Muita gente ainda cai no conto do vigário de que teremos metrô e não monotrilho ou algo ainda pior no Grande ABC. Até o bispo da Diocese de Santo André, Pedro Carlos Cipollini, entrou nessa, segundo declarações publicadas no Diário do Grande ABC de hoje.
A campanha do jornal em favor da obra, que insiste em chamar de metrô, tem seus méritos, mas subestima o passado de informações valiosas. Metrô é uma Ferrari que não tem nada a ver com o calhambeque chamado monotrilho. E o que querem nos enfiar goela abaixo é monotrilho, ou, então, o mais pobre corredor de ônibus, o BRT. Qualquer opção fora o metrô verdadeiro, que não virá, vai gerar mais complicações econômicas locais do que vantagens. E vai acentuar a personalidade Gataborralheiresca da região.
É ofensivo o grau de oportunismo de gente entrevistada pelo Diário do Grande ABC sobre o monotrilho nunca citado, porque é metrô semanticamente esculhambador da verdade dos fatos.
Dirigentes das associações comerciais da região, o Clube dos Comerciantes, falam em mobilização “pró-metrô”, ao invés de eventual suposta correção de rota do governador do Estado, João Doria, que optaria pelo BRT.
Dirigentes patéticos
Os leitores vão entender por que afirmo categoricamente que os dirigentes daquelas entidades são patéticos ao tratarem do assunto. Entre as 66 matérias desta revista digital que abordam objetivamente ou complementarmente o monotrilho na região, desde 2013, selecionei os principais trechos de cinco para levar aos leitores informações relevantes sobre vários aspectos da obra, principalmente econômicos.
Consta desse material algo que dirigentes das associações comerciais desconhecem porque não se importam com os supostos filiados ou porque têm memória curta ou porque querem os holofotes da mídia a qualquer preço ou porque são mesmo assim, por natureza.
Trata-se de estudo da Universidade Metodista de São Bernardo, cujos resultados publiquei em forma de análise em 2014. Ou seja: há cinco anos.
E o que diz o relatório? Que o monotrilho será um chute nos fundilhos da competitividade comercial da região. O Complexo de Gata Borralheira vai se manifestar duramente com monotrilho ou BRT.
Em quase cinco anos, ou seja, desde que os estudos da Metodista foram publicados na mídia, seria possível destrinchar um plano estratégico para transformar o modal em algo que contribuísse para valer com o futuro da região. Mas vamos repetir com o monotrilho ou o BRT o que inauguramos em matéria de logística do atraso, no caso o trecho sul do Rodoanel, inimigo íntimo da economia regional e parceiro milionário da Grande Osasco, como temos cansado de provas com dados oficiais.
Matérias explicativas
Sugiro aos leitores que não arredem olhos do que se segue como arsenal do acervo que colocamos à prova de contraditórios férteis. Quem está dizendo que o metrô é indispensável para a região não sabe a diferença entre metrô de verdade, monotrilho e BRT. Os efeitos do metrô de verdade na economia da região seriam desastrosos também, porque estruturais, mas pelo menos teríamos uma obra contemporânea, não um arremedo de logística.
Nos textos que se seguem com os respectivos títulos e datas de publicação não faço referência alguma ao BRT, porque esse é um fato novo retirado da cartilha de racionalidade de custos do governo do Estado certamente inspirado na lógica paulistana de que a periferia não mereceria mesmo outra coisa. Metrô de verdade, só na Capital Cinderelesca.
Acompanhem os principais trechos daquelas cinco matérias e entendam na dimensão apropriada o significado dessa obra que faz milionários da noite para o dia no mercado imobiliário. Sempre às custas dos inocentes úteis. Nossa estupidez não nos deixa ver que estamos sendo ludibriados mais uma vez.
Que mudanças o monotrilho vai
provocar na mobilidade regional?
