De março de 1997 a janeiro de 2009. O antes disso e o depois disso, até estes dias, serão resolvidos depois. No intervalo entre o fim da última década do século passado e a primeira década do novo século LivreMercado ganhou o formato estético de revista e se consolidou como a mais ousada e reformista publicação regional do País. Foram praticamente 20 anos de prática de um jornalismo que se mantém, completando-se três décadas. A informação só tem valor agregado quando transformada em análise. Essa é a diferença.
Para mostrar e comprovar aos marinheiros de primeira viagem dos consumidores de informações do Grande ABC e para consolidar o que se consagrou ao longo do período, vamos reproduzir numa primeira parte os trechos iniciais de todas as matérias/análises de LivreMercado entre 1997 e 2009. A Operação Reportagem de Capa será dividida em breves reproduções. Serão em média 350 caracteres por Reportagem de Capa.
O Projeto Reportagem de Capa trará em datas não necessariamente sequenciais cinco trabalhos jornalísticos por ordem cronológica. Serão, repita-se, apenas uma degustação de cada ação da equipe de jornalistas de LivreMercado.
Cinco por cinco
O bloco de cinco primeiras ações do Projeto Reportagem de Capa começará segunda-feira e contemplará a mudança plástica de LivreMercado. Uma entrevista que fiz com o recém-eleito prefeito de Celso Daniel, publicada em novembro de 1997, abrirá a série. E estará acompanhada de quatro outras matérias/análises dos meses subsequentes – dezembro de 1997, janeiro, fevereiro, março e abril de 1998.
Os quase 20 anos de circulação da melhor revista regional que este País já teve precisam ser analisados mesmo sem a profundidade nem sempre detectável pelos acadêmicos. Uma base interessante é a sequência de capas, mais precisamente de Reportagem de Capa, como linha de investigação e conclusões. As capas de LivreMercado analisam o período mais fértil e frustrante do Grande ABC. Por isso é indispensável que seja resgatado.
Isso quer dizer que todas as edições mensais de LivreMercado, corporificadas no modelo de revista no sentido material da expressão, vão virar objeto de estudo deste jornalista, responsável pela gestão editorial da publicação. Objeto de estudo breve, preparado apenas para que quem não leu não sabe o que perdeu.
Tabloide-revista
Entre março de 1990 e março de 1997 LivreMercado circulou em formato físico de tabloide com papel e conteúdo de revista. A característica de revista no sentido completo, agora de papel de capa mais encorpado, perdurou ao longo de uma jornada que se estendeu de abril de 1997 a janeiro de 2009.
Para o Projeto Reportagem de Capa não consideraremos o histórico dos primeiros sete anos de LivreMercado em formato tabloide. A medida desconsidera, portanto, que o formato tabloide também incorpora a tessitura editorial de capa, ou seja, o destaque visual e gráfico de um determinado assunto da edição. Deixaremos a inclusão desse primeiro período a outra situação.
A fusão dos dois modelos de um mesmo produto permitirá abordagem definitiva. É descartável que LivreMercado dos dois períodos revele interrupções doutrinárias e assanhamentos oportunistas. A linha editorial jamais sofreu rupturas. Leitores de CapitalSocial que recebem informações diárias pelo WhatsApp têm sido atendidos há mais de 10 dias com a reprodução de imagens das capas.
Período de fertilidade
Fiz com uma equipe de primeira linha muito do melhor possível e tivemos a sorte lotérica de conceber a publicação no período institucional mais intenso e também mais decepcionante do Grande ABC. Vivemos alegrias, esperanças e fundas decepções. Entre as quais a criação do Fórum da Cidadania, o surgimento do Clube dos Prefeitos e o assassinato do prefeito Celso Daniel. Ativos viraram pó.
O Fórum da Cidadania se perdeu numa agenda dispersiva demais e numa estrutura organizacional sem respaldo financeiro, entre outras inconformidades. Já o Clube dos Prefeitos virou uma pasta de dentes cujo insumo minimamente produtivo se esvaiu ao sabor de políticas erráticas. E o prefeito Celso Daniel virou lembrança em vez de legado: os sucessores se perderam na mediocridade.
Coleção feminina
Graças à durante muito tempo editora-chefe de LivreMercado, tenho no sótão residencial pelo menos cinco exemplares de cada edição em formato físico de revista. Malu Marcoccia sempre foi muito cuidadosa, marca indefectível das mulheres. Não fosse ela, estaria num mato de lembranças sem o cachorro da materialidade das obras que ajudamos a fazer.
LivreMercado é o sonho de consumo de todo jornalista que um dia, mesmo por acaso, deixa de frequentar redação de terceiros e passa a ter a própria redação. Jamais imaginei que fosse chegar a isso -- e cheguei por acaso.
