Os novos prefeitos da Província do Grande ABC têm oportunidade de ouro para fazer da Fundação do ABC, holding pública que administra a saúde de quase todos os municípios da região (e também de outras localidades) uma prova de que estão dispostos a reformar o conceito de regionalidade também no campo econômico-assistencial. Como devem fazê-lo no campo econômico-desenvolvimentista com o Clube dos Prefeitos.
Tomara que não metam os pés pelas mãos, porque no Clube dos Prefeitos estão começando de forma equivocada a operação de reestruturação total indispensável ao recrutar um integrante de segundo escalação do governo do Estado em vez de contratar uma consultoria especializada em competitividade econômica.
O primeiro e indispensável passo a ser dado na Fundação do ABC é seguir o receituário que sugeri à associação dos prefeitos: coloquem profissionais para dar rumo e prumo à entidade.
Escrevo faz tempo (mais precisamente desde 2013) que a Fundação do ABC é uma caixa-preta. Mais que isso. Escrevi também que é o único modelo de regionalidade que deu certo ao longo dos tempos na Província do Grande ABC, embora os motivos não sejam nada nobres – muito pelo contrário. Mas nem por isso vou integrar o pelotão que pretenderia botar fogo e liquidar com aquela instituição no sentido funcional de ser, jogando-a às traças em favor de um corte municipalista. A Fundação do ABC precisa ser refundada, isto sim.
Corrigindo a trajetória
Jogar fora a potencialidade de racionalização de custos e de receitas da Fundação do ABC com a bacia das improdutividades cultivadas ao longo dos tempos seria uma tremenda burrice. Não será a volta ao passado de gestões autárquicas a salvação da lavoura.
O conceito de regionalidade que também invade o terreno da racionalidade financeira não pode ser subestimado na única organização extraterritório municipal da região. Os pecados capitais da Fundação do ABC não podem sacrificar medidas corretivas que se fazem necessárias há muito tempo.
Empreguismo, compadrismos, politiquismos, protecionismos, mandraquismos e tudo o mais que saltam à vista ou estão espertamente encobertos na Fundação do ABC podem ser extirpados. Basta que os novos chefes dos Executivos de Santo André, São Bernardo e São Caetano lancem mão de medidas imediatas.
A receita do bolo da moralização e efetividade da Fundação do ABC é simples: contratem uma agência especializada não só na formatação de um novo modelo diretivo e multimunicipalista mas também estratégica no uso dos recursos milionários de que dispõe a cada temporada – serão mais de R$ 2,5 bilhões no ano que vem.
Aprendendo com erros
Escrevo sobre a Fundação do ABC com a autoridade de quem é o maior crítico da trajetória da instituição desde que foi criada há quase meio século. Suprimir a instituição da face da Província do Grande ABC custaria muito caro em todos os sentidos. Há acúmulos de experiências que não podem ser desprezados. E também há inconformidades que, exatamente por existirem, oferecem duas perspectivas convergentes: a eliminação propriamente dita e o aprendizado para que não se repitam mais, depurando-se, portanto, o novo modelo dessas vicissitudes.
Não tenho a menor certeza sobre os rigores que marcariam a atuação dos prefeitos Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio nos próximos tempos da Fundação do ABC, bem como do Clube dos Prefeitos. Essas duas estataizinhas da região, sob o controle de gente que tem fortes ligações com as respectivas municipalidades, não podem seguir como estão. Estão estruturalmente falidas. Entendam “estruturalmente” no sentido mais amplo possível, que ultrapassa o terreno da materialidade.
A abundância de recursos financeiros e as inúmeras possibilidades de se golpear os critérios de moralidade e ética, sobretudo no manancial de impropriedades nos insumos farmacológicos, fazem da Fundação do ABC campo em princípio minado à garantia de que não haveria série de irregularidades.
Por isso mesmo a adoção de mecanismos de transparência e monitoramento na aplicação de recursos, bem como a qualidade dos serviços prestados, determinaria o ponto inicial de uma agência especializada.
Operação Bisturi
Em setembro do ano passado escrevi nesta revista digital uma análise (“Falta Operação Bisturi para acabar com a farra da Churrascaria Fuabc”) que provocou muito incômodo principalmente à direção da Fundação do ABC. Sei que sei que muitas providências foram tomadas para se opor a eventual consecução da sugestão de que a entidade era um prato cheio para a Polícia Federal.
Antes disso, em fevereiro do ano passado, sob o título “Fundação do ABC lubrifica suspeita de que poderia ser uma Petrobras”, também causou estresse. “Tudo é muito obscuro naquele conglomerado de prestação de serviços. O modelo de gestão, a área operacional, os setores administrativos, as instâncias de suposto controle, tudo enfim mantem-se blindado à curiosidade pública. Talvez seus responsáveis entendam que há um segredo da Coca Cola a ser preservado. Talvez haja mesmo segredos cabeludos” – escrevi.
Expliquei a origem da marca “Churrascaria Fuabc”, que utilizei pela primeira e provavelmente última vez naquele artigo. “Churrascaria se deve ao fato de a Fundação do ABC ter um regime presidencial determinado pelo rodízio dos representantes dos três municípios que lhe dão sustentação econômica e financeira” – expliquei.
Mais que o enigma utilizado por mim em 4 de junho de 2013 no título “Caixa-preta da Fuabc vai crescer com novo contrato de parceria”, o que deve preocupar quem quer experimentar com seriedade e comprometimento o conceito de regionalidade em muitas variáveis das atividades públicas e privadas da região é o sentido reformista que se espera vicejar entre os novos prefeitos da região.
Não há mais tempo a perder quando se trata de mexer com os cordéis corroídos das instituições municipais e regionais da Província do Grande ABC.
Tarefa coletiva
Os novos prefeitos servirão de faróis e de motivação ao restante das organizações locais se passarem sebo de comprometimento nas canelas da determinação e mobilizarem-se para valer. Entreguem essas rapaduras regionais a quem entende o ramo. Diminuam o peso do funcionalismo público e de protegidos políticos do dia a dia dessas organizações. Sejam apenas monitores e orientadores eventuais de políticas administrativas e públicas que passariam a demarcar a atuação da Fundação do ABC e do Clube dos Prefeitos. Sirvam de referenciais às transformações de que tanto precisamos. Associações comerciais, Ciesps, OABs e toda essa parafernália de entidades de classe certamente seriam impelidas ao ajuntamento inteligente e produtivo.
O que os prefeitos da região não entenderam desde que regionalidade passou a ser um verbete abstrato do léxico do desenvolvimento da Província do Grande ABC é que o fardo de políticas públicas municipais se tornará menos pesado na medida em que resoluções no campo da integração dos sete municípios se consolidarem como ativo revitalizado a cada temporada, em vez de um passivo assustador, como o que temos registrado.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!