Imprensa

Capas: bomba sindical é o
destaque de novas edições

DANIEL LIMA - 02/09/2021

Uma análise inédita sobre o que chamamos de bomba sindical é o ponto de destaque desta que é a quinta edição da série Projeto Reportagem de Capa. A iniciativa recupera a memória do melhor jornalismo regional do País, iniciado em 1990 com o lançamento da revista-tabloide LivreMercado.  

Com novas cinco edições, entre julho e novembro de 1998, chegamos ao total de 2.744 páginas daquela publicação, 304 das quais reservadas à Reportagem de Capa.  

Como é sabido, estamos trazendo ao presente os primeiros trechos de cada Reportagem de Capa a partir de novembro de 1996, quando LivreMercado ganhou formato físico de revisa, com a configuração material de capa convencional. “Quem vai desativar a bomba sindical?” se constituía em mais que um choque em forma de título de Reportagem de Capa. Era o compromisso editorial e social de LivreMercado que jamais se dobrou ao corporativismo sindical, de empresários e, sobretudo, dos mais organizados trabalhadores.   

 

Rendição ao meio ambiente 

 TUGA MARTINS  

Reportagem de capa – nove páginas  

Edição de julho de 1998 – 116 páginas   

O verde começa a colorir as planilhas de gestão de inúmeras empresas do Grande ABC, que vislumbram no controle e preservação ambiental reforço à imagem institucional e base sólida para a competitividade internacional. Os valores ecológicos são formalizados pela série ISO 14.000 e, a exemplo dos países desenvolvidos, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) já criou o Rótulo Ecológico do Brasil, figurado por um beija-flor, que objetiva certificar os produtos disponíveis no mercado que têm Qualidade Ambiental. No Grande ABC, onde está a maior concentração de indústrias automobilísticas do País, surgem as primeiras discussões sobre a instalação de uma fábrica para reciclagem de veículos. “As montadoras começam a conversar sobre essa reciclagem” — revela Augusto Fagioli, gerente do Departamento de Qualidade da Scania Latin America. O engenheiro Luiz Antônio Brun, gerente da Agência Ambiental da Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia Ambiental) em Santo André, garante que a maioria das empresas da região investiu ou está investindo em meio ambiente, seja com instalação de sistemas de controle de fontes de poluição do ar, com implantação de estação de tratamento de efluentes líquidos, com gerenciamento e destinação adequada de resíduos sólidos, ou com controle de emissão de ruído. “Várias indústrias poderiam ser relacionadas, mas como exemplo de bom trabalho na área ambiental temos as do Polo Petroquímico de Capuava, bem como as montadoras de veículos” — destaca Luiz Brun. À frente da própria matriz, na Suécia, a unidade de São Bernardo da Scania possui o certificado ISO 14.001 desde setembro de 1997. “Fomos a primeira do grupo Scania, do Brasil e de toda a América Latina” — orgulha-se Augusto Fagioli. Para garantir o pioneirismo, a Scania de São Bernardo investiu US$ 300 mil e já empenha outros US$ 1 milhão para atingir objetivos e metas da gestão de qualidade ambiental. Parte desses recursos foi aplicada em cerca de 10 mil horas de treinamento para funcionários. Analista de Gestão Ambiental da Scania, Vera Tavares lembra que o trabalho começou em 1996, coincidindo com o início da política ambiental da matriz na Suécia. Das mais simples ações, como substituição de artigos de limpeza comuns por biodegradáveis, até o desenvolvimento de tecnologia que permite reciclar 90% de um veículo Scania, a empresa não mede esforços para minimizar ao máximo o impacto de seu produto no meio ambiente. Cerca da metade dos investimentos para o desenvolvimento de produtos está atrelada à preocupação ecológica. “Estamos assumindo custo adicional pela responsabilidade ambiental” — revela Vera Tavares. Antes de o beija-flor ser escolhido pela ABNT para selar a qualidade ambiental dos produtos nacionais, a Scania elegia o quero-quero como mascote do Sistema de Gestão Ambiental. O passarinho aparece em toda a série de materiais didáticos — folders, cartazes, cartilhas — que dá suporte às ações de educação ambiental: reutilização de produtos diversos, redução do consumo de materiais, reciclagem e revisão de hábitos de consumo e descarte.  

 

Quem desativa essa bomba?  

