Estresse? Afinal, o que é estresse? O grande desafio é desenvolver o que chamaria de logística de superação do estresse. Quando se consegue, ótimo. Alguém que trabalha em média pelo menos 14 horas por dia, de segunda a segunda, é candidato potencial a essa insidiosa sensação de que o mundo está desabando? Poucas vezes me senti permanentemente estressado. Nenhuma das quais por causa de eventual excesso de trabalho.
Como afirmou certa vez outro campeão de expediente, o milionário Antonio Ermírio de Moraes, trabalhar não mata. O que mata é a raiva. A diferença entre o megaempresário e os mortais comuns de assalariados, entretanto, é estratosférica: enquanto ele pode recorrer a consultorias especializadas para atrair profissionais que superaram todas as baterias espermatozóicas de recrutamento, os colaboradores de empresas de pequeno porte não têm como escolher chefes e parceiros de trabalho. Pior ainda quando se herdam batalhões alheios deslocados de princípios básicos de produtividade.
Se conselho valer como estratégia para driblar o estresse, sugiro que, além de ouvir atentamente os especialistas do ramo, os potenciais candidatos a engrossar a lista de enfartados, depressivos e revoltados devem conhecer a si mesmos. Simplificando: desenvolvam mecanismos próprios de autocontrole. Em muitos casos, podem ser ramais complementares da sabedoria científica. Junte-os, personalize-os e veja que os resultados florescerão.
No meu caso específico, há situações que me colocam no altar dos sensatos e que temperam o sangue quente de genealogia ibérica. Correr quase diariamente, ler intensamente e se programar para partidas de futebol na televisão são antídotos contra a vilanice dos maus pensamentos. Sim, porque o estresse poderia ser traduzido como vulnerabilidade permanente da alma às estocadas da vida moderna. A fortaleza que protege a alma é a inviolabilidade da mente às idiossincrasias, principalmente no ambiente de trabalho.
É conservadora, maniqueísta e por isso mesmo imprecisa a idéia de que estresse é um fio de alta tensão desastradamente deslocado que se manifesta no estardalhaço verbal aparentemente destemperado. Há estressados supostamente calmos, tranquilos, educados, sensíveis. Na verdade, são protagonistas de rotineira farsa no ambiente de trabalho. Eles se sentem na obrigação de parecerem tudo isso quando, de fato, espumam de raiva na alma vencida pela mente em falsete.
Os barulhentos que não engolem sapo, que dizem o que pensam e que não suportam hipocrisias corporativas geralmente estão em dia com os indicadores de saúde física e mental.
Entretanto, como a etiqueta moderna recomenda que se pratique gentilezas mesmo em situações de absoluta algazarra estrutural, lá estão nas corporações os engomadinhos a desfilar pencas de generosidade postiça. Imaginam eles se tratar da mais verdadeira das pérolas de relacionamento, sem se dar conta de que interlocutores igualmente tensos também se utilizam de disfarces.
É um manjadíssimo jogo de faz-de-conta que geralmente acaba silenciosamente no guichê de acertos de contas no setor de recursos humanos e, também, em desabafos ao psicanalista.
O que quero dizer com isso? Que máscaras corporativas contrastam com a essência de um herói espanhol famoso nas telas e nas páginas de gibi. Zorro, como se sabe, disfarçava-se para enfrentar adversários em combates violentos, desgastantes e, quando retirava aquela peça que encobria o semblante e impedia sua identificação, era um pacato cavaleiro, gentil e galanteador. No mundo corporativo temos Zorros em espelhos invertidos: vestem máscaras para vender a idéia de generosidade e companheirismo e, quando as retiram, no ambiente familiar, sentem calafrios, insônia e nervosismo.
Viva Zorro de verdade! Abaixo os Zorros corporativos!
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!