Imprensa

30ANOS: vereadores não se
importam com regionalidade

DANIEL LIMA - 12/06/2020

Calma que essa manchetíssima não é atual, mas provavelmente é tão atual quando a real, da edição de janeiro de 1999 da revista LivreMercado. Naquela oportunidade, desdobrou-se mais uma ação da publicação com a chamada Pesquisa LM, na verdade uma enquete. 

Eram tempos em que a comunicação mais moderna estava centrada nos aparelhos de fax. Será que agora, com redes sociais de velocidade e densidade extraordinárias, seria diferente? Diferente como? Na quantidade de participação. 

Teria a tecnologia portátil força indutiva suficiente para elevar o número de vereadores que responderiam a questões descartadas naquele final de século ou, independentemente das facilidades materiais, as cabeça dos legisladores seguiriam a mesma toada de desprezo à integração regional? 

O que LivreMercado fez foi enviar um questionário com quatro enunciados básicos e as respectivas alternativas excludentes de respostas. De 145 vereadores, apenas 20% responderam. Querem saber o resultado? Então acompanhe a sexagésima-sexta edição de 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, representado por LivreMercado e CapitalSocial. 

Onde estão os vereadores? 

 DANIEL LIMA - 05/01/1999

A julgar pelo pouco interesse em participar de pesquisa sobre o desenvolvimento econômico do Grande ABC, cujas respostas a cada uma das três perguntas se limitavam a escolher uma das três alternativas com a simples aplicação de um xis, as Câmaras Municipais dos sete Municípios do Grande ABC não oferecem ressonância técnico-operacional para alterar o quadro socioeconômico regional de claro esgarçamento. 

Dos 145 vereadores da região, apenas 30, isto é, 20%, responderam à nova rodada da Pesquisa LM. Só não se pode dizer que o índice é decepcionante porque já se conhece o perfil da grande maioria dos legisladores brasileiros. Eles são em grande parte populistas, despreparados e desinteressados em questões que fujam de aspectos puramente pontuais de seus respectivos guetos eleitorais. 

Essa dura realidade de um País que ainda não aprendeu a praticar a democracia na plenitude do termo era esperada pelos formuladores da Pesquisa LM. Tanto que, depois do envio do material para simples escolha de uma das alternativas de cada pergunta, decidiu-se por novo comunicado, reiterando aos vereadores a data-limite do envio das respostas por meio de fax. 

Participação isolada 

As Câmaras de Santo André e de Ribeirão Pires foram as mais presentes nas respostas, com praticamente metade dos representantes participando do trabalho. A maior decepção foi a Câmara de São Bernardo: de 21 vereadores, apenas o presidente eleito, José Walter Tavares, providenciou a resposta. 

Na mais recente Pesquisa LM, publicada na edição passada desta revista, o índice de retorno atingiu a 50%. Foram abordadas questões sobre a representatividade política da região, a integração regional, os custos trabalhistas e a criação da Agência de Desenvolvimento Econômico. Dos 200 questionários enviados a leitores de diversos espectros econômicos e sociais, entre os quais empresários, executivos, professores, consultores, médicos, dentistas e executivos públicos, 103 foram devolvidos preenchidos. 

Considerando-se que a bancada regional de vereadores tem entre suas atribuições o engajamento em temas que tratam do futuro do Grande ABC, como explicita a nova Pesquisa LM, a participação efetiva de apenas 20% é comprometedora à imagem já desgastada dos legisladores. 

Sintonia minimiza decepção 

O consolo desse novo rastreamento é que os resultados foram positivos. Grande parte dos 20% de vereadores que deram demonstração de interesse regional está sintonizada com as necessidades locais. As três questões apresentadas com três alternativas, de cenários distintos, tiveram como escolha majoritária o posicionamento moderado, expresso na letra B. 

