Sociedade

Clube popular de
atividades sociais

ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/07/2000

Inaugurado em novembro de 1996, portanto um dos mais novos entre os 50 postos do Serviço Social da Indústria no Estado de São Paulo, o Sesi de Diadema continua inabalável na missão de prover educação e engendrar cidadania nas comunidades próximas. Instalado em área de 51 mil metros quadrados de muita tranquilidade e verde em meio a duas favelas no Jardim Campanário, a instituição administrada pela educadora Maria Miriam Lima Ferrari multiplica ações ambientais, culturais e antiviolência para valorizar no dia-a-dia a sensibilidade e o respeito humano geralmente escassos nas comunidades marginalizadas. As atividades do Sesi de Diadema são voltadas a universo superior a 10 mil pessoas, contabilizados os 7,2 mil sócios do centro esportivo e 2,5 mil alunos dos cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Supletivo, além de outros visitantes. Uma parte dos sócios e alunos são filhos de trabalhadores do setor industrial, que mantém o sistema em todo o País por meio de repasse de percentagem da folha de pagamento. Outra parte é formada por moradores das comunidades próximas sem vínculos com a indústria. Eles desembolsam R$ 5 em inscrição e R$ 10 por bimestre para tornar-se sócios de clube popular que oferece quadras, piscinas, salas de ginástica, quiosques com churrasqueiras e playground, além de inúmeras atividades educativas e sociais. 

Atuando no Município que mantém o troféu de mais violento da Grande São Paulo, conforme última pesquisa da Fundação Seade, os diretores do Sesi de Diadema aproveitaram o fato de 2000 ser o Ano Internacional da Paz para lançar a Campanha da Cidadania. As ações se estenderão até dezembro. Para conferir representatividade à campanha aos olhos dos participantes, o Sesi trouxe para o lançamento a diretoria local do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), representantes da Secretaria de Educação, Esporte e Cultura de Diadema, além do prefeito Gilson Menezes. Um concurso de frases foi a primeira ação da Campanha da Cidadania. Alunos e a comunidade em geral criaram slogans tendo três temas como ingredientes: os 500 anos do descobrimento do Brasil, a não-violência e a cidadania. Quatro vencedores foram premiados com livros e medalhas e oito segundos e terceiros colocados receberam diploma de reconhecimento. 

A premiação mais importante, porém, é intangível e está guardada na lembrança. Os livros, diplomas e medalhas foram oferecidos na presença do prefeito de Diadema, de representantes do setor produtivo e de centenas de pessoas da comunidade durante as comemorações do Dia da Indústria, em 25 de maio. "É muito importante que as pessoas se sintam capazes de produzir algo digno de admiração. O ataque à marginalização depende de recursos financeiros, mas também da criação de bons exemplos a serem seguidos" -- considera Miriam Ferrari, que tem 27 anos de experiência como funcionária do Sesi e era chefe da Divisão de Educação para o Grande ABC antes de assumir a direção da unidade em Diadema. As frases escolhidas permaneceram expostas pelas instalações por vários dias.

Outro exemplo de paradigma positivo erigido para fomentar boas iniciativas é a escultura Chama da Paz, exposta em área próxima ao centro esportivo. A Chama da Paz carrega forte simbolismo, porque foi produzida por artista humilde de Diadema -- Edmilson de Morais -- a partir de sucata, como escapamento furado. A lição subliminar é a de que não é preciso nascer em berço de ouro ou ter acesso a materiais nobres para conceber obras de arte. A capacidade individual e a criatividade não conhecem fronteiras econômicas. 

Convidado por Miriam Ferrari durante uma de suas incursões pelos programas artísticos populares promovidos pelo Departamento de Cultura de Diadema, Edmilson de Morais também expôs esculturas de concreto e areia no projeto Atendendo Com Arte, uma exposição permanente com rodízio de artistas que integra a Campanha da Cidadania. O espaço da exposição está estrategicamente situado defronte à secretaria, para que associados e visitantes possam assimilar cultura enquanto aguardam por atendimento. "Pretendemos trazer artistas humildes, se possível da própria cidade, para que a comunidade sinta que o mundo cultural não está tão distante, para que possa se inspirar" -- afirma a diretora.

