Sociedade

Há muito mistério por trás
do lobista dos caças suecos

DANIEL LIMA - 09/12/2016

O advogado Edson Asarias poderá se tornar um caso de deboche batismal se alguém no futuro o relacionar ao destino da fábrica de estrutura metálica dos caças suecos Gripen prometida para São Bernardo. A Saab, que ganhou a corrida para abastecer a Força Aérea Brasileira, está em vias de deslocar a outro Município, provavelmente do Estado de São Paulo, a produção anunciada para a Capital Econômica da região. O peso da mudança estaria centralizado -- embora não integralmente debitado -- em Edson Asarias, homem de confiança do prefeito petista Luiz Marinho. 

Edson Asarias é um caso extraordinário de multiplicidade funcional na contratação da Saab, empresa sueca responsável pelo contrato de US$ 5,4 bilhões assinado pela então presidente Dilma Rousseff. Impetuoso interlocutor, desses que não medem esforços e meios para chegar ao objetivo, Edson Asarias atuou nas três pontas do processo que levaram à contratação da Saab. 

Como advogado do Grupo Inbra, indústria de produtos de defesa com sede em Mauá, Edson Asarias atuou para a empresa virar acionista do empreendimento. Como amigo e parceiro de Luiz Marinho, Edson Asarias dialogou junto à Saab também como servidor público extraoficial da Prefeitura de São Bernardo. Como consultor jurídico, Edson Asarias atuou também em nome da Saab, com a qual firmou contrato de cinco anos. 

A diversidade de atuação de Edson Asarias seria espécie de cordão umbilical a reunir as entranhas indispensáveis ao anúncio da fábrica em São Bernardo. Mas nem tudo que na teoria é perfeito reproduz perfeição na prática. Administrar tamanhas responsabilidades conjugadas exigia muito mais do advogado travestido de lobista. E ao que tudo indica houve escorregões que comprometeram o resultado esperado.  

E a Lava Jato?

O projeto Gripen está indo ladeira abaixo em São Bernardo porque Edson Asarias fez lambanças. Mas não seria o único responsável pela frustração que deverá ser comunicada oficialmente no começo do ano que vem. É verdade que existe, ainda, a possibilidade de os suecos atenuarem as dores dos petistas que tanto se esforçaram para fazer de São Bernardo o ancoradouro da fábrica sem muita importância tecnológica, mas, de qualquer forma, um endereço de investimento que Luiz Marinho utilizaria em eventual campanha eleitoral rumo ao Palácio dos Bandeirantes. 

Um módulo da fábrica estaria assegurado em São Bernardo. Bem menos, muito menos, que o conjunto prometido. Mas mesmo essa informação deve ser avaliada com reservas. Até que o final de janeiro chegue não está fora de cogitação a possibilidade de o ambiente pró-PT desmoronar e a fábrica bater asas de vez. A gestão petista de São Bernardo, na mira da Operação Lava Jato, seria um risco que afastaria de vez o compromisso da Saab. 

Edson Asarias é contabilizado como parte do débito que seria deixado pela Administração Luiz Marinho na conta do Gripen porque teria metido os pés pelas mãos. Algumas relações intermediárias nada ortodoxas teriam levado as partes a desgaste insuperável. Os suecos teriam travado o trem de pouso em São Bernardo por conta do que alguns consideram travessuras de Edson Asarias. Não se sabe exatamente o sentido do verbete “travessuras” utilizado por um dos envolvidos nas negociações. Considerando-se, entretanto, o tom diplomático, é possível que o verbete mais adequado seja bem mais contundente. 

Espalhafatos demais 

O próprio fato de que atuou triplamente nas negociações seria suficiente para encaminhar o contrato vencido pela Saab a uma zona cinzenta de desconfianças. Em tempos de Lava Jato não parece ser interessante para o capital estrangeiro com o grau de comprometimento dos suecos meter a mão na cumbuca de algo tão estranho como as intervenções de Edson Asarias. 

Faltou à Administração Luiz Marinho, segundo fontes do setor aeronáutico, um mínimo de discrição durante todas as fases que antecederam o interesse do petista pelos caças suecos. Marinho teria se exposto demais juntamente com Edson Asarias em uma relação considerada incestuosa. Mais que isso. Uma das indagações mais frequentes durante aquele período era justamente o por quê de o advogado ligado à Inbra não desgrudar do chefe do Executivo de São Bernardo. Quais interesses cruzados conectavam o prefeito e o advogado? 

