Somente ignorantes, maledicentes, mal-informados e naturalmente quem não conhece a história de 30ANOS do melhor jornalismo regional do País vincula as críticas mais recentes à cobertura do Jornal Nacional (no caso do demônio do vírus chinês) a qualquer avaliação político-partidária. A questão é única e exclusivamente jornalística. Querem uma prova, como se já não bastassem tantas.?
Neste que é o 12º capítulo da exposição de três décadas de atuação da revista impressa LivreMercado, que se completa desde 2009 com esta revista digital, recuperamos um texto de fevereiro de 2007. Que trata justamente da imprensa nacional. Sem corporativismo.
Um balanço da análise que se segue pode ser resumido da seguinte forma: as tão combatidas redes sociais, que com usos e abusos sempre deixam um rastro de verdade onde a verdade existe, é um fator esclarecedor à atuação destes dias.
A imprensa tradicional precisa se reciclar, mas caiu na esparrela de politizar e ideologizar demais o cotidiano informativo. Uma das categorias responsáveis por isso são os acadêmicos endoidecidos que fazem de colunas de jornais trincheira em defesa de interesses pouco republicanos. Trataremos essa questão em breve. O que interessa agora é reproduzir o texto de 1997. Leiam:
O que a Imprensa poderia
fazer para ajudar o País
DANIEL LIMA - 05/02/1997
A imprensa tem muita responsabilidade nos destinos do País. Se o Brasil é o que é, um Terceiro Mundo com a mais grave das endemias, a disparidade de distribuição de rendas, parcela da conta deve ser debitada aos donos de órgãos de comunicação, sobretudo os mais influentes, e a boa parte de seus profissionais.
Ao longo de décadas forjaram-se mitos que não valem pitadas de fumo. Escolheram-se heróis que não resistem à exumação moral e ética. Lustraram-se caudilhos demagogos e oportunistas. Endeusaram-se supostos líderes que não passaram de embustes. Tudo porque a Imprensa sofre da doença crônica do raquitismo analítico e do imediatismo informativo.
Um imediatismo cuja profundidade do noticiário geralmente não ultrapassa a superficialidade do descarte. Exceto em situações especiais, caso do impeachment de Collor de Mello, originário não de investigação da mídia, mas da denúncia do irmão Pedro, a Imprensa dificilmente associa-se para alterar o rumo dos acontecimentos. É mais fácil praticar o jogo de interesses específicos, de perseguições tolas, de marketing escancarado, de composições estranhas, de incursões empresariais extramídia.
Exatamente porque não prioriza pontos essenciais, ao optar pela pulverização de pequenos esforços, a Imprensa perde a potencialidade de transformações que lhe é inerente.
Passividade ou vagabundice?
O instituto da correção monetária, que, desvirtuado, resistiu três décadas com perversas consequências, talvez seja o exemplo mais flagrante do descaso da Imprensa às questões realmente relevantes. Ao dividir o País, durante todo aquele período, na banda saudável dos protegidos e na banda podre dos não protegidos da inflação, a correção monetária cavou o fosso social que só há pouco mais de 30 meses o Plano Real conseguiu estancar.
Nenhum dos muitos políticos que tanto mal fizeram ao País, vários dos quais canonizados ao baixarem à terra, produziu tantos horrores quanto essa divisão de dinheiro remunerado pelo mercado financeiro e dinheiro corroído pelo processo inflacionário.
Não convinha mexer no vespeiro da correção monetária e contrariar especialmente o sistema financeiro, cuja participação recorde de 26% do PIB lhe permitia amplo desprezo pelo financiamento da produção.
Nem tampouco o Estado em suas várias esferas e na temporalidade de mandatos, porque protelava sistematicamente seus compromissos de pagamentos e encurtava permanentemente os prazos de recolhimento de impostos.
Apenas para um terço
Os grandes conglomerados empresariais, com reserva de mercado alfandegária e voltados apenas para um terço da população com capacidade de consumo, isto é, a Bélgica da Belíndia, também fizeram da inflação corrigida automaticamente seu melhor instrumento de gestão, contando para tanto com a elite sindical mais propensa ao estrelato do que ao acerto de contas nacional.
E a classe média do dinheiro remunerado igualmente se deleitava com a engorda bancária, inclusive durante o fastio de prolongadas férias em terras e mares cada vez mais distantes.
Imobilidade total
Os efeitos de três décadas de inflação para os pobres e de correção para os demais tiveram força separatista e destrutiva para o País, cuja repercussão torna-se até difícil de avaliar, porque a mais crítica das conclusões poderá parecer adocicada diante dos fatos que escapam aos olhos, em forma de miserabilidade e violência na periferia metropolitana. E jamais tiveram, em momento algum dessa trajetória tortuosa, mobilização responsável da mídia. Nem mesmo quando dezenas de pacotes e de oito planos pretensamente econômicos, a partir do demagógico Cruzado, costurados sob medida para alcance eleitoral, imobilizaram precariamente a subida dos preços.
Se questão tão candente quanto essa, da correção monetária e suas sequelas, foi tratada com tão pouco-caso pelo conjunto da mídia, o que esperar de outros temas nacionais cujas resoluções exigem rápidas tomadas de decisões num mundo que se globaliza? Estão aí as emperradas reformas administrativa, previdenciária, tributária e eleitoral sufocadas por interesses corporativos e políticos, para comprovar o magro empenho da mídia em forçar a aceleração do ritmo.
No âmbito regional, o Grande ABC é, infelizmente, reprodução fiel dos equívocos e omissões administrativas das esferas federal e estadual, salvo honrosas exceções de gestores mais suscetíveis ao compromisso de bem-servir.
É verdade que nos últimos tempos acentuou-se por parte da mídia mais influente junto aos formadores de opinião, uma ação mais coordenada de cobrança de programas e ações públicas, empresariais e comunitárias. Mas isso é apenas o começo de uma revolução à qual cada profissional de comunicação deve encarar como doutrina, não como simples circunstância enquanto não se lhe oferece um novo contrato de trabalho que lustrará seu currículo, como se o melhor currículo não fosse a efetiva participação nas mudanças socioeconômicas de um Município, de uma região, de um País.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)