A rica São Caetano e a ainda muito carente Mauá são antípodas muito além de vetores econômicos e sociais, os quais, claro, permeiam todas as diferenças. A recente pesquisa do Instituto ABC Dados sobre as expectativas dos moradores da região em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro reforça contrastes que escancaram a bobagem de alguém achar que o território regional é uma massa uniforme.
Somos sete pedaços distintos. No caso do que se vislumbra para o governo Bolsonaro, as expectativas são conflitantes quando São Caetano e Mauá se colocam como territórios analisados. A média regional é mais comedida entre o otimismo de São Caetano e o ceticismo de Mauá.
Não é necessariamente porque está dividido em sete partes que o Grande ABC é conflitante entre si. A Capital do Estado, tão próxima, embora com personalidade administrativa única, também o é. A Zona Leste e a Região Oeste são reproduções paulistanas de Mauá e São Caetano, por exemplo. A vida em grandes cidades e em regiões metropolitanas é repleta de desigualdades.
O que diferencia o Grande ABC da Capital é o tratamento mais desafiador de encaixar as sete peças num mesmo invólucro de gestão pública coordenada. São Paulo não requer um Clube dos Prefeitos porque é espaço administrativo único. O Grande ABC sofre as consequências de ter criado a instância e raramente a ter levado a sério.
Primo rico, primo pobre
Vou abandonar os demais municípios da região na avaliação da pesquisa do Instituto ABC Dados. Me aterei exclusivamente a São Caetano e a Mauá para mostrar o quanto a pesquisa precisa ser analisada com cautela. O Grande ABC de imagem única é a síntese do comodismo. Há nuances que resultam na suposta cara única.
Um exemplo: quando perguntados sobre a expectativa em relação à situação econômica do País, 77% dos moradores de São Caetano afirmaram que “vai melhor”. Uma situação prospectiva bem mais otimista que os 34% de Mauá. A média regional é de 52%. Quanto a “vai piorar”, os números são semelhantes e, portanto, equilibrados, de 10% para São Caetano e 9% para Mauá, contra a média regional de 10%. Já quanto a “ficar como está”, a desesperança de Mauá alcança 57% contra apenas 12% de São Caetano. A média regional é de 36%.
Outra pergunta respondida pelos entrevistados do Instituto ABC Dados diz respeito à expectativa em relação à situação econômica pessoal. É relevante destacar que se trata da perspectiva pessoal, não do todo nacional, como na questão anterior. O abismo entre Mauá e São Caetano não é tão acentuado quanto a “vai melhorar”, porque o placar é de 67% a 51% para os moradores de São Caetano, contra média regional de 59%. Para a média regional de 33% que entende que a situação econômica pessoal “vai ficar como está”, o contraponto de São Caetano é de 28% e o de Mauá de 48%.
Otimismo e pessimismo
Quando a perguntas sobre a possibilidade de melhora ou piora da inflação, assunto praticamente neutralizado nestes tempos de IPCA abaixo da meta do Banco Central, quando se pergunta, repito, sobre inflação, São Caetano e Mauá são parecidos no resultado de 28% para a primeira e 22% para a segundo em termos de que “vai aumentar”. A média regional é de 25%. Já ao avaliar a opção “vai diminuir”, São Caetano é mais otimista com 60% das respostas, contra 19% de Mauá. A média regional é de 37%. O abismo se dá mesmo na alternativa “vai ficar como está”: 55% dos moradores de Mauá escolheram essa opção contra 15% de São Caetano. A média regional é de 35%.
E como se comportaram os moradores dos dois municípios ante o questionamento de risco de piora de desemprego? Também houve semelhança de resultado no critério de “vai aumentar”, com 18% e 21%. A média regional é de 21%. Mas entre “vai diminuir” e “vai ficar como está”, de novo o otimismo de São Caetano prevaleceu: 70% contra 24% de Mauá quanto a “vai diminuir” e 8% contra 51% de “vai ficar como está”. A média regional é de 53% para “vai diminuir” e 23% para “vai ficar como está”.
Poder de compra
E o poder de compra dos salários, como foi visto pelos moradores dos dois municípios? Em São Caetano 50% optaram por “vai aumentar”, contra apenas 18% de Mauá. A média regional é de 40%. Já “vai diminuir” inverteu a equação: 25% de São Caetano contra 52% de Mauá. A média regional é de 29%. Quanto a alternativa “vai ficar como está”, contra a média regional de 28%, São Caetano respondeu com 23% e Mauá com 28%.
Também à indagação relativa à melhora ou piora da corrupção, a distância de percepções se manteve, depois dos 15% de igualdade em “vai aumentar”, contra a média regional de 18%. Quanto a “vai diminuir”, 63% dos moradores de São Caetano adotaram a resposta, enquanto em Mauá foram apenas 34%. A média regional é de 51%. Inverte-se o resultado diante de “vai ficar como está”: 22% de São Caetano contra 52% de Mauá, enquanto a média regional é de 30%.
Na Segurança Pública, mais propriamente no questionamento sobre violência, Mauá se manifestou mais pessimista, com 47% que adotaram “vai aumentar” contra 23% de São Caetano e média regional de 30%. Já quanto à opção “vai diminuir”, 67% de São Caetano se manifestaram de forma otimista, contra 14% de Mauá e a média regional de 49%. Apenas 10% dos moradores de São Caetano entendem que a violência “vai ficar como está”, contra 39% de Mauá e 19% da média regional.
Bolsonaro não escapa
Com tantos contrastes entre si, seria demais esperar que as alternativas sobre a pergunta central do questionário do Instituto ABC Dados deixassem de ser igualmente diferentes. Entre ”bom” e “ótimo”, o governo que assumiu a presidência da República em primeiro de janeiro conta com 75% dos moradores de São Caetano (22% de bom e 53% de ótimo), enquanto em Mauá é menos da metade desse índice, com 32%, dos quais apenas 1% de “ótimo” e 31% de “bom”. A média regional é de 58%. Ribeirão Pires é quem mais se aproxima de São Caetano, com 68% (22% de “ótimo” e 46% de “bom”). Mauá não tem concorrente.
Entre aqueles que consideram “regular” a expectativa em relação ao governo de Jair Bolsonaro, 7% se manifestaram em São Caetano e 35% em Mauá, contra média regional de 21%. Entre “ruim” e “péssimo”, São Caetano atingiu apenas 13% (de “péssimo”), enquanto Mauá registrou 31% (22% de ruim e 9% de “péssimo”.), números bem distantes dos demais munícipios e da média regional de 15%.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!