A totalidade dos vereadores que responderam à pesquisa, isto é, todos os 30, expressou-se sobre o desenvolvimento econômico do Grande ABC, contido na primeira pergunta, de forma atualizada. A resposta preferida: "O Grande ABC deve se preocupar, sim, com os efeitos da globalização, atualizando-se legislativamente, por exemplo, no conjunto de leis sobre o uso e ocupação do solo, de modo a oferecer novas alternativas de investimentos nos setores de comércio e serviços, além de favorecer a produção industrial, principalmente de pequenas e médias empresas". 

A opção comprova a sintonia dos vereadores em relação ao obsoletismo da distribuição espacial na região, o qual dificulta sobremodo a instalação de empresas, bem como compromete a qualidade de vida. 

Também houve forte supremacia na questão relativa ao crescimento do setor comercial e de serviços no Grande ABC. Nada menos que 72% optaram pela alternativa B -- "Sempre serão bem-vindos investimentos no setor de comércio da região, como supermercados e shoppings, porque significam a possibilidade de melhor atendimento aos consumidores. Entretanto, faltou por parte dos Executivos e Legislativos do Grande ABC maior cuidado com vistas à instalação desses empreendimentos, já que vários deles acabaram por condenar os pequenos ao regime de simples subsistência, pela impossibilidade de competição". O conceito não deixa de apontar histórica omissão das Câmaras Municipais no processo de planejamento ocupacional dos setores comercial e de serviços da região. 

Na mesma questão, 24% dos vereadores optaram pela alternativa A -- "Os investimentos que tivemos nos últimos anos no setor comercial da região foram importantes para fortalecer nossa economia. Sem as grandes redes continuaríamos a ser uma região muito pobre em termos de oferta de produtos e serviços. Grandes negócios sempre serão bem-vindos aqui". 

Essa alternativa despreza os efeitos colaterais do maciço ingresso de novos investimentos no setor terciário. 

A questão três, sobre as novas entidades que integram o Grande ABC, também quase chegou à unanimidade pela alternativa B -- "Estamos melhorando nossa capacidade de somar esforços para resolver os problemas econômicos e sociais do Grande ABC por meio da Câmara Regional, do Consórcio Intermunicipal dos Prefeitos, do Fórum da Cidadania e da Agência de Desenvolvimento Econômico. Esse é o caminho". A opção expressa o alinhamento dos vereadores à democratização dos mecanismos de participação institucional. 

A quarta pergunta aos legisladores da região foi fora do contexto econômico. Tratou de avaliar os respectivos prefeitos do Grande ABC. A Pesquisa LM também adotou três alternativas de escolha. Para a alternativa A a avaliação do prefeito seria muito boa, para a B satisfatória e para a C insatisfatória. O resultado final acabou comprometido, exatamente porque 80% dos titulares de mandatos legislativos preferiram se omitir na pesquisa. 

Santo André e Ribeirão Pires, por terem tido maior participação na Pesquisa LM, podem ter avaliação dos prefeitos levada em conta. Celso Daniel, de Santo André, conseguiu três opções de gestão muito boa, seis de satisfatória e uma de insatisfatória. Maria Inês Soares, de Ribeirão Pires, alcançou duas posições de muito boa, três de satisfatória e duas de insatisfatória. Dos quatro vereadores de Mauá que responderam à pesquisa, três apontaram a gestão de Oswaldo Dias como muito boa e um como satisfatória. 

Dos vereadores que responderam à Pesquisa LM, somente dois solicitaram sigilo de respostas (veja quadro) e apenas um, Ricardo Alvarez, de Santo André, preferiu não responder a uma das perguntas.  O vereador de Diadema José Queiroz Neto, conhecido como Zé do Norte, foi o primeiro a enviar fax de respostas. Em seguida, completando o time dos cinco primeiros, pela ordem, posicionaram-se Carlos Caviuna, também de Diadema, José Alberto Gomes, de Ribeirão Pires, José Walter Tavares, de São Bernardo, e Antônio Leite, de Santo André. Veja o questionário: 

1) Sobre o desenvolvimento econômico do Grande ABC: 

a) O Grande ABC é um reduto econômico imbatível. Não precisamos nos preocupar com os chamados efeitos da globalização porque temos autonomia suficiente, como região fortemente industrializada, para nos manter a salvo de eventuais problemas. Nossa legislação de uso e ocupação do solo é antiga, mas muito atual.