 DANIEL LIMA  

Reportagem de Capa – 11 páginas 

Edição de agosto de 1998 – 116 páginas   

Uma bomba-relógio ameaça agravar o declinante poderio econômico e a ascendente ruptura social do Grande ABC. Representantes de empresas que sustentam a principal atividade microeconômica da região — a indústria automobilística e as autopeças que a rodeiam — acabam de preparar espécie de dossiê que aponta quadro de gradual trombose em suas atividades. A anomalia atinge quatro áreas que respondem diretamente pela capacidade de competir num mercado que se torna cada vez mais concorrido internamente, com novas montadoras que se instalam no País, e internacionalmente, com a globalização em ritmo frenético. Num trabalho inédito da Câmara Regional do Grande ABC, liderado pelo prefeito Maurício Soares, de São Bernardo, coordenador do Grupo de Competitividade do Setor Automotivo, os subgrupos de Relações Trabalhistas, Infraestrutura, Impostos e Desenvolvimento Tecnológico praticamente esmiuçaram os pontos principais de algo que pode ser resumido e simplificado como Custo ABC, embutido em algo igualmente desestimulante para a atividade empresarial, o Custo Brasil. O subgrupo de Relações Trabalhistas é o mais explosivo. O relatório é contundente. Coloca a nocaute velhos mitos regionais. Desmistifica, por exemplo, a qualidade da mão-de-obra. Estudo mais atento do relatório, que está sendo detalhado a cada reunião dos grupos de trabalho, coloca sob suspeição os eventuais e propalados efeitos econômicos positivos do surgimento do Novo Sindicalismo, como é chamado o movimento liderado 20 anos atrás pelo então ferramenteiro Lula, pela terceira vez candidato à presidência da República. O que nos tempos de mercado fechado poderia ser considerado Benefício ABC, como alardeiam os sindicalistas, cada vez mais ganha corpo de Custo ABC. Se antes montadoras e autopeças mantinham-se a salvo da competição, a partir do início dos anos 90 a situação começou a se alterar. Quem mais sofreu foram as autopeças, sem proteção alfandegária. As montadoras conseguiram erguer barricadas tributárias respaldadas pelo Regime Automotivo, mas os competidores avançaram e se estão instalando no País.  

 

Capital da cor e da tecnologia 

 MALU MARCOCCIA – TUGA MARTINS 

Reportagem de capa – Oito páginas  

Edição de setembro de 1998 – 132 páginas  

Imagine a cor do seu terno preferido, repare na textura do verniz que encobre o mobiliário de casa, preste atenção no esmalte que dá brilho ao seu veículo e na combinação de tintas que permite a alta definição de um trabalho impresso na gráfica ou no computador do escritório. Olhe um pouco ao redor. Tudo ou praticamente tudo é revestido: de paredes a cadeiras, do piso à geladeira, do carro na garagem à sinalização das estradas, da tela sobre óleo do pintor famoso ao desenho artístico em silkscreen das camisetas de campanha eleitoral. A indústria de tintas é imensa sob qualquer padrão, mas essa força econômica é pouco conhecida no território que sedia o maior contingente de fabricantes no Brasil: o Grande ABC. Com 37 indústrias que empregam quatro mil funcionários, calcula-se que o Grande ABC produza 65% do mercado de tintas no País, algo colossal como 650 milhões dos 1,045 bilhão de litros registrados no ano passado, segundo dados do Sitivesp (Sindicato da Indústria de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo). A boa notícia, entretanto, é que esse parque vastíssimo em itens de fabricação tem como moldura uma coleção de tecnologias avançadas, ao contrário de polos que dão fama ao Grande ABC, como o automotivo e o moveleiro, que só recentemente providenciaram respostas ao aumento da concorrência trazida pelos importados e por outras regiões produtoras. A animação da indústria de tintas está justamente na grande concorrência no setor, que reúne 280 fabricantes de todos os portes, conforme a Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas). Por conta disso, só nos últimos quatro anos desta virada de milênio os investimentos são calculados em US$ 350 milhões pela Abrafati, o que situa essa indústria como uma das mais dinâmicas do País. Do Plano Real, em 1994, ao ano passado, as taxas de crescimento da produção saltaram 3,8%, 6% e 7%, respectivamente, o que deixa o PIB brasileiro engolindo poeira. Os números de produção e aportes financeiros não são regionalizados pelas entidades de classe. O Sitivesp estima que 90% das indústrias de tintas do Brasil estão instaladas no Estado de São Paulo. O Sindicato dos Químicos do ABC projeta essa participação estadual em 75%, com hegemonia quase total do Grande ABC. Seja como for, do mapa da região não escapa nenhuma das cinco marcas líderes, o que explica o potencial produtor local. Todas têm sede ou plantas fabris no Grande ABC, casos das campeoníssimas em vendas Basf e Coral, das gigantes Sherwin Williams, Renner e Akzo Nobel. A justificativa para essa concentração geográfica está na atração exercida pelo Grande ABC como polo industrial. O setor industrial absorve 40% do volume de tintas fabricado no Brasil, 12% dos quais são consumidos pelo segmento automotivo (montadoras e repintura). Os 60% restantes concentram-se no filão da construção civil. Ambos derivam para centenas de subitens, como solventes, thinner, vernizes, massas a óleo, impermeabilizantes, colas, látex e esmaltes, multiplicados ao infinito conforme o leque de aplicação. Isso fez proliferar um cinturão de pequenas e médias empresas químicas para atender, além do cobiçado naco das tintas imobiliárias, a nichos específicos: madeira, papelão, serigrafia e gráficas, entre outros. Qualquer que seja o foco mercadológico, entretanto, modernidade é ponto marcante. A gigante Basf inaugurou em julho último fábrica no complexo de São Bernardo que vai produzir no Brasil a última palavra em tintas mundo afora: a ecológica linha à base de água, a princípio para abastecer as newcomers automotivas, como são chamadas as montadoras que desembarcam no País com plantas mais modernas. A Vivacor Tintas e Vernizes, empresa de pequeno porte de Diadema, não fica atrás. Está pesquisando o verniz ultravioleta para etiquetas de embalagens flexíveis alimentícias e em papelões ondulados, tecnologia pouco aplicada no Brasil e que confere mais brilho e resistência à impressão. “É um setor extremamente competitivo porque trabalha a principal característica dos produtos: a tinta é a apresentação de todas as mercadorias. Por isso, os clientes sempre foram exigentes e os fabricantes passaram a ficar up to date com as mais avançadas tecnologias” — responde o presidente do Sitivesp, Roberto Ferraiuolo.  

