Sociedade

Pesquisa diz que Celso Daniel
é o melhor. Quem tem dúvida?

DANIEL LIMA - 30/04/2019

Os conservadores tomados pelo ódio ideológico e também pela intolerância partidária detestam ler uma verdade irrefutável sobre Celso Daniel: ele foi o melhor homem público com que o Grande ABC já contou. Por isso, a pesquisa que acaba de ser anunciada pelo Instituto ABC Dados, com 500 entrevistados, colocando o petista como o melhor prefeito da história de Santo André, é uma barbada. Os demais comem poeira.

Celso Daniel não foi jamais o gestor indelevelmente sem pecados que o Ministério Público de Santo André santificou numa primeira versão na ânsia de criminalizar o PT e, particularmente, um inocente chamado Sérgio Gomes da Silva.

O MP fez de tudo para tentar transformar em crime administrativo o que não ultrapassou a linha divisória de crime ocasional como, aliás, assim definiu em três investigações sucessivas a força-tarefa da Polícia Civil do Estado de São Paulo, sob o governo tucano de Geraldo Alckmin.

Erros cometidos

Celso Daniel também cometeu erros administrativos, como a suspensão de pagamento da Sabesp, inconformado com os custos da água contratada pelo Semasa, autarquia do setor de saneamento. Um equívoco que sucessores não fizeram nada para corrigir.  Houve também desatenção ao deixar correr além da conta um aumento que seria circunstancial ao funcionalismo público e que acabou virando estrutural, com enxurrada de precatórios.

Entretanto, perto dos medíocres que o antecederam e o sucederam, Celso Daniel estava anos-luz à frente do próprio tempo. Pretender demonizá-lo por equívocos que são fichinhas perto do que se viu antes e depois não só na Administração de Santo André, mas do Grande ABC como um todo, é superestimar o simples.

Entendam “medíocres” no parágrafo anterior exatamente como doutrina o léxico: foram prefeitos que não fizeram nada mais que o trivial, e o trivial significa seguir comodamente a linha do tempo entre a chegada e a despedida do cargo máximo do Executivo em Santo André.

Não foram ousados. Não foram reformistas. Não foram coletivistas. Não foram nada do que Celso Daniel foi em abundância – ou seja, capazes de entender que o tempo é um compromisso marcado com a posteridade somente para aqueles que têm projetos e ambições que se perpetuariam na sociedade.

Os legados de Celso Daniel seguem vivos, apesar da incompetência generalizada daqueles que, caso do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Regional, apenas preencheram o vazio com novos vazios.  

Mais emoção que razão

O resultado da pesquisa do Instituto ABC Dados é impressionante. Acho cá com meus botões, entretanto, que os moradores de Santo André não têm a noção exata do que representou Celso Daniel para o Município e para a região como um todo.

Chegar a 70% das indicações é um exagero. Não que Celso Daniel não mereça o placar avassalador. É que pouca gente compreende criticamente o que ele foi como gestor público, inclusive além das fronteiras de Santo André. Se soubessem, o resultado teria sido outro tanto nos números do Instituto ABC Dados como à própria institucionalidade municipal e regional, em pandarecos desde que ele se foi.

Diria que os números do Instituto ABC Dados seriam muito mais expressivos ainda ou teriam essa mesma robustez, mas por motivos mais consistentes, administrativos do que emocionais.

Peso do assassinato

Acho que pesou na balança do massacre do resultado da pesquisa a divinização de Celso Daniel na esteira do assassinato em janeiro de 2002. Em circunstâncias normais de vida e obra completa, o que pesaria mesmo seria o apetrechamento intelectual e operacional de Celso Daniel.

Lamentavelmente, diria que não fosse a forma covarde com que foi abatido – e a repercussão internacional decorrente disso – a maioria que o elegeu nessa pesquisa do Instituto ABCD não o teria elegido mesmo que ele continuasse entre nós. Até porque, convenhamos, se existe uma máquina que tratou de triturar reputações políticas no País, essa máquina chama-se Partido dos Trabalhadores.

Sem especular feito Deus, mas seguindo a lógica dos acontecimentos que levaram o presidente Lula da Silva para a cadeia, entre tantos políticos enjaulados, possivelmente Celso Daniel estaria entre eles. A maquinaria petista não era muito diferente da maquinaria de outros partidos quanto ao conceito de desvios de dinheiro público. Apenas fora mais organizada e eficiente.

Proximidade distante

Quem mais se aproximou de Celso Daniel no resultado da pesquisa (aproximou é força de expressão, claro) foi o triprefeito Newton Brandão. Oito por cento dos entrevistados optaram pelo petebista que governou Santo André por 14 anos, 10 dos quais no período mais fértil de receitas, quando Santo André era um mar de dinheiro público como subproduto de uma industrialização até então resistente. Nos anos 1970, então, mais de 50% dos valores eram destinados a investimentos na infraestrutura física. Hoje não chega a 10%.

Os demais listados pelo Instituto ABCD Dados são os sucessores de Celso Daniel: Paulinho Serra obteve 6% das indicações, Aidan Ravin 6%, João Avamileno 2% e Carlos Grana 1%. O que dizer sobre isso? Que todos eles, exceto Paulinho Serra, carregam a Síndrome do Mandato Único. Ou seja: não se reelegeram. Nem João Avamileno, porque só ocupou a prefeitura em mandato tampão pós-morte de Celso Daniel, na condição de vice-prefeito, e passou raspando quando foi submetido ao eleitorado na condição de pretende ao posto.

Tempos complicados

Não acredito que alguém nos próximos tempos alcançará a graça de quebrar o favoritismo de Celso Daniel em qualquer pesquisa séria que pretenda tomar o pulso da população nesse sentido. Novas gerações virão, novas constatações poderão ser aferidas, mas a imagem de Celso Daniel, até mesmo ou principalmente por causa do assassinato, seguirá flutuando acima do bem e do mal. Do bem porque ele terá sempre sido melhor do que a canonização o enseja. Do mal porque os antecessores e sucessores não chegarão a seus pés entre outros motivos porque os novos tempos de redes sociais não perdoam a menor falha. Quanto mais, grandes falhas administrativas.



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