Não há campanha que pretenda reduzir o custo de apólices de seguro de veículos na região que resista aos fatos. Ainda mais nestes anos de recessão econômica e de reverberações sociais dolorosas provocadas pela Doença Holandesa Automotiva. Enquanto os números de roubos e furtos de veículos praticamente foram congelados no ano passado em todo o Estado de São Paulo, inclusive na Capital, aqui na Província do Grande ABC elevou-se em 19,61% o aquecimento das turbinas da criminalidade nessa modalidade que não tem margem de erro em forma de subnotificações, casos de roubos e furtos em geral.
Já faz muito tempo que nadamos contra uma correnteza de estupidez que pretende tornar a Província do Grande ABC vítima de insidiosa conspiração das companhias de seguros de veículos. Ainda acham alguns ufanistas retardatários que as seguradoras nos perseguem na aplicação dolosa de valores às alturas, em contraponto a tantas outras localidades. Inclusive a Capital vizinha.
Interviemos já faz muito tempo com o alerta de que os indicadores técnicos, por assim dizer, negavam qualquer argumentação discricionária. Somos um território fértil à roubalheira e ao furto de veículos. Somos incapazes de combater a origem do mal – a bandidagem especializada que procura geografias negligentes para mostrar as garras.
Legado econômico
O chamado Custo ABC foi forjado na esfera econômica para nos distinguir realisticamente de tantas outras cidades e regiões devido a incidência recorrente e sobressalente de adicionais no mercado de trabalho que nos tornaram pouco competitivos em âmbito nacional-além de tantos outros vetores, como logística por exemplo.
Posso estar enganado, mas partiu do médico e líder empresarial Fausto Cestari a marca “Custo ABC”, corruptela, por assim dizer, do “Custo Brasil”. Nenhum publicitário às avessas teria definido com tamanha precisão e síntese um dos males que nos assombram.
Mas há também o “Custo ABC” na área criminal, como bem mostram as estatísticas de roubos e furtos de veículos. Foram subtraídos da geografia regional de quase 1,5 milhão de veículos cadastrados nada menos que 23.524 unidades no ano passado, segundo registrou burocraticamente a edição de ontem do Diário do Grande ABC. No ano anterior, em 2015, foram 19.666 roubos e furtos. Por que avançaram tantos os casos se no Estado de São Paulo e na cidade de São Paulo os números praticamente permaneceram estáticos?
Está certo que a quebra do emprego industrial na região foi mais acentuada do que a média da Capital e do Estado, mas a diferença é escassa para justificar tamanha cratera numérica. Afinal, 20% de crescimento da criminalidade sobrerrodas é muita coisa perto da estabilidade geral no Estado.
Participação excessiva
Pretendia acondicionar mais números a esta análise, mas encontrei dificuldades para certos referenciais numa manhã muita corrida, na qual estou às voltas com alguns exames médicos que me conduziram dos céus numa sala de uma clínica e me levaram ao inferno na sala contígua. Mas isso não interessa.
Mesmo sem aprofundamento, é certo que ao colecionar 12,46% do total de roubos e furtos de veículos no Estado de São Paulo os sete municípios da região extrapolaram a cota que lhes está reservada. Não passamos de 6% da frota estadual. Ou seja: a incidência de furtos e roubos de veículos é o dobro.
A conclusão a que chegamos já faz tempo e que se repete neste artigo é que há roubos e furtos de veículos em excesso na região. A Polícia Militar parecia estar no caminho certo ao estancar a hemorragia nos últimos anos, tornando-a menos indigesta, mas desta vez os dados do ano passado são devastadores. E o comandante da PM, ouvido pelo Diário do Diário do Grande ABC de ontem, parecia sem ação. Estaria atordoado com os estragos. Querem ver o que ele disse ao Diário? Vejam:
(...) O comandante também destacou as dificuldades da PM no combate ao furto de veículos. Isso por conta da rapidez dos ladrões durante a subtração do bem. Foram 9.869 carros furtados na região no ano passado contra 8.614 em 2015. “A viatura passa e, muitas vezes, em apenas 30 segundos ele (criminoso) se apodera do veículo. É um combate difícil, por isso o Sistema Radar (projeto em que câmera do radar lê as placas dos carros em trânsito e envia informações para o sistema de controle da PM) já está sendo discutido com os prefeitos. Nesse ano fica um pouco difícil por causa da redução orçamentária, mas se as prefeituras começarem a trabalhar desde já, a gente tem chance de isso acontecer nos próximos anos” – disse o comandante da PM, coronel Marcelo Cortez Ramos de Paulo.
Muito mais cuidados
A melhor tradução às declarações do policial militar é a seguinte: cuidado triplicado com o patrimônio veicular de que dispõem os leitores, porque o chumbo grosso não vai dar trégua. A bandidagem está espertíssima entre outras razões porque sabe que há terreno fértil à redução de risco de amealharem lucros.
A Segurança Pública na Província do Grande ABC já foi bastante pior, deve-se reconhecer, quando se verificam vários indicadores tradicionais. Entretanto, os indicadores de roubos e furtos de veículos seguem teimosamente preocupantes. Houve um período de calmaria dentro da efervescência tradicional, mas a retomada vitoriosa dos bandidos não deixa margem a autoenganos: estamos fritos e mal pagos. Melhor: estamos fritos e esfolados financeiramente. As apólices dos veículos na região vão continuar muito mais salgadas do que em qualquer outro território do Estado.
Sei que não faltam muitas versões que dariam suporte a um coquetel de motivos diferentes aos apresentados pela Polícia Militar na manutenção dos índices de roubos e furtos de veículos. Eu mesmo fui vítima, ainda recentemente, de ação muito estranha, estranhíssima, a qual se encaixa perfeitamente numa das vertentes mais verossímeis do que chamaria de razões paralelas da criminalidade na região.
Tive de me conter e deixar para lá porque já me bastam as encrencas que o jornalista arruma como agente social que não abre mão de honrar a profissão. Como pessoa física não me tem sobrado tempo para comprar complicações. Mas o caso se tornou um monumento à desconfiança de que há caroço nesse angu.
Menos homicídios
Mas não são apenas de números deprimentes que vive a Segurança Pública da região. Continuamos a contabilizar menos homicídios a cada temporada. No ano passado foram 180 casos nos setes municípios de um total de 3.674 no Estado de São Paulo. Nossa participação relativa entre os paulistas foi de 4,90% dos casos. Dentro de níveis razoáveis de proporcionalidade da população. Houve queda de 15,49% em relação aos números do ano anterior, 2015.
Portanto, o desgarramento de roubos e furtos de veículos sinaliza, ou melhor, confirma mais uma vez, que essa distorção estigmatiza a região na área criminal precisa ser definitivamente resolvida. A Polícia Militar jogou a bomba no colo dos prefeitos. Será que os novos prefeitos, tucanos e assemelhados, vão cobrar mais ações do governo do Estado, igualmente tucano?
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!