DANIEL LIMA - 06/11/2013
É desafiadora, porque instigante, mas incompleta, a reportagem da edição impressa e também da edição digital do jornal Repórter Diário do final de semana. Vejam o título: “Impacto econômico do metrô é desconhecido”. Uma excelente pauta que, salvo erro, nenhum jornal, mesmo os jornalões, ousou produzir. No caso regional, então, nem de longe. A matéria foi preparada a propósito da chegada do monotrilho, que equivocadamente é chamado de metrô. Faz muita diferença uma coisa da outra. Metrô dá status à mobilidade urbana. Monotrilho carrega um certo ranço de preconceito. Metrô fica invariavelmente sob a superfície da terra; monotrilho salta lá no alto, com aquela estrutura de concreto armado a manchar o horizonte e a atormentar a vizinhança – mesmo com toda a tecnologia que torna o ronco dos motores discreto. O Repórter Repórter Diário ouviu gente do ramo de mobilidade urbana e de mercado imobiliário. A soma de declarações não multiplica respostas. Apenas, como bem definiu no título da reportagem, estimula projeções. (...) Já Milton Bigucci, presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC, foi direto e reto: aposta na atividade intensa do mercado imobiliário, com destaque não só para as construtoras que estão de olho nas localidades que serão abrangidas pelo monotrilho, mas para os proprietários de residências. (...) O traçado do monotrilho na Província do Grande ABC, da chamada linha-18 Bronze, vai provocar sim um rearranjo espacial no mercado imobiliário e também no sistema viário. Os corredores sobre os quais se estenderá aquela massa vão concentrar muitos investimentos imobiliários. A dificuldade será associar o potencial de construção e o potencial de consumo. A periferização da sociedade regional, que também é metropolitana, não é obra do acaso. (...) A falta de planejamento do Poder Público e a sedução do mercado imobiliário convergem para uma rota de conflito que atinge diretamente o interesse de melhor qualidade de vida dos usuários de transporte público. A elevação do preço do metro quadrado dos imóveis nos últimos anos aumentou ainda mais o apartheid social, que destina às classes mais populares os cafundós de moradias. (...) O professor Jeroen Klink acertou na veia quando se referiu à responsabilidade do Poder Público gerar Plano Diretor para regular o que educadamente chama de crescimento desenfreado. Possivelmente sem pretender acertar quem acertou, mas acertando, Klink mandou um recado contundente ao presidente do Clube dos Prefeitos, Luiz Marinho, e aos demais chefes de Executivos da região. Aquela instituição não realizou até agora nada que possa ser entendido, considerado, avaliado, analisado e garantido como planejamento espacial de cunho regional para absorver os impactos positivos e negativos que a chegada anunciada do monotrilho representará, bem como as conexões com os inúmeros corredores de ônibus prometidos com dinheiro municipais e federais. Por fim, o empresário Milton Bigucci jogou limpo e sem sofismas: o mercado imobiliário vai sim ganhar com a chegada desse ramal de transporte popular e também ganharão os proprietários de imóveis. Só faltou ao também dirigente do Clube dos Construtores e Incorporadores abordar um ponto visceral na questão: os imóveis mais próximos da serpentina do monotrilho serão desvalorizados monetariamente por conta da cultura de que esse tipo de transporte lembra um minhocão mais estreito e mais cumprido, além de barulhento e sobretudo agressivo à plástica urbana.
Monotrilho vira metrô: mais um
golpe da semântica imobiliária
DANIEL LIMA - 08/11/2013
Ficamos assim, caros leitores: toda vez que aparecer em anúncio de lançamento imobiliário, em páginas de jornais, em notícias de TV, que a Província do Grande ABC terá uma linha do metrô, o que teremos de fato, de verdadeiro, é um ramal do monotrilho. A diferença de status, de preço, do escambau, entre metrô e monotrilho, é a mesma entre uma Ferrari e um Golzinho. Quando se anuncia que teremos metrô, não monotrilho, e se anuncia essa barbaridade com frequência, há duas explicações mais prováveis: faz-se o jogo da ganância imobiliária, para enganar trouxas, ou se é puramente ignorante. (...) Monotrilho não tem charme nenhum, por isso se prefere chamá-lo de metrô. Monotrilho é uma mulher mal-ajambrada, uma periguete, por assim dizer. Incomoda porque agride o visual e a audição. (...) Fosse esse País algo minimamente sério e o consumidor de informação, assim como o Direito do Consumo, não fosse tratado como estorvo, há muito providências teriam sido tomadas para evitar que se prolifere o conceito de metrô à linha 18 Bronze quando, de fato, o que teremos se tivermos mesmo, é monotrilho a 15 metros de altura, sobre uma estrutura de cimento armado que lembra sim um minhocão mais estreito e muito mais comprido. Os maledicentes fálicos são capazes de inventar um nome popular para o monotrilho. Aliás, não sei como já não inventaram, porque brasileiro faz anedota de desgraça, como não faria de algo tão explícito? Lombrigão não seria uma má pedida, convenhamos. Estão querendo nos vender uma bugiganga útil, mas bugiganga, como se fosse um produto de marca, de primeira linha.