A valorização do meio ambiente num mundo em que áreas verdes tornam-se cada vez mais reduzidas é outro foco de trabalho que integra a Campanha da Cidadania. Em comemoração ao Dia Internacional do Meio Ambiente, em junho, alunos e associados participaram do plantio de quatro árvores com orientação de jardineiros. Não foi atitude isolada. Mais de 50 árvores frutíferas foram plantadas na área de 51 mil metros quadrados durante o ano passado. A comunidade está acompanhando o crescimento de mudas de araçá, acerola, jabuticaba, laranja, cereja e outras frutas, que transformarão o espaço em verdadeiro pomar nos próximos anos.


Ação conjunta -- O Sesi de Diadema também age em conjunto com outras unidades do Serviço Social da Indústria. O programa Ação Comunitária, realizado em meados de abril, envolveu mais quatro Sesis do Grande ABC, além das unidades de Guarulhos e Cubatão. Centenas de profissionais da área de saúde se mobilizaram nos seis endereços para atender gratuitamente a comunidade na condição de voluntários. Foram 34.368 atendimentos em oftalmologia, fisioterapia, pediatria, ginecologia, odontologia, psicologia, condicionamento físico, clínica-geral e exames de diabetes e Aids, dos quais 8.344 realizados no Sesi de Diadema. 

Outra ação conjunta está programada para fins de agosto: um dia inteiro de debates e atividades que sublinharão a importância da educação não-formal no processo de desenvolvimento pessoal para inserção social. "Os mesmos Sesis que participaram do primeiro evento já confirmaram participação" -- comenta Miriam Ferrari, para quem a educação não-formal, buscada por conta própria pela sensibilidade e pela curiosidade, é tão ou mais importante quanto conhecimentos absorvidos nos bancos escolares. 

Mais do que eventos pontuais em função da Campanha da Cidadania, atividades sociais voltadas aos menos favorecidos são valor intrínseco do Sesi de Diadema. E quem conhece a trajetória da diretora Miriam Ferrari à frente da instituição sabe disso. O Sesi de Diadema foi Destaque do Ano do Prêmio Desempenho de 1998, promovido pela Editora Livre Mercado, graças a modelo de gestão conjunta que modificou radicalmente o padrão de relacionamento com a vizinhança. 

Ao se aproximar dos líderes das favelas próximas e criar Conselho Consultivo para definir em conjunto a programação de atividades, o Sesi de Diadema amortizou a cultura da violência e da marginalidade, atraiu os vizinhos e tornou-se patrimônio comunitário. As bolas de futebol já não somem mais como antigamente e não há pichação nas paredes nem bitucas de cigarro pelo chão. O ambiente comunitário é impecavelmente limpo. Na biblioteca de 8,2 mil títulos são contabilizadas mais de mil retiradas por mês.   

As mudanças comportamentais e de valores de vida promovidas pelo Sesi de Diadema através da atuação missionária de Miriam Ferrari evidenciam a constatação de que a pobreza vai além da escassez de recursos materiais. Além de ser determinada pela falta de moradia, roupas e alimentos, a pobreza é perpetuada por paradigmas mentais e culturais viciados, como já sublinharam diversos estudiosos que se debruçaram sobre o assunto. Caminhando pelo Sesi, Miriam Ferrari avista algumas crianças do Ensino Médio brincando durante o intervalo escolar. A diretora aponta para as crianças uniformizadas, asseadas e educadas e pergunta em tom de desafio: quem é capaz de dizer que moram na favela?  

Além de atender quem mora nas proximidades, o Sesi interage em maior amplitude com a comunidade de Diadema. Miriam participa de reuniões periódicas com dirigentes de 20 entidades filantrópicas do Município e, durante as férias escolares de julho, o centro esportivo e orientadores do Sesi são colocados à disposição das instituições.


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