Sociedade

Mauá e Diadema reagem
e mudam história criminal

ANDRE MARCEL DE LIMA e VERA GUAZZELLI - 05/08/2003

Duramente castigado na última década pela insidiosa combinação de emprego em baixa e violência em alta, o Grande ABC está saindo da zona da insustentabilidade social. Depois de cinco anos seguidos de números com quatro dígitos, desde 2001 a região vem conseguindo reduzir o volume de homicídios para menos de mil corpos. Palmas principalmente para Mauá e Diadema, territórios periféricos da centralidade de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Com ações integradas entre polícia, prefeitura e comunidade, Diadema e Mauá estão conseguindo desvencilhar-se das algemas do voyerismo atônito de simplesmente acompanhar a rota da criminalidade. Reagiram e baixaram a incidência de homicídios, tipo de crime que exprime com mais contundência o grau de qualidade de vida ou de deterioração de uma comunidade. 

Os números de homicídios em Mauá e Diadema, tanto quanto os do Grande ABC, estão longe do ideal para uma região que fez fama pelo caminho saudável da economia efervescente. Entretanto, parece sob controle a ameaça de que o Grande ABC poderia ser uma réplica paulista da Baixada Fluminense sem tradição industrial. 

O balanço dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso é desastroso à economia regional, que perdeu 39% do PIB industrial, e igualmente preocupante na esfera criminal: 8.102 pessoas foram assassinadas no período. Uma fábrica inteira da General Motors do Brasil virou estatística de criminalidade do Grande ABC num período em que 85 mil empregos industriais com carteira assinada viraram pó. 

Com 30% da população regional de 2,3 milhões de habitantes, Diadema e Mauá concentraram 43% dos assassinatos. São, sem retoques, provas acabadas de que a periferização do Grande ABC esgarça o tecido social. Só nos últimos quatro anos -- de 1999 a 2002 -- 1.783 pessoas foram assassinadas em Mauá e em Diadema, contra 2.393 nos outros cinco municípios. 

A reação de Diadema -- até então recordista na contabilidade de cadáveres no Estado de São Paulo, na clássica contabilidade que divide o número de casos para cada 100 mil habitantes -- incentivou Mauá a seguir a trilha do que poderia ser chamado de capital social de âmbito seletivamente criminal. Por isso, a queda dos homicídios não é um truque. Ocorre efetivamente na prática. Nem mesmo a desconfiança de que o governo do Estado esconde algumas centenas de cadáveres das estatísticas paulistas atinge o núcleo de uma nova realidade de recuo da onda de criminalidade fatal. 

Entretanto, mesmo com os avanços das ações policiais no Grande ABC, especialmente em Mauá e em Diadema, a região está distante demais do padrão desejado. Morrer no Grande ABC ainda é mais que um simples verbete. É espécie de fatalidade precoce que pode abater qualquer um quando se confrontam estatísticas. Nova York tem 7,5 milhões de habitantes e, como resultado de políticas públicas que se consagraram com o mote Tolerância Zero, rebaixou o índice de criminalidade para menos de 600 casos no ano passado. Com população três vezes menor, o Grande ABC contou 867 cadáveres no mesmo período, depois de uma sequência de numerais semelhantes a partir de 1997, com 1.115, 1.119, 1.211 e 1.149 casos até o ano 2000, até baixar para 949 em 2001.  


De frente -- O êxito de Diadema no combate à criminalidade fornece duas grandes lições ao Grande ABC ávido por alternativas de recuperação socioeconômica. A primeira é a necessidade de reconhecer e enfrentar os problemas -- por mais complexos e desagradáveis que se apresentem. Foi exatamente o que fez a cidade que divide fronteiras com São Bernardo e a zona sul de São Paulo. 

