Com 77 anos completados em abril e mais de meio século de carreira, Luiz Sacilotto talvez não imaginasse receber tantas homenagens da cidade natal Santo André, que poucas vezes lhe fez referência e onde muitos o desconhecem. Um dos pioneiros do concretismo brasileiro e ícone da geração, Sacilotto finalmente tem sua obra exposta de forma ampla, para que o público saiba quem é. Nascido em Santo André e morador fiel da cidade, o artista se declara contente em receber, mesmo que tardias, as homenagens do Município. Há dois anos começou a experimentar o reconhecimento, ao ser homenageado por LivreMercado como Empreendedor Cultural do Prêmio Desempenho e ter colocadas no piso da Oliveira Lima réplicas em cerâmicas de seus geométricos. Na época o artista até brincou com a idéia de que iriam pisar em suas obras, mas ao menos iriam conhecê-las. No mês passado Sacilotto viu sua história exposta no mesmo endereço, só que de forma mais adequada. Banners com suas obras concretistas foram penduradas na moderna cobertura de poliuretano, além de banners espalhados pela rua onde mora, a Senador Flaquer. A Prefeitura de Santo André sabiamente aproveitou o trabalho do prata da casa. O público pôde admirar a beleza artística do trabalho desenvolvido por Sacilotto desde 1950. Muitos não sabem o valor e a importância histórica do que viram, mas certamente reconheceram o talento do artista. Algumas esculturas também podem ser encontradas pela cidade. Uma na Avenida IV Centenário e outra na entrada do Calçadão da Oliveira Lima.
A felicidade do artista não é a toa. Em abril ganhou um presente e tanto -- o livro Sacilotto, obra do crítico de arte Enock Sacramento, que também assina texto com escritores como Mario Pedrosa, Haroldo de Campos e Aracy Amaral, entre outros observadores da história do artista. A publicação traz 230 ilustrações e, como o próprio autor afirma, as 120 páginas ficaram curtas para tanta informação. A obra custa R$ 70 é a primeira publicação da história do pintor. Certamente terá espaço na cabeceira de apreciadores culturais que pretendem entender um pouco mais a influência de Sacilotto no concretismo nacional.
Selando de vez o talento do artista de Santo André, a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) concedeu-lhe o título de Artista do Ano. O reconhecimento nacional é um soco no estômago do desconhecimento regional. Eram de longa data as críticas de Sacilotto ao desinteresse do público do Grande ABC. "Não é a arte que está longe do público, mas o povo da região que não se interessa por produções e exposições artísticas e culturais" -- critica. Para ele, é por isso que não se formam vitrines capazes de iluminar nomes fora das grandes capitais.
Sacilotto começou a pintar aos 18 anos, estudou na Associação Paulista de Belas Artes e no decorrer da carreira recebeu distinções como o Prêmio Governador do Estado em pintura, em 1952, e em escultura, em 1956. Ao lado de artistas como Waldemar Cordeiro e Lothar Charoux, foi um dos fundadores do movimento concretista nacional, com o lançamento do grupo Ruptura e exposição no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Espelhava-se em artistas como Max Bill e Piet Mondrian, que desenvolveram a arte concreta na Europa. A obra de Sacilotto ganhou reconhecimento comercial há cerca de 20 anos, quando o crítico e psiquiatra Theon Spanudiso escreveu sobre uma de suas exposições.
O artista também encabeçou algumas mostras internacionais na Itália, França, Inglaterra e Holanda. Ao longo da carreira, Luiz Sacilotto nunca procurou sucesso financeiro e prova disso é que nunca levou uma vida de ostentações. Considera um banho de cultura a viagem em que passou pelas cidades de Paris, Londres, Lisboa, Roma, Venezuela e Florença, em 1978. Um derrame em 1994 paralisou-lhe a mão esquerda no auge da carreira. O artista produzia cerca de cinco a seis desenhos em uma noite e passou a levar três semanas para produzir apenas uma.
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!