Sociedade

Uma homenagem
para Celso Daniel

DANIEL LIMA - 10/02/2005

Foi espécie de tapa de luva de pelica. E que tapa! Em resposta à omissão generalizada de manifestações pelo terceiro ano de sua morte, em 22 de janeiro de 2002, a memória de Celso Daniel foi resgatada em forma de avalanche de paixão por Santo André. Sim, os 92,2% de índice de auto-estima municipal demonstrados por 400 moradores do Município, entrevistados pelo Instituto Brasmarket, os quais representam estatisticamente 670 mil habitantes locais, foram recorde no Grande ABC. Nenhum morador ama tanto sua cidade, garantem os dados do Brasmarket. 


A mais amada da região não é obra individual de Celso Daniel, mas os 10 anos à frente do Paço Municipal com políticas públicas revolucionárias e, principalmente, dadas as circunstâncias, o impacto de seu assassinato, que o colocou como maior mártir da história regional, deslocaram o eixo de paixão municipal para ângulo surpreendente: Santo André aprendeu a se amar mais e mais com saudades de Celso Daniel. 


O ex-prefeito engendrou série de medidas diferenciadas na gestão pública. Do orçamento participativo à urbanização de favelas, da modernização do sistema viário à humanização do trânsito, do arejamento de praças públicas ao projeto Eixo Tamanduatehy, da reorganização administrativa à aproximação entre contrários econômicos e sociais, da criação do Consórcio de Prefeitos ao lançamento da Agência de Desenvolvimento Econômico Regional, do integracionismo regional ao salto rumo a um ministério da Presidência da República que a própria morte obstou. 


Com isso e muito mais, como o apoio ao sucesso do Santo André, campeão de várias competições, inclusive da Copa do Brasil, Celso Daniel contribuiu para forjar uma cidade que vem do passado forte de auto-estima, sem dúvida, mas que carecia de liderança moderna para contrabalançar as dores das perdas industriais ao longo de 30 anos. 


Não é fácil chegar à frente de Diadema e de São Caetano no Campeonato Regional de Auto-Estima. Diadema se tornou vice-campeã com 89,9% de paixão dos moradores, contra 89,7% de São Caetano. As duas cidades são semelhantes em suas respectivas realidades. São Caetano foi forjada a partir do começo do século passado por imigrantes europeus e se homogeneíza numa classe média baixa sem grandes solavancos sociais. Diadema foi construída a toque de caixa a partir dos anos 60 por retirantes de diferentes partes do País, atraídos pelo emprego industrial abundante. Erigiu a própria identidade principalmente nos últimos 20 anos de prefeitos socialistas que, mais recentemente, começaram a completar a obra olhando sem preconceitos para agentes capitalistas. 


Decepção em São Bernardo 


A decepção que saltou das planilhas do Instituto Brasmarket foi uma São Bernardo de apenas 51,7% de bem-querer, contrapondo-se aos 76% de votos válidos com que o prefeito William Dib massacrou o petista Vicentinho Paulo da Silva nas eleições do ano passado. O resultado final não surpreende porque São Bernardo foi tomada nas duas últimas décadas por levas de excluídos sociais que ocuparam a periferia e, também, porque sofreu fortíssimas baixas em emprego industrial das montadoras e autopeças arrasadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso e pela guerra fiscal e só recentemente em fase de modesta recomposição. 


A performance mais sofrível é de Mauá, que conseguiu apenas 27,3% de índice de bem-querer de 370 mil moradores, sempre considerando a metodologia do Instituto Brasmarket. Igualmente de origem e velocidade migratória norte-nordestina de Diadema, Mauá não conseguiu amarrações culturais e peca por profundas deficiências de infra-estrutura urbana e social que cobram muitos recursos orçamentários de uma Prefeitura às voltas com imensas dívidas. O impacto negativo da falta de um prefeito titular, por causa de encrencas jurídicas das última eleições, também abalou o orgulho municipal.  


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