Depois de atingir índices recordes de homicídios e bater no fundo do poço com a repercussão internacional do escândalo da Favela Naval, em 1997, Diadema se deu conta de que precisava mobilizar sociedade, poder público e autoridades policiais. O Município de 363 mil moradores aplicou na seara criminal o ambiente de tensão regenerativa preconizado por Michael Porter, especialista norte-americano em competitividade para o qual regiões economicamente decadentes só melhoram quando tomam consciência da gravidade da situação. Outra lição de ouro estampada em Diadema é a viabilidade de colher resultados com ações basicamente locais. A cidade pavimentou a estrada da segurança com argamassa de soluções tomadas no próprio território sem, entretanto, abrir mão de parceiros importantes. 

Quando Diadema ultrapassou a marca anual de 100 mortes violentas por grupo de 100 mil habitantes, soou o alerta vermelho. O combate à criminalidade até então relegado a segundo plano tornou-se prioritário. A Prefeitura finalmente criou uma Guarda Municipal, a Polícia Militar instalou bases comunitárias em áreas perigosas e a Polícia Civil ganhou estrutura à altura dos desafios com a inauguração da Delegacia Seccional em novembro de 1999 -- antes, subordinava-se à seccional de São Bernardo. "Depois do episódio da Favela Naval, mudou o entendimento em relação a Diadema. A cidade, considerada espécie de castigo para os efetivos, passou a receber pessoal recém-ingresso e com vontade de trabalhar através de novos concursos da polícia. O governo se preocupou em dotar Diadema de estrutura para que pudesse reverter o quadro" -- explica o delegado Reinaldo Corrêa, que chefiou a seccional entre dezembro de 1999 e dezembro de 2002, período em que os indicadores de criminalidade despencaram. 

A quantidade de homicídios dolosos (intencionais) foi reduzida de 348 em 1999 para 269 em 2000, 238 em 2001 e 199 em 2002. A soma de roubos e furtos de veículos também caiu ano a ano. Foram registradas 3.527 ocorrências em 1999, 3.482 em 2000, 2.930 em 2001 e 2.475 em 2002. 

Reinaldo Corrêa explicita a mudança com vários indicadores. A quantidade de funcionários na Polícia Civil foi ampliada de 140 para 270, tomando-se como referência os momentos em que assumiu e deixou o posto para chefiar a seccional de Santo Amaro, em janeiro de 2003. "Diadema teve praticamente dobrado o volume de funcionários entre delegados, investigadores, escrivães, carcereiros e agentes policiais" -- conta. A estrutura da Policial Civil também ganhou corpo com criação de um setor de investigações gerais e outro de homicídios, que passou a centralizar apurações então pulverizadas nas delegacias.  

Tão importante quanto os reforços humanos e materiais foi a nova filosofia de trabalho de inteligência policial. "Como a seccional era recém-instalada, não dispunha de dados. Ninguém sabia por quê e como as pessoas morriam. Por isso, a primeira preocupação foi levantar informações que permitissem compreender as características da criminalidade. Era necessário descobrir as motivações por trás dos crimes para estabelecer base de dados sobre os quais pudéssemos trabalhar" -- explica Reinaldo Corrêa.

A polícia contou com suporte providencial do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, que atuou como consultoria especializada e reforçou a equipe de recursos humanos para pesquisa. A aliança teve respaldo financeiro do Bird (Banco Mundial).


Motivos banais -- "Diadema servia de laboratório perfeito para o Banco Mundial e se tornou o caso brasileiro mais bem-sucedido de combate à criminalidade. Em nenhum outro Município o indicador de homicídios caiu tanto" -- afirma José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva e consultor do Instituto Fernand Braudel. A taxa anual de homicídios dolosos por grupo de 100 mil habitantes, normalmente utilizada como referência, foi reduzida de 100 em 1999 para 75,5 em 2000, 65,1 em 2001 e 53,1 em 2002. "O número ainda é alto, mas representa praticamente a metade de três anos antes" -- afirma.