Em apuros, mercado imobiliário
quer vender fetiche do monotrilho
DANIEL LIMA - 06/03/2014
Os mercadores imobiliários e também os empreendedores sérios do setor imobiliário observam com máxima atenção o traçado do anunciado monotrilho que o governo do Estado promete para a Província do Grande ABC. Acreditam que podem tirar o pé do lodo nestes tempos de bolhas mais que explícitas (...) explorando o suposto filé que cortará a geografia de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Aliás, insistem em chamar de metrô o trambolho visual e urbanístico do monotrilho. Tudo em nome da rentabilidade dos negócios num regime de capitalismo contaminado demais pelo intervencionismo dissimulado do Estado em forma de corrupção. Seria o monotrilho da Província do Grande ABC tudo isso que lobistas e mercadores imobiliários, principalmente, começam a divulgar num processo de convencimento, para não dizer de entorpecimento? Como cantei a bola mais que certeira de que o trecho sul do Rodoanel, que tangencia a Província, não seria a Brastemp tão decantada pelos ufanistas de plantão (vejamos os números do crescimento raquítico da Província mesmo durante o período de ouro da indústria automotiva e comparem com o que se deu na Grande Osasco) tenho sérias preocupações de que o resultado com o monotrilho será igualmente pífio. (...). Tenho sérias dúvidas sobre o cumprimento da cronologia de implantação do monotrilho na Província, mas que um dia vamos ter algo que vendem como metrô porque sempre há trouxas para acreditar que metrô e monotrilho são a mesma coisa, disso não tenho dúvida. Estamos atrasadíssimos em relação à pífia infraestrutura de transporte público da Capital tão próxima, cuja rede de metrô de verdade é acanhadíssima entre outros motivos porque gestores públicos ao longo de décadas desprezaram completamente as vicissitudes da massa de trabalhadores.
Uma boa notícia: monotrilho vai
demorar para chegar à Província
DANIEL LIMA - 16/05/2014
A Folha de S. Paulo desta sexta-feira traz uma ótima notícia para quem entende que a Província do Grande ABC não pode ser tratada como espaço de terceira categoria pelo governo do Estado e também pelo governo Federal: o trambolho do monotrilho, que especuladores imobiliários chamam de metrô para promover golpe contra a economia popular, o trambolho do monotrilho terá de passar por nova licitação, porque a primeira tem fortes indícios de maracutaia. Isso quer dizer que o cronograma da obra, por si só duvidoso como tudo que envolve governos, sofrerá atraso. Nada melhor. Quem sabe, aproveitando a ocasião, que também faz a razão, gestores públicos da região não caiam do andaime da simplicidade obtusa e decidam, em paralelo, contratar especialistas para, finalmente, desenharem o desenvolvimento econômico de que tanto precisamos? De que adiantará a inserção do monotrilho na geografia regional senão a novas evasões, agora de mais cabeças, troncos e membros, se não oferecermos à sociedade a contrapartida de empregos de qualidade muito acima dos call-centers que inflam as estatísticas, mas pouco acrescentam à mobilidade social já entorpecida? (...). Pois não é que a Folha de S. Paulo de hoje diz que o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, entre outras contraposições à obra, faz referências aos impactos urbanos causados pela modalidade, remetendo-os aos infortúnios do minhocão, na área central da Capital? Quando escrevi neste espaço que o monotrilho é um minhocão gigantesco e mais estreito, espécie de Lombrigão, disseram que exagerei.
Estudo confirma que monotrilho é
ameaça real a comerciantes locais
DANIEL LIMA - 27/11/2014
Quando escrevi, neste ano, que o monotrilho (indevidamente chamado de metrô) previsto para a Província do Grande ABC poderia se transformar em novo complicador econômico, como o frustrante trecho sul do Rodoanel, porque nos retiraria mais mão de obra e riqueza, acharam que estava louco. Pois agora um estudo da Universidade Metodista de São Paulo, encomendado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, revela que mais vale a crítica ajuizada, ácida e irreverente que o ufanismo inconsequente. A chamada Linha 18-Bronze, que vai ligar São Bernardo à Estação Tamanduateí, passando por territórios de Santo André e São Caetano, deverá mesmo provocar muitos estragos. O comércio regional deverá perder milhares de consumidores que se deslocarão à Capital, sobretudo aos endereços de comércio mais popular, casos da Rua 25 de Março. O estudo da Metodista diz que 65% dos consumidores entrevistados afirmaram que, após a liberação do monotrilho, pretendem ampliar a frequência de compras na Capital. Em contraposição, como se vivessem numa redoma ou porque são mesmo movidos à esperança típica de torcida organizada, embora desorganizados como categoria, os comerciantes entrevistados acreditam que vão atrair consumidores da Capital. Eles caíram na ladainha mentirosa dos trombeteadores que enxergam soluções mágicas para a região, soluções de combustão automática só porque um novo traçado de transporte, agora na forma de monotrilho, invadirá nossa territorialidade. (...) A iniciativa da parceria entre Agência e Metodista já revelou um fato consumado envolvendo comerciantes da região, provocado pela chegada do monotrilho na Estação Tamanduateí. Descobriu-se que os comerciantes de São Caetano reclamam dos estragos causados pela chamada de Linha Verde. Após a inauguração da Estação Tamanduateí, em 2010, o rombo em forma de deslocamento de consumidores á Capital chegou a 40%. (...) Já para Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, não há caminho diverso senão a preparação de um ambiente de maior competição, com mais possibilidades para o consumidor. “Será preciso oferecer estrutura e diversidade de produtos que façam frente a essa nova realidade, na medida em que tiver maior integração dos mercados e maior fluxo de mobilidade” – afirmou.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!