O escândalo imobiliário envolvendo o ministro Geddel Vieira Lima sacode Brasília, mas é fichinha perto dos trambiques imobiliários que eclodiram na Província do Grande ABC nos últimos anos. A diferença é que a efervescente Capital Federal nestes tempos de Lava Jato está sujeita a chuvas e trovoadas de repercussões políticas, enquanto a Província do Grande ABC é o paraíso da pilantragem. Estamos escondidinhos às bordas da Região Metropolitana que tem a Capital do Estado como estrela-maior e quase soberana. Ou seja: nossa suburbanidade é o melhor esconderijo aos delinquentes de todas as espécies, principalmente imobiliários. Uma Operação Andaime aqui é sonho dos iludidos.
De supetão, sem recorrer sequer aos arquivos desta revista digital, elenco alguns dos casos mais escabrosos e até agora impunes, quando não totalmente esquecidos, que fizeram do território regional campo aberto aos delinquentes imobiliários.
Antes disso, é preciso situar tecnicamente, segundo a dialética jornalística, o que são pilantras imobiliários, também conhecidos como bandidos sociais, também conhecidos como bandidos imobiliários, entre outras expressões do léxico do jornalismo independente e, por isso mesmo, sujeito a ser levado às instâncias judiciais e, mais que isso, ser tratado como criminoso.
Essa fauna a que me refiro é composta por gente que faz qualquer negócio nos negócios que dirigem para se darem bem. A sociedade que se lixe. Não custa repetir que alguns ainda se não ao caradurismo de se autoproclamarem filantropos.
Clube totalmente omisso
Agora, vamos à citação de alguns dos casos imobiliários que jamais mereceram qualquer reação do Clube dos Construtores do Grande ABC, também conhecido por Acigabc, que, hoje, depois de 25 anos de mandos e desmandos do empresário Milton Bigucci, tem o jovem empreendedor Marcus Santaguita no comando. Um comando que, por estar ainda em fase de reconhecimento de terreno, ou melhor, de terra arrasada, haverá de, a partir de janeiro, partir para série de medidas que enterrariam para valer os escombros do longevo antecessor.
A começar por incorporar os pequenos construtores ao organograma diretivo e, com isso, dar voz e vez a centenas de empreendedores. Aliás, empreendedores na maioria situados em Santo André e que, independentemente do Clube dos Construtores, fazem-se representar. Eles serão ótimos reforços à concentração de forças institucionais.
Condomínio Residencial Barão de Mauá, em Mauá.
Condomínio Residencial Ventura, em Santo André.
Condomínio Residencial Royale Residence, em Santo André.
Condomínio Residencial e Comercial Marco Zero, em São Bernardo.
Projeto Cidade Pirelli, em Santo André.
Escândalo do Semasa, em Santo André.
Apenas os mais conhecidos
Esses são os escândalos mais conhecidos e que não encontraram no sistema judiciário nenhuma medida efetivamente denunciatória ou punitiva, exceto a apuração do Ministério Público Estadual de Santo André, a cargo do promotor José Luiz Saikali, no caso do Residencial Ventura.
Trata-se de uma ação assombrosa porque envolve a construção de centenas de apartamentos de classe média alta num terreno com focos de contaminação e cuja cronologia de execução do projeto soterrou a legalidade exatamente para possibilitar a traquinagem.
E mais gigantesco ainda porque os proprietários dos apartamentos acabaram presos ao mercantilismo do congelamento verbal e ético para não terem propriedades mais desvalorizadas ainda. Deixaram de procurar instâncias judiciais para as devidas indenizações.
Fossem os prefeitos eleitos às próximas quatro temporadas na região suficientemente preparados para enfrentar o jogo duro, duríssimo, com os delinquentes imobiliários que desgraçam a classe de uma maioria de empreendedores de respeito, fossem os prefeitos eleitos suficientemente preparados, repito, a primeira medida que o Clube dos Prefeitos deveria tomar seria voltada ao mercado imobiliário.