A radiografia da criminalidade preparada pelo Instituto Fernand Braudel revelou uma Diadema surpreendente. Imaginava-se que a maior parte dos crimes relacionava-se ao narcotráfico, mas as informações colhidas de testemunhas, conhecidos das vítimas e indiciados apontaram caminho muito diferente: a maior parte dos crimes era cometida por motivos banais. "Chegamos à conclusão de que em Diadema se matava por nada: 80% dos homicídios aconteciam por causas esdrúxulas, passionais, emocionais. E 60% eram praticados à noite e de madrugada, no interior ou nas proximidades de bares. Apenas 20% envolviam drogas" -- explica o delegado Reinaldo Corrêa. Entre as causas típicas dos homicídios destacavam-se a negativa de um copo de cerveja, uma pisada involuntária no pé de alguém e divergências sobre futebol. Até olhar para mulher acompanhada era motivo para aumentar as estatísticas de criminalidade.

De posse dos dados, a primeira atitude da polícia foi se aproximar do Poder Público a fim de cortar o mal pela raiz. "Buscamos apoio da Prefeitura e da Câmara para implementação de lei que proibisse a abertura de bares após as 23h, período noturno crítico" -- lembra Reinaldo Corrêa. Enquanto a reivindicação não era atendida -- a chamada Lei Seca só entrou em vigor em julho de 2002 -- as autoridades policiais implementaram estratégias de prevenção diretamente nos focos de tensão. Para tanto, os comandos da Polícia Civil e Polícia Militar deixaram eventuais disputas de lado e passaram a atuar em conjunto. 

"Passamos a dirigir o efetivo das duas polícias para os locais onde os crimes aconteciam com mais frequência. Fazíamos blitz durante a noite e de madrugada em danceterias, forrós e bares. Uma ação voltada, principalmente, para apreender armas" -- recorda o delegado Reinaldo Corrêa. O entrosamento entre as polícias civil e militar se dava de forma estratégica e complementar. "Muitas vezes não havia necessidade de as duas corporações estarem no mesmo local. Então, uma força alertava a outra para que não houvesse sobreposição de efetivo".

O desarmamento refletiu na tipologia e na redução dos crimes. "Quando cheguei a Diadema estranhei o fato de a maioria dos crimes ser praticada com mais de 10 tiros. Entre os policiais até brincávamos dizendo que a munição era barata. Em 2000 praticamente todos os homicídios eram cometidos com arma de fogo. Em 2002 passamos a registrar vários casos de morte por paulada e facada. Pouco a pouco conseguimos desarmar a população" -- lembra o delegado Reinaldo Corrêa.

Com 30 anos de polícia, dos quais 22 como delegado em várias regiões do Estado, Reinaldo Corrêa explica a natureza da criminalidade em Diadema por meio de abordagem comportamental e cultural. O aspecto comportamental diz respeito ao portão de desgraças escancarado por bebidas alcoólicas principalmente quando consumidas num contexto social marcado por exclusão, pobreza, frustrações e falta de perspectivas. "Para uma pessoa alcoolizada, qualquer ato pode ser o estopim para um soco, um tapa ou, se estiver armado, para uma série de tiros que podem atingir várias pessoas. Além disso, a bebida torna as pessoas chatas, provocativas e potenciais vítimas de homicídio. Acompanhei vários casos em que a vítima provocou a própria morte. Perturbou tantas pessoas que achou uma de pavio curto que acabou dando-lhe fim. O bêbado inconveniente ainda pode se tornar vítima de furto, de roubo, de lesão corporal e até de homicídio culposo quando entra numa via pública e é atropelado por um carro. A bebida faz autores e vítimas de vários crimes. De cada 10 barracos nas favelas, dois são botecos, onde o que mais existe são bebidas pesadas como pinga e conhaque da pior qualidade" -- explica o delegado.      

O aspecto cultural é outro desafio permanente. "Cerca de 70% da população de Diadema têm origem nos Estados do Nordeste. E parte do povo nordestino não está acostumada a procurar a Justiça ou a polícia. Prefere resolver por conta própria. Dar um tapa na cara, duvidar da masculinidade ou xingar são razões para matar com o objeto que estiver ao alcance -- pedaço de pau, de ferro ou arma de fogo" -- observa o delegado. 

