Sociedade

Será que temos personalidade
regional? É melhor esquecer

DANIEL LIMA - 22/01/2019

O Instituto ABC Dados vai divulgar nesta quarta-feira de manhã o resultado da primeira de uma série de pesquisas que pretendem mostrar a cara da região. Já abordei o assunto em dois artigos e o faço mais uma vez, ávido que estou pelos resultados.

Uma das questões que fecham o questionário diz respeito a quem melhor representa individualmente a região. Vou repetir: quem melhor representa individualmente a região?

Não tenho ideia sobre quem seria a personalidade regional mais admirada nestes tempos. E acho que não vai sair dessa cumbuca nada substancioso. Exceto se alguém com notoriedade no campo midiático emergir. É fácil confundir notabilidade com notoriedade.

Se regionalidade já é matéria-prima escassa nesta Província, o que esperar como resultado de um questionamento que pretenda filtrar uma individualidade em meio a um coletivismo frágil?

O nome que emergir significará muito pouco ante o universo de entrevistados. Em outros tempos, provavelmente Celso Daniel ganharia de lavada entre os formadores de opinião e tomadores de decisões. Mas aí não seria uma pesquisa, mas enquete.

Pesquisa é outra coisa. Coleta a opinião de representantes de toda a sociedade, de acordo com as especificidades metodológicas cientificamente respeitadas.

Grande oportunidade

Não li nada a respeito do lançamento da pesquisa do Instituto ABC Dados em qualquer outra mídia da região. Das duas uma: ou os representantes da empresa não sabem se comunicar com os responsáveis pelas publicações impressas e digitais ou o que temos do outro lado do que chamaria de cidadania de comunicação está completamente perdido, imerso em varejismos.

Afinal, a oportunidade que se apresenta é inédita e deve ser explorada (quanto não questionada) ao máximo. É impossível compreender o estágio a que chegou a região sem considerar estudos que captem a pulsação.  

Talvez seja suspeito, porque se tem algo de que não abro mão é de uma pesquisa, qualquer que seja, mas que descobrir a cara da região que vai saltar dos questionários é uma senhora oportunidade a avaliações, não tenho dúvida.

É claro que não vou aceitar passivamente a cara que me será apresentada. Estou preparadíssimo para esmiuçar os resultados. Acredito na seriedade dos responsáveis, mas não custa nada apertar um pouco aqui, outro tanto ali -- mesmo registrando que a ordem cronológica das questões é um encadeamento pouco ou nada sujeito a distorções.

Não gosto de comprar gato por lebre. Chegam as pesquisas eleitorais. Quem consultar esta revista digital vai ver que não dei moleza aos institutos que acompanharam a corrida presidencial. Especialmente Ibope e Datafolha. Seus responsáveis tentaram de todas as formas influenciar o eleitorado, como o fizeram, claro, porque uma parcela de indecisos se guia pelos dados coletados.

Ibope e Datafolha fizeram dos números e da metodologia gato de subestimação ao senso crítico dos leitores e sapato de abuso a determinado candidato. Caíram do andaime. Se acompanhassem mais constantemente as mídias sociais não teriam se surpreendido. Nem eles nem jornalistas enviesados, porque militantes.

Poucos candidatos

Quando digo que não acredito que uma determinada figura pública da região salte das planilhas do Instituto ABC Dados como exemplo de reconhecimento popular não quero dizer que não existam candidatos com alguns predicados a tamanha honra dentro dos conceitos que tenho como resumo de meritocracia a ser festejada.

Está certo que é preciso pensar muito para encontrar alguns nomes que preencham alguns dos quesitos de regionalidade. Alguns são poucos, claro. A demanda regional é tão intensa para sair da enrascada em que se encontra faz muito tempo que uma ou várias andorinhas não fazem verão. Nomes se destacarão quando o coletivo estiver entrosadíssimo. Como um time campeão.

Municipalismo, apenas municipalismo, não quer dizer muita coisa. A pergunta do Instituto ABC Dados é claramente de cunho regional, então o resultado terá de ser igualmente de cunho regional. Vejam: 

  Pensando na região do ABC como um todo, peço que me diga o seguinte: qual é a pessoa que melhor representa a região do ABC?

O Instituto ABC Dados não se restringiu a personalizar um representante da região. Também quis saber dos entrevistados, seguindo a linha de regionalidade, as seguintes respostas:

 A cidade que melhor representa a região do ABC

 O parque que melhor representa a região do ABC

 O clube que melhor representa a região do ABC

 A escolha que melhor representa a região do ABC

 A faculdade/universidade que melhor representa a região do ABC

 O hospital que melhor representa a região do ABC

 A rua ou avenida que melhor representa a região do ABC

 O restaurante que melhor representa a região do ABC

 O shopping que melhor representa a região do ABC.

Minhas escolhas

Viram quantos são os desafios aos entrevistados? Os resultados certamente já são conhecidos dos organizadores. E serão revelados aos convidados nesta quarta-feira. Se respondesse, diria ao entrevistador mais ou menos o seguinte:

 Quem melhor representa como pessoa a região do ABC? Milton Bigucci, empresário da construção civil. Por razões mais que óbvias de prestígio com políticos, com o Judiciário, com o Ministério Público, com os prefeitos e tudo o mais.

 Cidade? Disparadamente, Mauá, centro de reconhecida capacidade de produzir escândalos públicos.

 Parque? Chácara da Baronesa, em São Bernardo.

 Clube? Água Santa de Diadema, prova provada de que futebol é muito mais que bola no gramado.

 Escola? Qualquer uma sob os descuidos das administrações públicas.

 Faculdade/Universidade? UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), o grande engodo de compromisso com a região.

 Hospital? Claro que o Nardini, de Mauá, uma rotina de narrativas do fim do mundo da saúde regional.

 Rua ou Avenida? Avenida Vergueiro, em São Bernardo, um festival de desperdícios do dinheiro público com construção seguida de derrubada de ilhas de proteção aos motoristas e pedestres.

 Restaurante? Bom Prato, que, diferentemente dos tempos de fartura do prato multiplicador de industrialização e empregos, distribui alimentos aos deserdados.

 Shopping? Atrium, em Santo André, caçapa cantada da arapuca de excesso de investimentos no setor na contramão da queda continuada do PIB Geral do Grande ABC.



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