A Operação Lava Jato está chegando e vai fazer um grande (e mais que esperado) estrago na Província do Grande ABC. O “está chegando” é força de expressão que dá elasticidade ao tempo. Mais que elasticidade, dá subjetividade ao tempo. Para quem está envolvido como corrupto o “está chegando” é uma agonia. Cada dia que passa é uma esperança de se livrar do abacaxi que virá. E também uma tortura do que será impossível escapar.
Sabe-se que a megadelação premiada da Odebrecht causa arrepios na Província do Polo Petroquímico e de obras públicas diversas. Quem cair na besteira de que o modus operandi federal daquela empreiteira não se teria espalhado por todos os rincões precisa acordar.
O jogo jogado no passado na região não era diferente do jogo jogado no País como um todo nas cartas marcadas entre empreiteiras e gestores públicos. Quem supõe que a região seria um oásis de moralidade em meio ao pandemônio de trambicagens é ruim da cabeça da ingenuidade ou doente do pé da safadeza pretensamente impune.
CapitalSocial já conta, com este texto, com 166 artigos que se referem direta ou indiretamente à Lava Jato. E possivelmente chegará a um número ainda mais robusto num futuro próximo, porque o bicho vai pegar.
Dezembro de 2014
A primeira matéria de CapitalSocial sobre a operação dos federais que levam terror aos nichos de corrupção das empreiteiras no País foi publicada em 1º de dezembro de 2014, sob o título “Não faltam indícios que estendem Lava Jato à Administração Luiz Marinho”. Vale a pena resgatar alguns trechos daquele trabalho jornalístico, de modo que os leitores não percam o foco em dois pontos: não fazemos desta publicação digital um poço de omissões deliberadas e tampou uma tempestade pré-fabricada. Lidamos com a realidade dos fatos. Vamos então a alguns trechos que explicam aquela matéria:
A possibilidade de a Administração Luiz Marinho estar envolvida na rede de corrupção da Operação Lava Jato é muito mais provável do que o prefeito de São Bernardo gostaria. As relações com a empreiteira OAS, uma das integrantes do clube que transformou a Petrobras em palco preferencial de roubalheiras investigadas pela Polícia Federal, são mais que suspeitas. Marinho contou com forte colaboração da empreiteira, e de sua parceira regional, a Emparsanco, para arrecadar dinheiro às duas campanhas em que se tornou vitorioso na disputa eleitoral de São Bernardo. Mas isso é apenas uma parte do enredo que coloca sob forte suspeição o relacionamento entre a gestão petista e uma das grandes operadores do escândalo da maior estatal brasileira. Nos quatro anos do primeiro mandato de Luiz Marinho, entre 2009 e 2012, a megaempreiteira assinou contratos que superam R$ 1 bilhão, em valores nominais, com o gestor petista. Houve várias denúncias envolvendo o relacionamento entre a empreiteira e a administração petista.
Obscuridade total
Em fevereiro de 2015 editei outra matéria (entre tantas) sobre a Operação Lava Jato. Agora mais contundente e ampla, porque saia da faixa de risco da OAS, cuja delação premiada do presidente Leo Pinheiro foi embananada pela Procuradoria Geral da República por conta de vazamento. Sob o título “Que tal o Clube dos Prefeitos fazer um balanço da Operação Lava Jato?”, destaco os seguintes parágrafos:
O título é mesmo uma provocação, assim como o texto que se segue. É com provocações que se constrói a democracia da informação. O jornalismo de conveniência é uma praga que imobiliza a sociedade e a transforma em massa de manobra. O que quero dizer é que o prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC, Luiz Marinho, que ocupa de fato e para valer o comando do Clube dos Prefeitos, deveria reunir os demais chefes municipais e respectivas assessorias para apresentar à sociedade regional um balanço completo sobre a atuação das empreiteiras que constam da lista de negativadas da Petrobras no conjunto de obras encomendadas na região. Essas empresas só foram parar na lista negra da Petrobras porque a Polícia Federal e a gama de procuradores da Justiça, além do juiz Sérgio Moro, descobriram as maracutaias que colocaram fogo na estatal.