 

OPP mostra que o  

Polo está mudando 

 DA REDAÇÃO  

Reportagem de capa – 29 páginas  

Edição de outubro de 1998 – 148 páginas  

Uma semana depois de soltar prolongado uuuuuaaau! no palco do Teatro Municipal de Santo André, quando o mestre-de-cerimônias Wellington de Oliveira anunciou a OPP Polietilenos como a Melhor das Melhores do Prêmio Desempenho Empresarial, Nívio Roque ainda estava eufórico com a conquista. O comandante dessa unidade fabril do setor químico/petroquímico de gigantesco conglomerado empresarial, o Grupo Odebrecht, ainda vai comemorar por muito tempo uma premiação cujo valor ele parece ter definido como nenhum outro campeão maior antes: "A ansiedade vai crescendo tanto, mas tanto, depois que a gente sobe pela primeira vez no palco, que parece uma bola de neve. Quando aquelas mulheronas entraram para cantar antes da divulgação dos resultados finais e deram aquele show, foi uma bênção. Deu para colocar as batidas do coração num ritmo menos acelerado, deu para respirar melhor. Mas depois do show a ansiedade voltou. Foi uma loucura" -- relembra esse homem simples, que, depois de cumprir longas jornadas de trabalho de segunda a sexta-feira na peça mais bem organizada da vasta coroa de empresas do Grupo Odebrecht, ainda encontra tempo, vontade e dedicação para se doar a causas sociais voltadas para os portadores de hanseníase. A noite de 15 de setembro foi completa para Nívio Roque. Além de levar o prêmio maior do PDE entre 66 Destaques desta temporada, conseguiu vaga entre os três Executivos do Ano. Essa outra corrida começou com a elaboração de uma lista de 18 personalidades das mais diferentes áreas do Grande ABC, se afunilou com a eleição dos 10 Destaques do Ano e redobrou a dosagem de ansiedade de que tanto Nívio fala quando, de novo, os membros do Conselho Consultivo debruçaram-se sobre planilhas para decidir quem seriam os três melhores da categoria. Nívio Roque confessa sem qualquer exibicionismo que, quando se viu entre as 10 personalidades anunciadas dias antes da festa, passou a desconfiar que a sorte da OPP Polietilenos nesta edição do PDE seria diferente da do ano anterior, quando a empresa também se inscreveu na disputa. "Se estava entre os Destaques de executivos, imaginava que o Conselho Consultivo levou em conta o peso do nosso case que constava do livro Vencedores. Por isso, fui para o teatro esperançoso de que desta vez a OPP estaria entre as 12 Melhores do Ano" -- contava Nívio uma semana depois, pouco antes de recomendar à secretária que reunisse o maior número possível dos 170 funcionários da empresa para uma foto histórica nas dependências da fábrica. Nívio Roque foi ao Teatro Municipal na companhia de um dos filhos, que é médico, e de executivos da OPP. A mulher ficou em Santos, onde reside, esperando telefonema a qualquer momento. A expectativa de colocar a OPP entre as Melhores do Ano se confirmou quando Nívio foi chamado ao palco. Era a segunda vez na noite que o cerimonial o convocava a deixar a poltrona na plateia. Na primeira os aplausos foram dirigidos para a OPP e as demais empresas do setor industrial chamadas em bloco para receber o título de Destaques do Ano. A OPP Polietilenos também constava da relação de Destaques da festa de 1997. Nívio acha que a empresa poderia ter tido melhor sorte, como ingressar no seleto grupo de Melhores do Ano, se a Imprensa não tivesse dado tanta ênfase ao controvertido contrato de participação do Grupo Odebrecht no planejado Polo Petroquímico de Paulínia. O desenvolvimento daquela base petroquímica poderia desviar do Polo de Capuava potenciais investimentos dos poucos grupos do setor. Responsável por 20% da produção nacional de nafta, o Polo de Capuava perde feio para outros dois centros de produção nacional, o Copesul no Rio Grande do Sul e o Copene, na Bahia, nos quais o Grupo Odebrecht tem forte participação. Nívio entende que o noticiário acabou contaminando a potencialidade da OPP. Depois de subir os pouco confortáveis degraus de acesso ao palco do Teatro Municipal para receber a placa entre as 12 Melhores do Ano, Nívio Roque já se dava por satisfeito. Sabia que a partir daí o que viesse seria lucro, um grandiosíssimo lucro. O trabalho que realiza no grupo do setor petroquímico da Câmara do Grande ABC, voltado para o aumento da capacidade produtiva do Polo de Capuava, com profundas repercussões socioeconômicas numa região que vê seu brilho industrial apagar-se lentamente, poderia ajudar Nívio na disputa por uma das três vagas de Executivo do Ano. Admite que chegou a pensar nisso, até porque figurava entre os 10 Destaques do Ano.   

