Para não ferir suscetibilidades, recuei da decisão de escrever no título que a OAB da Província, subdivida em várias unidades municipais, vive de cafetinagem da OAB Federal. Fica menos chocante expressar essa avaliação apenas no corpo deste artigo, mas me deu vontade mesmo de escrachar uma realidade de conhecimento geral. A OAB da região é improdutiva quando se coloca na alça de mira de exigências atuações voltadas à moralidade pública.
Quer o leitor constatar que tenho razão? Há quanto tempo não se publica uma matéria sequer dando conta de que alguma subseção da OAB tomou iniciativa sobre delitos reais ou supostos delitos de administradores públicos?
Façam um esforço de memória. Mais um pouquinho. Puxem um tantinho mais. Viram, não encontraram nada, absolutamente nada. Bem diferente do Conselho Federal da OAB que protocola nesta sexta-feira pedido de impeachment inadiável do presidente Michel Temor.
Aqui na Província não existe nenhuma dificuldade aos prefeitos de plantão e aos que os antecederam. A entidade que teria maior lastro histórico para interferir em nome da sociedade não existe como representação defensora dos bons costumes sociais.
Controle do Executivo
O sequestro dos dirigentes da OAB – quando não o desinteresse da maioria, que se utiliza do dístico da entidade para lustrar ego e negócios – conta com os gestores públicos como indutores, quando não executores, de submissão consentida.
São inúmeros os casos de dirigentes da Ordem de braços dados com mandachuvas públicos locais. Toda sorte de amesquinhamento institucional se consolidou em troca-trocas. Quem entra com os fundilhos é a sociedade ingênua que, impregnada pela respeitabilidade geralmente seletiva da OAB Federal, não se dá conta de que está comprando gato por lebre.
Nos últimos anos vivemos na região um exemplar tão espetaculoso quanto inócuo na Ordem dos Advogados do Brasil. Fábio Picarelli fez da subseção em Santo André sucessão de iniciativas que fundiram esmero marquetológico e frouxidão programática. Vendeu a ideia de que era operante, revolucionário, transformador. Não passou de embuste quando se testam sensores de produtividade social.
Montou um plano para consagrar-se na política. Deu com os burros nágua. Imaginou que bastaria o dístico da entidade para demover obstáculos. À falta de conteúdo, ou à constatação de que o conteúdo não passava do padrão já cansado de guerra que a população não suporta mais, o castelo de areia desabou.
Mais espetaculoso
Há muito não se ouve mais falar de Fábio Picarelli. Provavelmente ele descobriu o outro lado da moeda da badalação incentivada por seus próprios propósitos individuais. Aqueles que lhe acenaram com futuro político deslumbrante, ante o vazio no espectro social que representava, viraram-lhe as costas e bandearam para os lados de um adversário bem mais experiente nas lides políticas -- o atual prefeito de Santo André, Paulinho Serra.
A menção a Fábio Picarelli não é escolha seletiva, embora não tenha pelo ex-presidente da Ordem de Santo André apreço como jornalista preocupado com a importância de se construírem novas lideranças sociais.
Fábio Picarelli entra nesse contexto porque tem configuração nítida, claríssima, do perfil dos representantes mais proeminentes da Ordem dos Advogados do Brasil na região: é ambicioso, bem articulado, trafega em rodas de gente sempre pronta a patrocinar candidaturas com a finalidade de, eleitas, manipulá-las e, também, conta com maleabilidade intelectual para ajustar-se a tudo que for conveniente à conquista de novos espaços territoriais.
É verdade que muitos dirigentes da Ordem na Província são mais comedidos, mais reservados, mas a maioria não foge muito do estilo picarelliano de ser, ou seja: consta dos quadros da entidade entre outros motivos porque sabe da existência de uma aprovação nacional à instituição forjada em momentos de trauma político, principalmente.
Por mais medíocres que sejam as unidades da OAB na região, a cafetinagem é lucrativa quando se tem à explorar um corpo reconhecidamente saudável (mesmo que seletivamente) no âmbito federal.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!