O Clube dos Prefeitos, em suma, deveria proceder à completa transparência dos respectivos titulares dos paços municipais nas relações com as empresas apanhadas em delito na Operação Lava Jato. Ou que estavam próximas a serem apanhadas no contrapé de negociatas. São muitas as informações sobre os tentáculos de empreiteiras e parceiras que atuavam na Petrobras e que por força do milagre da multiplicação de interesses escusos ou pouco republicanos aportaram para valer ou estavam prontas a atuar para valer em empreendimentos localizados na região. O assunto virou tabu entre os administradores públicos locais e os respectivos entornos de governabilidade viciada. Falar em Odebrecht, OAS e tantas outras empreiteiras é algo como gritar Palmeiras em meio à Gaviões da Fiel. Fogem todos de temáticas que tenham a Petrobras como centro de operações. Não só a Petrobras, mas ramificações do governo federal -- inclusive do programa Minha Casa Minha Vida com montanhas de irregularidades.
Fosse o Clube dos Prefeitos algo comprometido com a sociedade regional -- não um desfile de egos e de planejamento furado porque fundamentado em equívocos analíticos --, fosse algo que transcendesse a política partidária que escraviza o bom senso e a idoneidade de agentes públicos, uma das primeiras medidas anunciadas por Luiz Marinho antes de deixar apenas por formalidade a presidência para Gabriel Maranhão, de Rio Grande da Serra, seria a completa inspeção de projetos aprovados e em execução que envolvessem o grupo de 23 empresas da lista negra da Petrobras, anunciada em dezembro do ano passado.
(...) Como não existe na Província do Grande ABC qualquer instância a antepor-se às travessuras com dinheiro público tanto no varejismo de negociatas em forma de obras e serviços realizados apenas e tão somente na formalidade de emissão de notas fiscais fajutas como em grandes operações, o que resta mesmo é esperar por fatores extraterritoriais. Se depender do Clube dos Prefeitos qualquer iniciativa restauradora da moralidade pública em momentos como os atuais, em que vicejam informações sobre o estoque de estragos potenciais da Lava Jato na região, estaremos perdidos e mal pagos.
Matéria apimentadíssima
Naquele mesmo ano de 2015 – mais precisamente no dia 10 de novembro -- redigi e editei outra matéria apimentadíssima sobre a Operação Lava Jato. Sob o título “Entenda por que Marinho está enrolado na Operação Lava Jato”, escrevi o seguinte, nos principais trechos:
A revista Veja desta semana destaca a participação do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, no escândalo da Petrobras desvendado pela Operação Lava Jato. Havia muito tempo a Província do Grande ABC esperava pela confirmação do envolvimento do petista no maior escândalo da história do País. Como o PT está metido até o talo nessa imensa sujeira, seria muito pouco provável que Luiz Marinho, um dos destaques da cúpula da agremiação, não tivesse tido participação. Ainda mais que é amigo muito, mas muito próximo, do ex-presidente Lula da Silva. (...) As obscuridades que cercam o malfadado projeto de construção de um aeroporto internacional em área ambiental de São Bernardo (o tal Aeroportozão ao qual nos referimos muitas vezes aqui), os segredos sobre a área (e também sobre o lobby) em que seria instalada a fábrica que atenderia ao projeto dos caças suecos Gripen, o apressado e mal-cheiroso projeto que alterou substancialmente o uso e a ocupação do solo de mais de dois milhões de metros quadrados de áreas próximas ao previsto traçado do Monotrilho em São Bernardo, a suspensa obra de construção de usina de lixo, o quadro acionário da empresa que construiu o que foi possível do Museu do Trabalho e do Trabalhador – tudo isso é parte de um quebra-cabeça em que prevalecem peças e mais peças de informações duvidosas.
A lista de inapetências administrativas de Luiz Marinho é tão extensa que abarca também paradoxos, como o fato de que, mesmo tendo sido realizada durante a administração do antecessor William Dib, o prefeito petista preferiu acobertar as irregularidades da licitação de terreno público arrematado por empresários que agiram como quadrilha organizada. Um relatório deliberadamente omisso foi enviado ao Ministério Público de São Bernardo para acobertar a travessura administrativa, medida com a qual pode exibir, mesmo que precariamente, a idoneidade do negócio de um contribuinte sobejamente conhecido por industrializar moradias e complicações no Ministério Público do Consumidor e no Ministério Público Estadual que trata de corrupção no caso da Máfia do ISS em São Paulo.