 

Shopping Center  

é Torre de Babel 

 ANDRÉ MARCEL DE LIMA – DONIZETE RADDI 

Reportagem de Capa – Oito páginas 

Edição de novembro de 1998 – 132 páginas  

Desde que foram inventados nos Estados Unidos, no início do século, os shoppings centers se transformaram num bem-sucedido modelo comercial de domínio internacional. Onde quer que o capitalismo vigore, e vigora em praticamente todo o mundo desde a queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da antiga União Soviética, parcelas mais ou menos significativas da distribuição de mercadorias são realizadas por intermédio desses centros planejados de compras que conquistaram espaço principalmente devido à segurança que proporcionam aos lojistas e à comodidade e conforto aos consumidores. Nos Estados Unidos, 60% das vendas de varejo, que superaram R$ 400 bilhões no ano passado, são escoadas pelos shoppings centers. Ou seja, mais da metade de tudo o que é vendido diretamente ao consumidor é adquirida no interior de shoppings. Resta ao comércio de rua participação cada vez mais residual e rarefeita na medida em que surgem novos empreendimentos do setor. O mundo todo está antenado nessa tendência criada e liderada por um país que, além de ostentar a maior economia do mundo, com Produto Interno Bruto superior a R$ 7 trilhões, firmou-se como exportador de ideias e conceitos em todas as áreas do conhecimento humano, sobretudo no comércio — e marcas como McDonalds, Blockbuster, Disneyworld e Hard Rock Café são provas evidentes. No Brasil, a indústria de shopping center, como é chamada pelos especialistas, encontra-se em fase de infância: 95% dos 150 shoppings em atividade no País têm menos de 10 anos. Apenas sete estabelecimentos já ultrapassaram 20 anos, entre os quais o pioneiro Shopping Iguatemi, criado na década de 60 em São Paulo. Por ser fenômeno recente e que responde por apenas 17% das vendas de varejo, a indústria de shopping seria altamente recomendável em terras tupiniquins, uma barbada para quem tem dinheiro sobrando para investir. Mas não é bem assim. Shopping é empreendimento tão minucioso como vultoso. Muitas são as precauções e atitudes a serem tomadas para que milhares de recursos aplicados não virem pó por escassez de consumidores.



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