O coronel e consultor José Vicente da Silva ressalta outro fruto importante da recuperação criminal em Diadema: a disposição das autoridades em transformar a sociedade em coadjuvante. "Além de se reportarem aos superiores, como de praxe, o delegado da Polícia Civil e o comandante da Polícia Militar passaram a prestar contas ao povo ao participarem de reuniões promovidas por líderes comunitários". Reinaldo Corrêa explica outro aspecto da importância dessa aproximação: "Muito do trabalho da polícia depende de informações da população. Se não há mútua confiança, o crime acontece e eventuais testemunhas não se pronunciam com medo de represálias. Ao participar dos encontros comunitários, procuramos deixar claro que as pessoas podem contar com a polícia. Crime se combate com inteligência e a participação popular é fundamental" -- observa.

A Lei Seca de Diadema completou um ano em julho último. O balanço dos 12 meses de restrição alcoólica aponta que os homicídios caíram 22,26% em relação aos 12 meses anteriores. Foram 247 homicídios entre 15 de julho de 2001 e 15 de julho de 2002, contra 192 no primeiro ano da Lei Seca. No mesmo período os roubos de veículos caíram 8,94%, de 1.543 para 1.405, os roubos de veículo e carga baixaram 28,81%, de 59 para 42, os casos de extorsão mediante sequestro foram reduzidos em 11,76%, de 17 para 15, mas foi registrado aumento em várias outras modalidades no período de vigência da Lei Seca: a quantidade de roubos subiu de 2.327 para 2.678, ou 15,08%, a de roubo de cargas aumentou de 15 para 37, ou 146,67%, o de furtos subiu de 2.394 para 2.895, ou 20,95%, e os furtos de veículo saltaram de 968 para 1.128, ou 16,52%. Os casos de prisão por tráfico de drogas aumentaram de 72 para 132, ou 83,33%. Isso significa que, aparentemente, os crimes de bar foram contidos.      


Mauá legal -- No melhor estilo Nova York contra o crime, também Mauá transforma inteligência, integração, criatividade e vontade política em armas de alcance considerável para combater a violência. Mesmo sem ter alcançado resultados que permitam ombrear-se à Tolerância Zero que aliviou a cidade americana da delinquência, há motivos para comemorar. O primeiro aparece nas estatísticas oficiais que apontam redução de 47% nos homicídios de janeiro a junho deste ano em relação a 2002. O segundo motivo está na constatação de que, quando autoridades e governantes estão dispostos a trabalhar em conjunto, fica mais fácil encontrar a luz no fim do túnel. 

Seria prematuro afirmar que Mauá já é uma cidade segura para seus 357 mil habitantes. A redução do índice de mortes não pode ser analisada apenas sob o pragmatismo dos números. Vidas humanas não têm preço e poupá-las assume valor ainda mais imponderável dentro do contexto de limitações orçamentárias que envolve tanto os cofres públicos quanto as polícias civil e militar.  Sem vultosas verbas municipais ou estaduais para aplicar em grandes planos de segurança pública, Mauá resolveu arregaçar as mangas e, literalmente, usar a cabeça. 

O número de homicídios caiu de 88 casos nos seis primeiros meses de 2002 para 46 assassinatos no mesmo período deste ano porque a cidade parou de atirar para todos os lados e passou a contar com informação em tempo quase real. Desde o começo do ano, a Delegacia de Polícia criou banco de dados próprio para compilar os boletins de ocorrência. Com a iniciativa, passou a conhecer, em dois ou três dias, locais e horários de maior incidência dos crimes e a comandar ações localizadas. Antes, os boletins eram mensais e não permitiam que as informações fossem utilizadas just in time para subsidiar as ações preventivas e repressivas.

"O diagnóstico rápido e correto é essencial no combate à criminalidade. É como uma doença grave. Quanto antes se descobre, maiores as probabilidades de cura" -- compara o delegado titular Américo dos Santos Neto. Ele chegou em dezembro do ano passado e espantou-se com o número de crimes de morte que encontrou sobre a mesa de trabalho. Um choque mesmo para quem trabalhou nove anos no DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de São Paulo. Em 2002 foram 180 homicídios dolosos, ou 47,46 por grupo de 100 mil habitantes. Apesar do índice ter decrescido 2,17% em relação a 2001, a média de 15 assassinatos por mês assustou o profissional acostumado a lidar com casos complicados como o da máfia dos fiscais da Prefeitura de São Paulo.

