talvez o peso dos vínculos familiares seja a argamassa da resistência.
Para chegar ao ápice da aprovação ou da rejeição (e também da indiferença) dos moradores da região em torno de questões que dizem respeito diretamente ao que somos, o Instituto ABC Dados chegou aonde eu pretendia naquele texto de 2013, como lembrei ainda outro dia ao saudar a chegada desses pesquisadores. A pergunta número nove tem o seguinte enunciado:
Caso pudesse, sairia da região do ABC para viver em outra cidade ou região, ou não sairia da região do ABC?
As alternativas à resposta estimulada (como todas as respostas estimuladas) abrangem duas vertentes além de “não soube responder”: “sairia”, “não sairia”.
É nesse ponto que o bicho vai pegar. A manifestação individual estaria associada aos posicionamentos anteriores de forma bastante sólida. Será interessante verificar os resultados finais tendo-se em conta os resultados parciais. Provavelmente uma coisa levará a outra e tantas quantas levarão a entendimento mais convincente.
Muitos desafios
O que isso significa? Se um determinado contingente de moradores optar por morar em outra cidade ou região terá simetria ou não com a identificação pronunciada com a localidade de origem ou haveria algo como indiferença no sentimento?
Quem mora em São Caetano teria intenção semelhante de deixar a região quando comparado a quem mora em Diadema? Ou é mais provável que teremos o que expus ainda outro dia: a configuração de sentimentos de valorização do espaço municipal em que se vive independentemente das diferenças de realidade urbana?
A última etapa da pesquisa que o Instituto ABC Dados colocou na praça regional diz respeito a 10 questões de escolhas voltadas a endereços de empreendimentos privados e públicos. Teremos nesse caso algo como a métrica de pertencimento municipal e regional. Seriam testes de afeição dos entrevistados à cultura local.
Na verdade, são nove pontos que iluminarão o conceito de envolvimento com a região. O primeiro listado refere-se à escolha da melhor imagem pessoal da região.
Vou escrever sobre isso na edição de amanhã. Mas antecipo que estou mexendo os pauzinhos mentais para tentar encontrar uma meia dúzia de destaques pessoais que tenham apelo popular.
Será que vai pintar na área, como exemplo bem-acabado de nosso gataborralheirismo, gente que se tornou famosa na televisão depois de escafeder-se da região?
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!