Nestas alturas do campeonato, ou seja, desde que a Lava Jato entrou em campo, não faltam versões sobre o andamento de investigações que têm São Bernardo do ex-presidente Lula da Silva como objeto de interesse nacional. A contratação dos caças teria caído nas malhas da Operação Zelotes, que envolve a Receita Federal no desbaratamento de uma rede de lobistas intermediadores de compras de medidas provisórias e que teriam atuado inclusive na negociação dos caças suecos.  

Rede de complicações 

Não se sabe exatamente a extensão dos desdobramentos, mas não faltam informações. Edson Asarias estaria metido na encrenca juntamente com o prefeito Luiz Marinho. Tudo não passaria de especulação segundo outras fontes. A Saab já teria sentido o cheiro de complicações, por isso tirou o pé do acelerador que conduzia o projeto em direção a São Bernardo. 

Um dos anunciados despistes que os petistas teriam articulado para retirar o advogado Edson Asarias da linha de fogo dos federais seria a massificação da informação de que ele estaria seriamente doente e, portanto, fora de combate. Mas aparentemente não existe qualquer problema com um dos amigos mais próximos de Luiz Marinho. 

Edson Asarias é visto diariamente deslocando-se do escritório de São Bernardo até a Vila Vermelha, bairro de São Paulo vizinho a São Bernardo. Ele daria expediente na Eicon Inteligência em Controles. Essa empresa atua fisicamente numa espécie de fortaleza, com aparato de segurança de fazer inveja a sedes dos principais bancos do País. 

A Eicon seria a ponta do iceberg de um conglomerado portentoso em várias atividades e cuja origem está relacionada a uma organização que atuava desde os anos 1990 na recuperação de tributos municipais. 

Trata-se da Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios). Em 2004, a Folha de S. Paulo noticiou que a movimentação de contas bancárias do Banestado obtida pela Polícia Federal e que passou ao controle da CPI do Banestado apontou depósito de US$ 259 mil da Cpem em agosto de 1992 na conta de uma casa de câmbio do Paraguai também envolvida nos esquemas de lavagem de dinheiro dos casos PC-Collor e Tribunal Regional do Trabalho paulista.

A Cpem esteve no centro de um escândalo na década de 1990 que atingiu a cúpula do PT e o então presidente de honra da agremiação, Lula da Silva. O ex-secretário de Finanças de Campinas, Paulo de Tarso Venceslau, petista histórico, na época questionou contratos sem licitação assinados por administrações do PT com a Cpem e denunciou suposto tráfico de influência no partido. O resultado da apuração conduzida pelo partido foi a absolvição da cúpula da agremiação e a expulsão do próprio autor da denúncia. 

Mistério a desvendar 

Ainda segundo a Folha de S. Paulo, o depósito da Cpem foi feito em dinheiro numa conta da agência do Banespa de Foz do Iguaçu (PR). A conta pertencia à empresa Guarani Cambios S/A, de Ciudad del Este, e foi alvo de investigação, contra outras cinco contas da mesma casa, do inquérito 104/98 da Polícia Federal do Paraná. A Cpem, na época do depósito, era sediada em São Bernardo. Um dos sócios da Cpem, Luiz Alberto Rodrigues, participa como principal acionista da Eicon Inteligência em Controles diariamente frequentada por Edson Asarias. Ouvido pela Folha de S. Paulo na reportagem de 2004, Luiz Alberto Rodrigues negou qualquer transação com a Guarani Câmbios: Já o procurador da República, Vladimir Aras, da força-tarefa que investigou o caso, disse: “A maioria das casas de câmbio paraguaias participou do esquema CC5, ocultando depósitos de terceiros e usando laranjas para enviar o dinheiro para o Exterior”. 

A atuação do advogado Edson Asarias no conglomerado dirigido pelo ex-comandante da Cpem é considerada mistério a ser desvendado. Fala-se de tudo. Inclusive ou principalmente que seria sócio oculto do grupo empresarial que diversificou atividades a ponto de o núcleo da antiga especialidade da Cpem tornar-se ramificação de pouca importância econômico-financeira. 

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