Será que LivreMercado era mesmo, como muitos afirmam, uma publicação excessivamente cética, dessas que desconfiam de tudo e de todos? Será que não seria isso uma ilusão de ótica editorial plantada por leitores mais críticos, que, subjetivamente, transformam uma capa mais ácida em generalização histórica? Vamos ver o que vai dar esse estudo?
Até 132 a cada mês
Vai ser muito interessante definir uma linha de tempo que contemple visão mais ampla e obrigatoriamente realista do comportamento editorial de LivreMercado tendo a capa como expressão do conjunto da obra a cada 30 dias.
Chegamos a contar com uma edição média de 132 páginas e 30 mil exemplares auditados. A variedade temática era um carrossel surpreendente. A dinâmica da cobertura econômica era acompanhada de outras especialidades. Como, por exemplo, os cases públicos, privados e sociais. Entre tantos outros.
LivreMercado foi uma travessia do tempo regada por entusiasmo coletivo dos colaboradores. Se decidisse escrever um livro sobre a trajetória produtiva da publicação, garanto que os leitores ficariam surpresos. Havia uma engenharia editorial (é disso que trataria, embora algumas pinceladas da gestão comercial e administrativa fossem indispensáveis, porque se situavam distante do equilíbrio qualitativo necessário) que se aperfeiçoou a ponto de – em 2004 – ser transposta durante 11 meses à redação do Diário do Grande ABC, para onde me levaram como salvação de uma lavoura que já fazia deserto.
Para quem interessava
A decisão de colocar na mesa de cirurgia analítica (e de preservação dos sinais vitais de comprometimento social que CapitalSocial herdou e segue a destilar diariamente) as capas de LivreMercado é providencial. É um modo de o Projeto Reportagem de Capa contar com um quadro mais preciso, mais próximo possível, de uma publicação que revolucionou o jornalismo regional.
Entre outros pontos da revolução e do caráter reformista, não custa lembra que LivreMercado surgiu para colocar a economia do Grande ABC na pauta dos tomadores de decisão e dos formadores de opinião. E, na sequência, temporada a temporada, avançou em outras atividades. Não custa lembrar que escrever sobre economia no Grande ABC jamais foi uma prática constante. Havia um descaso quase generalizado, quando não preconceituoso numa região de sindicalismo aguerrido.
Muito além de revista
LivreMercado foi muito além na atenção à região. Na solidariedade e na meritocracia, esculpiu o Prêmio Desempenho (Empresarial, Social, Administrativo Público, Cultural, Esportivo) e lançou o projeto Madres Terezas e Freis Galvão, com mais de uma centena de contemplados pela sociedade, reunida num Conselho Editorial que chegou a contar com 250 convidados. Um total de 1718 troféus foi entregue em 15 edições do Prêmio Desempenho. Havia uma disputa acirrada para sediar o evento, com duas etapas anuais.
A ideia de trazer para o presente o Projeto Reportagem de Capa de LivreMercado partiu de uma ação meramente de marketing utilizado por este jornalista em algumas redes sociais, especialmente nas listas de distribuição que organizei há alguns pares de anos tendo leitores de CapitalSocial como endereçamento de mensagens do aplicativo WhatsApp.
Nos últimos tempos passei a enviar diariamente a imagem de um exemplar de capa de LivreMercado. Nada programado. Capas aleatórias, de datas saltitantes. O interesse dos leitores é tamanho que decidi ampliar a iniciativa.
Projeto tardio?
O marketing a que me refiro tem elasticidade ao propagar aos quatro cantos da Internet uma publicação que os jovens de hoje possivelmente jamais tiveram acesso físico, apenas na virtualidade do conteúdo neste site. Além disso, claro, reaviva a memória de gerações contemporâneas à publicação.
É claro que sempre existe um ou outro (literalmente um ou outro) inconformado com o legado de terceiros e veem na iniciativa algo como o recorrer ao passado como expressão de presente vazio. Quanta tolice! Fosse assim, o grande mestre da memória regional, Ademir Medici, seria um poço de frustração quando se vê na prática do dia a dia o quanto é requisitado em sua sabedoria.
Sem contar tantas outras mídias que trazem para o presente um passado que não pode jamais ser descartado, porque habitat natural do mesmo organismo da vida vivida. Não se apaga o passado em nenhuma circunstância. Mais que isso: retomar o passado é um ato de responsabilidade social.
Esperem, portanto, por um diagnóstico criterioso do conjunto de capas de LivreMercado. É inacreditável que tenha desprezado essa autoimposição. Mas nunca é tarde para um primeiro passo. Quem sabe algum acadêmico decida fazer o mesmo. Só não pode começar qualquer estudo de forma enviesada, estigmatizando uma expressão (Livre Mercado) terrivelmente inovadora no jornalismo regional como símbolo enfático da livre-iniciativa combinada com um Estado eficiente. CapitalSocial veio depois, para aparar qualquer aresta ideológica mais botocuda.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)