Pouquíssimas ações da gestão Luiz Marinho são transmitidas ao público consumidor de informações com a garantia de que não existe outro lado menos róseo a ser desvendado. A troca do Procurador-Geral do Município, José Roberto Silva, receptor da denúncia desta revista digital sobre o escândalo do terreno arrematado para a construção do empreendimento Marco Zero, da MBigucci, é emblemática do modo de governar de Luiz Marinho. José Roberto Silva desapareceu do cronograma da Prefeitura de São Bernardo pouco tempo depois de assegurar que tomaria todas as providências para punir exemplarmente os servidores públicos que participaram da encenação da licitação do terreno entre a Avenida Kennedy e a Avenida Senador Vergueiro. Em nenhuma das duas incompletas investigações do MP de São Bernardo houve colaboração efetiva da Administração de Luiz Marinho. Muito pelo contrário. A ordem parece ter sido dada no sentido de que se apresentassem tudo, menos o que de fato interessava para resguardar os interesses dos contribuintes.
Escândalos cruzados
Para completar essa breve exposição de artigos que tratam do escândalo da Petrobras e de outras organizações do sistema estatal brasileiro, eis alguns trechos do artigo que escrevi em 3 de fevereiro deste ano sob o título “Lava Jato e Zelotes, cruzamento que inquieta figurinhas carimbadas”:
Qual seria o resultado do cruzamento da Operação Lava Jato e da Operação Zelotes para figurinhas carimbadas da política regional, algumas das quais estouraram no mercado nacional de notoriedade -- não necessariamente de notabilidade -- caso do ex-presidente Lula da Silva? Só o tempo deverá responder a essa provocação que reflete o desejo da sociedade. Certo mesmo é que a Administração Luiz Marinho está particularmente inquieta. E na medida em que se cala, mais gera especulações sobre ramificações dos dois casos na região. O preço a pagar pela falta de transparência nos assuntos públicos é a degradação da imagem de administrador. Pelo andar da carruagem, quando Luiz Marinho deixar o comando da Capital Econômica e Capital Política da região, os níveis de desconfiança dos eleitores e contribuintes serão preocupantes. Fazer sucessor, ao que tudo indica, nem pensar. Pensar em virar governador do Estado? Loucura. (...) Entre todos os pecados capitais do maior líder petista da região – maior, nestas alturas do campeonato não quer dizer muita coisa, ou significa muita coisa negativa – o principal é mesmo a ojeriza do ex-sindicalista a prestar informações à imprensa longe do mandonismo de relacionamento cultivado com repórteres nos tempos de liderança metalúrgica.
O que tudo isso tem a ver com a Operação Lava Jato e a Operação Zelotes? Primeiro, a Operação Lava Jato tem ramificações profundas na região, principalmente no Polo Petroquímico, e a presença maciça da OAS, uma das empreiteiras metidas em enrascada, a dominar o orçamento de obras de custos suspeitos em São Bernardo do prefeito Luiz Marinho. Segundo, a Operação Zelotes, voltada ao desmascaramento de compra de medidas provisórias em favor do setor automotivo, está chegando aos caças suecos Gripen que, conforme foi anunciado pelo prefeito Luiz Marinho, terão uma fábrica de estruturas em São Bernardo. Uma fábrica muita estranha porque se sabe de atuação do lobista Edson Asarias, assessor informal de Marinho. Uma prometida delação premiada de um dos envolvidos no caso certamente colocará Asarias no centro do escândalo. O resumo da ópera é simples: quando os sindicalistas sem freios críticos de uma mídia submissa às vontades de supostos representantes de trabalhadores se lançam em outras arenas, tudo pode acontecer. Principalmente quando holofotes menos generosos lhes são direcionados.
Desafio aos leitores
Para encerrar, faço um desafio aos leitores: procurem nos demais veículos de comunicação da região algo que se apresente minimamente como concorrente (ou parceiro de vocação à transparência) na disputa por espaços e análises sobre a Operação Lava Jato. Para poupá-los de desperdício, retiro a sugestão porque todos vão perder tempo mesmo. Somente CapitalSocial debruçou-se para valer e irredutivelmente na abordagem regionalizada do maior escândalo da história do País. CapitalSocial honra a marca com que foi concebida.
Museu do Trabalhador
Escrevi este artigo na tarde de ontem. Poucas horas antes da deflagração da operação dos federais que tem o Museu do Trabalho e do Trabalhador como alvo. Se comparado a outros casos da Província, trata-se de pinto pequeno. Há situações muito mais graves a serem exploradas. Como os casos que cito neste artigo. E muito mais ainda. Como o Polo Petroquímico, por exemplo. Se os delatores da Odebrecht forem mesmo profundos, não ficará pedra sobre pedra.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!