Se a questão for puramente estatística ou metodológica, Mauá está fora da zona de perigo com méritos. Dos 46 assassinatos ocorridos desde o início de 2003, pelo menos 45% estão esclarecidos.  O índice está próximo da média de 50% registrada pelo próprio DHPP em São Paulo e reflete a importância do serviço de inteligência. O expediente que tem ajudado Mauá a combater o crime é espécie de Infocrim localizado e antecipa-se ao programa de tabulação de dados que a Secretaria de Segurança Pública pretende adotar para colocar todas as delegacias do Estado em rede de computadores.

"O crime de homicídios requer repressão diária" -- entende o delegado que mapeia as áreas de potencial risco antes de organizar as rondas que saem à caça da bandidagem. Parece simples, mas o crime não tem a racionalidade cartesiana dos horários e locais explicitados nos boletins de ocorrência. Por isso, informações em tempo real são imprescindíveis para agilizar a investigação e capturar matadores ou desbaratar quadrilhas. O delegado Américo dos Santos Neto considera que a produtividade do primeiro semestre já corresponde a um ano de trabalho em condições normais, ou seja, sem a ferramenta da compilação diária de dados.  

Mauá também conseguiu reduzir o número de homicídios porque contou com os benefícios da lei que proíbe a abertura dos bares entre 23h e 6h. A lei fecha-bar, como é conhecida na cidade, está em vigor desde 3 de julho de 2002. A exemplo de Diadema, a limitação do horário de funcionamento dos bares foi fundamental para evitar crimes motivados por discussões banais iniciadas nos balcões. Mauá não chegou a fazer estudo detalhado como Diadema sobre a quantidade de crimes nas proximidades desses estabelecimentos. Mas basta atentar para o horário das ocorrências nos boletins anteriores à lei para concluir que o diagnóstico seria semelhante. A combinação de ócio com bebida alcoólica é explosiva, principalmente em um Município onde a renda per capita não ultrapassa dois salários mínimos e 80% da população vivem na periferia sem alternativas de lazer e cultura. Dos crimes solucionados até agora, segundo o delegado, pelo menos metade foi associada a causas banais.


Fecha-bar -- O fecha-bar integra o projeto Mauá Legal que a Prefeitura formatou em 2001 para colocar ordem na casa. A primeira parte foi composta por conjunto de leis que abrangeu desde a modernização do uso do solo até a proibição da abertura de bares a 300 metros de escolas. Com as medidas legais efetivadas, a Prefeitura reforçou o poder de polícia administrativa e pôde buscar ajuda das Polícias Civil e Militar nas questões de segurança pública. "Nossa proposta de integração foi encampada e entendida pelas polícias e as blitze agora são conjuntas" -- festeja o secretário de Cidadania e Segurança Comunitária, Antonio Pedro Lovato. "Polícia na rua realmente faz diferença" -- endossa o delegado Américo dos Santos Neto.

"Sempre houve a disposição de conversar. Mas o entrosamento dos últimos dois anos tem sido fundamental para os resultados positivos" -- reforça o capitão da Polícia Militar Paulo Barthasar Júnior. Barthasar é morador de Mauá desde 1969 e compara a sinergia formada entre a Prefeitura e as polícias à gestão empresarial que otimiza os recursos disponíveis e procura fazer o melhor com o que se tem em caixa. Exemplo desse entendimento é a força-tarefa que reúne guardas municipais, fiscais da Prefeitura, policiais civis e militares e até conselheiros tutelares na fiscalização diária dos bares. Cada um tem papel definido, mas a presença maciça garante rapidez e maior eficiência à ação. Se o conselheiro tutelar detecta venda de bebida alcoólica para menores, os policiais já estão a seu lado para autuar. O ritual se repete caso o guarda municipal, que não tem poder de polícia, flagra delito ou porte ilegal de arma. 