b) O Grande ABC deve se preocupar, sim, com os efeitos da globalização, atualizando-se legislativamente, por exemplo, no conjunto de leis sobre uso e ocupação do solo, de modo a oferecer novas alternativas de investimentos nos setores de comércio e serviços, além de favorecer a produção industrial principalmente de pequenas e médias empresas. 

c) O Grande ABC chegou a tal estado de desindustrialização e de canibalização comercial e de serviços que de nada vai adiantar qualquer alteração municipal e regional da legislação de uso e ocupação do solo. Já perdemos essa parada. Agora é rezar. 

2) Sobre o crescimento do setor comercial no Grande ABC: 

a) Os investimentos que tivemos nos últimos anos no setor comercial da região foram importantes para fortalecer nossa economia. Sem as grandes redes continuaríamos a ser uma região muito pobre em termos de oferta de produtos e serviços. Grandes negócios sempre serão bem-vindos aqui. 

b) Sempre serão bem-vindos investimentos no setor de comércio da região, como supermercados e shoppings, porque significam a possibilidade de melhor atendimento aos consumidores. Entretanto, faltou por parte dos Executivos e dos Legislativos do Grande ABC maior cuidado com vistas à instalação desses empreendimentos, já que vários deles acabaram por condenar os pequenos ao regime de simples subsistência, pela impossibilidade de competição. 

c) Abriram demais as porteiras para investimentos comerciais na região e o que temos hoje é uma falência quase generalizada dos micro e pequenos negócios, que não têm como competir com grandes organizações. Acredito que os Executivos e os Legislativos do Grande ABC se descuidaram ao permitir instalações sem comedimento de regras.  

3) Sobre as novas entidades do Grande ABC: 

a) Confio sobremaneira na força institucional e na integração regional do Grande ABC. Câmara Regional, Consórcio Intermunicipal, Fórum da Cidadania, Agência de Desenvolvimento Econômico, tudo isso vai dar samba. Vamos melhorar nossa performance econômica, sem dúvida. 

b) Estamos melhorando nossa capacidade de somar esforços para resolver os problemas econômicos e sociais do Grande ABC por meio da Câmara Regional, do Consórcio Intermunicipal dos Prefeitos, do Fórum da Cidadania e da Agência de Desenvolvimento Econômico. Esse é mesmo o caminho. 

c) Não passam de pura bobagem tantas organizações para tratar do futuro do Grande ABC. Aliás, acho que Câmara Regional, Fórum da Cidadania, Consórcio dos Prefeitos e Agência de Desenvolvimento Econômico são organismos demais. Estamos sobrepondo esforços e desperdiçando munição. 

Veja as respostas dos 30 vereadores: 

Amilton José dos Santos (b, b, b), Antônio Leite da Silva (b, a, b), Basílio Vido (b, b, b), Carlos Augusto Alves dos Santos (b, b, b), Carlos Caviuna (b, a, b), Dinah Zekcer (b, b, b), Donizete Braga (b, b, b), Edson Savietto (b, b, b), Eduardo Agostini (não divulgar), Eliete Menezes (b, a, b), Francisco Bezerra Cavalcante (b, b, b), Franco Masiero (b, a, b), Geraldo Juliano (b, b, b), Gerson Moisés Constantino (b, b, a), Ivete Garcia (b, b, b), João Vianney (b, b, b), Joaquim dos Santos (b, b, b), José Alberto Gomes (b, b, b), José Montoro Filho (b, a, a), José Nelson de Barros (b, a, b), José Queiroz Neto (b, b, b), José Walter Tavares (b, a, b), Mara Ribeiro de Moraes (b, b, b), Neide Figueiredo (b, a, b), Ramon Velasques (b, b, b), Ricardo Alvarez (b, c, na), Saulo Benevides dos Santos (b, b, b), Vicente Carvalho (não divulgar), Virgílio do Prado (b, b, b) e Wagner Rubinelli (b, b, b). 



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