Medidas possíveis
Há uma série de iniciativas que podem ser efetivadas para disciplinar o uso e a ocupação do solo de modo a que os delitos sejam exceções, não regra. Já escrevi muito sobre isso e não quero hoje cansar a beleza dos leitores.
O que posso garantir é que bastam algumas medidas para os titulares dos respectivos paços municipais darem exemplo à sociedade de que estão mesmo decididos a ditar novos caminhos de responsabilidade social à área de mobilidade urbana, que atravanca a qualidade de vida.
Não é por nada não, mas duvido que o façam. Há muitos interesses em jogo. Entretanto, se não quiserem botar a mão diretamente na massa, basta outra iniciativa que daria impulso formidável à caça aos bandidos sociais. Basta que liderem ações para potencializar a infraestrutura física e pessoal do Ministério Público Estadual na região. Dar condições de trabalho aos integrantes do MP é o caminho mais curto para que investigações ganhem força.
A apuração do caso Marco Zero, pelo Ministério Público Estadual em São Bernardo, não é digna dessa expressão. Enquanto o empresário Milton Bigucci contratou um criminalista do qual o ex-presidente Lula da Silva não abre mão nos escândalos da Operação Lava Jato, caso de José Roberto Batochio, o MP de São Bernardo não fez outra coisa senão tratar burocraticamente um dossiê produzido por este jornalista. Provo e comprovo, inclusive com pareceres posteriores de especialistas, ter sido aquele leilão uma farsa de amadores certos de que tinham as costas largas.
Estavam tão convictos disso que as lambanças perpetradas e que dispensam maiores investigações, porque espetacularmente autoincriminatórias, não foram sequer avaliadas pelo Ministério Público Estadual em São Bernardo. Avaliadas no sentido investigativo, claro.
Chamamento ignorado
Imaginava este jornalista que seria convocado a prestar eventuais esclarecimentos àquela promotoria criminal. Qual nada. Bem diferente do caso do Residencial Ventura, que demorou quase seis anos para chegar ao desfecho do MP. Nesse interim, respondi a processo criminal da construtora. Só não fui sentenciado em última instância porque houve erro processual. Uma barbaridade.
O ministro Geddel Vieira Lima está cada vez mais enrolado no caso do edifício em Salvador. Aquele empreendimento imobiliário contraria a legislação de proteção ao patrimônio histórico. A pressão aumenta com novas descobertas. A Folha de S. Paulo trás mais informações denunciatórias hoje.
A autoproteção institucional da mídia de grande porte causa inveja a quem atua no jornalismo regional. É o caso deste profissional que não conta com a parceria dos demais veículos de comunicação. Todos fazem vistas grossas às irregularidades. Só saltam do muro, quando saltam, se todos os riscos inerentes à decisão desaparecerem dos radares.
Querem entender o que isso significa? Basta acompanhar a mecânica seletiva da Administração do petista Carlos Grande neste final de mandato, alvo de metralhadoras críticas de parte da imprensa. Bem diferente das lantejoulas ao longo das temporadas em que dominava o Paço Municipal, período no qual jamais contou com distanciamento crítico desta revista digital. Tampouco os demais titulares dos paços.
De todos os escândalos imobiliários dos últimos tempos na região possivelmente o mais intrigante seja mesmo o do Semasa. Como num passe de mágica macabro, todos os empresários metidos nas falcatruas escaparam às denúncias do Ministério Público Estadual. Enquanto isso, em caso análogo na Capital, com a chamada Máfia do ISS, o MP paulistano e a Prefeitura da Capital meteram bala nos delinquentes engravatados, embora ainda continuem livres, leves e soltos.
Vendedor de ilusões?
Seria este jornalista um vendedor de ilusões caso afirmasse que exagera na dose de ceticismo de que os novos prefeitos da Província do Grande ABC tomarão alguma atitude de fato para reduzir a carga de roubalheiras dos mercadores imobiliários. Eles, os mercadores imobiliários, estão espalhados por esse território em relações concorrenciais até a página três. Quando se trata de saquear a legislação vigente, são mais unidos que os integrantes se revoltam com as roubalheiras protegidíssimas dos engravatados.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!