O secretário Antonio Pedro Lovato garante que as blitze intensivas chegam a todas as áreas geográficas da cidade e que até agora o poder constituído não foi barrado por nenhum comando criminoso. Recentemente uma viatura da PM que fazia ronda de rotina no final do Jardim Zaíra, em área geograficamente sinuosa na divisa do bairro com São Paulo, foi recebida a tiros. Em resposta à calorosa recepção, a PM ocupou a área por 10 dias ininterruptamente. A iniciativa foi fundamental para impor respeito e principalmente conquistar a confiança de moradores amedrontados com a ação dos bandidos. Durante o período de ocupação os guardas desenvolveram trabalho de aproximação com a comunidade, visitaram residências e distribuíram dois mil cartões institucionais com telefones para contato e denúncias anônimas. Resultado: em maio foram realizados dois flagrantes de roubo de carga na área. A Polícia Militar de Mauá acaba de concluir curso específico de conduta de patrulha em local de alto risco. As aulas no COE (Comando de Operações Especiais) envolveram 14 integrantes da PM.

O capitão Paulo Barthasar Júnior decidiu disponibilizar números de telefones para denúncias anônimas porque considera fundamental contar com a colaboração dos moradores.  Estatísticas recentes apontam que pouco mais de 35% dos delitos são notificados oficialmente, basicamente porque os moradores não querem se envolver ou não acreditam na ação da polícia. Nesse contexto de medo e descrédito, perdem-se informações preciosas que tornariam ainda mais real o mapeamento das ações dos bandidos. A PM de Mauá já realizou seis flagrantes em 2003 com base em denúncias anônimas. Os números refletem o auxílio comunitário e ajudam a reforçar o policiamento preventivo que flagrou 257 delitos e apreendeu 154 armas em 2002. Todo mês a PM reúne-se com a comunidade para cumprir a agenda do Conseg (Conselho de Segurança).  Mas basta a solicitação de qualquer morador, comerciante ou empresário para que outros encontros sejam promovidos fora das datas oficiais.


Posto integrado -- A Prefeitura de Mauá está prestes a inaugurar os Postos Integrados de Segurança, que prometem a presença de um guarda municipal, um policial militar e uma ambulância com enfermeiro para prestar pequenos socorros a vítimas de acidentes e assaltos. No local também será possível preencher Boletim de Ocorrência por meio de Internet, o que ajudará a descentralizar o atendimento da delegacia e dos distritos. A primeira unidade com construção totalmente blindada será instalada nas proximidades do Mauá Plaza Shopping. Outras três estão programadas para Sertãozinho, Capuava e Jardim Sônia Maria e mais três sugeridas para Jardim Paranavaí, Guapituba e Bairro Feital.

Todos esses pontos demarcam a área central e bairros limítrofes geralmente utilizados como rota de fuga de assaltos por darem acesso rápido a Santo André, São Bernardo e à zona leste de São Paulo. A estratégia de vigiar fronteiras municipais tem o objetivo claro de dificultar a livre circulação de criminosos, principalmente de quadrilhas que roubam carros. Depois da diminuição de mortes, o delegado Américo dos Santos Neto quer concentrar esforços no combate ao furto e roubo de veículos. Mauá foi a quarta cidade no ranking regional desse tipo de delito em 2002. Foram 2.428 ocorrências, contra 11.354 da vizinha Santo André, campeã do Estado por 100 mil habitantes. "Esse tipo de crime ultrapassa fronteiras e como as quadrilhas geralmente trabalham com informações, evitam as áreas policiadas" -- informa o delegado, ao lembrar que duas viaturas da PM já têm marcado presença ostensiva na Avenida João Ramalho, no Parque São Vicente, principal divisa de Mauá com Santo André. "Os crimes patrimoniais são os que mais preocupam a população" -- acredita o capitão Paulo Barthasar. 

Tanto que a Polícia Militar adota ronda ostensiva que fecha a cidade com 15 bloqueios simultâneos em dias de maior circulação de dinheiro. São datas próximas a pagamento e comemorações com apelo comercial.  A operação fecha-bar também é reforçada nesses dias porque as autoridades trabalham com a lógica de que, com dinheiro no bolso, aumenta a frequência aos estabelecimentos que vendem bebida alcoólica. A operação preventiva chega a baixar em 60% o movimento dos distritos policiais durante o período em que a PM está ostensivamente nas ruas. O alívio momentâneo libera as equipes do atendimento burocrático das ocorrências e permite concentrar mais pessoal no trabalho investigativo e na execução das ordens de prisão. 

A Polícia Civil de Mauá conta com 132 homens que fazem também a guarda de presos da cadeia central e a Militar com outros 200.  O número é infinitamente inferior a um policial por 250 habitantes recomendado pela ONU, mas outra ação integrada ameniza um pouco a situação. A Prefeitura paga R$ 400 de pró-labore para policiais militares interessados em utilizar os dias de folga para auxiliar no policiamento de trânsito. A iniciativa automaticamente aumenta o patrulhamento nas ruas -- os PMs trabalham fardados e utilizam as viaturas -- e evita que cabos e soldados recorram a bicos ilegais para aumentar o salário mensal. Total de 96% do efetivo da PM participa do convênio. Já a Guarda Municipal conta com 12 viaturas, 30 motocicletas e 257 homens, que também serão distribuídos em rondas pelos bairros a partir da inauguração dos Postos Integrados de Segurança.

Todo esse reforço do policiamento também reflete nas ações de desenvolvimento econômico. Mauá trouxe 50 novas empresas nos últimos cinco anos e entende que está na hora de incluir a segurança entre os atrativos aos empreendedores.  A Avenida Papa João XXIII é exemplo.  O principal acesso ao Pólo Industrial de Sertãozinho e uma das portas de entrada do planejado trecho sul do Rodoanel já conta com unidade do Corpo de Bombeiros e batalhão da Polícia Militar. Além disso, terá em breve um Posto de Segurança Integrada e o CDP (Centro de Detenção Provisória). Serão quatro marcos institucionais de segurança em pouco mais de quatro quilômetros. Também o Pólo Petroquímico, responsável por 46% da arrecadação de ICMS de Mauá, será beneficiado com os postos integrados de Capuava e do Jardim Sônia Maria.


Tudo às claras -- A ênfase preventiva promete ser reforçada ainda com o monitoramento da área central por meio de 10 câmeras computadorizadas até o final do ano. Cada equipamento tem três quilômetros de raio de alcance e uma das câmeras será instalada num veículo que auxiliará o patrulhamento preventivo nos bairros. A administração pública investe ainda R$ 1,32 milhão na substituição de 9.705 lâmpadas de mercúrio por luminárias a vapor de sódio com duas vezes mais poder de iluminação e 36% menos consumo de energia.  A troca começou pelas avenidas com maior fluxo de veículos e pedestres e vai contemplar os 50% de ruas que ainda não contam com esse tipo de tecnologia. "A iluminação pública é outro importante elemento inibidor do banditismo" -- acredita o prefeito Oswaldo Dias.

Na batalha contra a criminalidade, Mauá espera contar com a concretização de promessas que vão reforçar o efetivo. A expectativa é que nos próximos meses a cidade ganhe uma Delegacia Seccional. A Prefeitura até já alugou prédio na Rua General Osório, no Centro, para receber a Seccional que deverá aportar na cidade com arsenal de 10 viaturas, 20 homens, além do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal. A unidade vai servir também a Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Atualmente os três Municípios encaminham todos os laudos de perícia, exame de corpo delito e autópsias à unidade de Santo André. 

"A Secretaria de Segurança Pública está sensível ao pedido" -- afirma o deputado estadual petista Donisete Braga, um dos articuladores do assunto junto ao governo do Estado. O deputado federal e igualmente petista Wagner Rubinelli endossa o esforço e vai além: integrante da Comissão de Segurança Pública do Congresso, apresentou projeto solicitando delegacia da Polícia Federal para o Grande ABC. Mesmo que a unidade não seja localizada especificamente em Mauá, o parlamentar entende que terá papel fundamental para fechar ainda mais o cerco contra a criminalidade.


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