A crise política nacional carrega muitíssimas possibilidades de desmascaramentos e outras tantas de consagrações. Desta forma, mais que lamentar reputações destroçadas devemos comemorar a colocação de falseadores nos devidos lugares éticos.
Nesse time de desavergonhados pegos com as mãos sujas da incoerência e de contradições não faltam juristas, jornalistas, cientistas políticos, consultores diversos e tanta gente mais. Enfim, tudo que diz respeito aos mandachuvas, mandachuvinhas e formadores de opinião.
É claro que temos esses velhos conhecidos de traquinagens na Província dos Sete Anões. As agendas locais são implacáveis. Aqui, entretanto, há menos Imprensa, menos transparência e menos cidadania. Por isso a podridão custa a vir a tona. Até porque o Sistema Judicial é um repeteco do Brasil como um todo, onde escasseiam eflúvios da Operação Lava Jato. E emergem vagabundos éticos a criar pelos de supostas e insanáveis falhas dos federais em casca de ovo de irrelevâncias diante do objetivo central – colocar à exaustão, porque profilático, este País no noticiário político-policial.
Aprendi que a verdade não comporta mais que uma face e que, também, tem muito de embuste semântico quando surradíssimos clichês procuram minimizar a realidade. “A verdade não tem só uma face” é o equivalente ético a “Em time que ganha não se mexe” do mundo do futebol. Uma balela.
O mesmo peso
Se a então presidente Dilma Rousseff cometeu barbaridades fiscais comprovadíssimas, seu destino não poderia ser outro mesmo que o olho da rua. “Quem elege e quem derruba é o povo”, uma das frases feitas surradíssimas dos procrastinadores, não passa de discurso de imunidade seletiva que a estabilidade econômica e social deve relativizar sempre, quando comprovada sem sofismas.
Se o presidente que a substituiu, Michel Temer, recebeu na calada da noite, no Jaburu, um empresário da fuzarca para combinar propinas e outras coisas mais, e tudo foi suficiente gravado, a rua também é o melhor destino.
Qualquer coisa fora dessas referências é jogo de cena sórdido, mesquinho, que se admite como legítimo direito de defesa de quem tem interesses diretos, como no caso atual o presidente da República – nada a ver, portanto, com os demais participantes do tabuleiro da baiana de controle e disseminação de informação.
Jornalistas que se desnudaram militantes como Reinaldo Azevedo e mais alguns do mesmo perfil ideológico e partidário só têm mesmo de perder a credibilidade. Ouvi-los passou a ser objeto de curiosidade, não de conhecimento. Curiosidade para saber até que ponto chegarão ao fundo do poço. O uso da liberdade de opinião é tão sagrado quanto as consequências que evoca – de respeito ou de descarte de quem a emite.
Já, do outro lado da moeda, está a jovem jornalista Vera Magalhães, colunista do Estadão, titular de um programa de debates da Rádio Jovem Pan, no qual, quase estoicamente, resiste diariamente às barbaridades de um companheiro de trabalho, Carlos Andreazza tão estúpido à direita do espectro político-ideológico quanto muitos dos esquerdistas a quem tanta execra no dia a dia.
Não faltaram jornalistas militantes de esquerda, pretensos jornalistas convencionais, destruídos publicamente durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Da mesma maneira, quantas marcas individuais foram para o precipício nesse novo período? Quantas estão indo agora com sinais trocados?
Uma Província dominada
Na Província dos Sete Anões que, em tempos dourados, se reconhecia como Grande ABC, não tivemos crises politicas tão graves como as que nos últimos anos impactaram o Brasil. Nem mesmo quando se guardam as devidas proporções. Aqui não temos massa crítica, independência jornalística, inconformismo social e tantos outros elementos a fermentar situações que conduziriam a determinado prefeito ao cadafalso. Vivemos às franjas de uma região metropolitana em que São Paulo é a estrela solitária e avassaladora. Sobram-nos migalhas midiáticas. Para sorte dos malfeitores -- que os temos aos magotes.
Aqui os legislativos pintam e bordam em parceira com os Executivos. Ou seja: tanto atuam com força coletiva para colocar o prefeito de plantão naquela posição nada confortável que todos imaginam como também, por reviravoltas que o mundo dá, são submetidos ao autoritarismo do mesmo prefeito.
Chegamos ao desplante regional de um clube de futebol por si só de trajetória diretiva e organizacional duvidosa, caso do Água Santa, contar com uma bancada poderosa de vereadores em Diadema. Tudo fica ainda mais próximo ao horror institucional quando se dá ouvido a determinadas especificidades dessa agremiação. O leitor imagina a possibilidade de alguma torcida organizada dos times grandes de São Paulo contar com uma bancada de vereadores? Pior que isso: imagina a Imprensa calar-se ante tamanho absurdo? Pois nesta Província dos Sete Anões se cometem as maiores barbaridades contra o interesse público e a rotina de silencio acovardado ou cúmplice não se altera.
Caindo do cavalo
Por essas e outras nuances não admito que o jornalismo seja ferramenta de exercícios seletivos e contraditórios de ideologias e partidarismos. Por isso me irrito quando lembro ou vejo no cotidiano prático de quem tem sede de conhecimento que os mesmos personagens nacionais que se contradizem em situações semelhantes, que se traem diante de escândalos a incomodar seus aliados ideológicos ou mesmo de outro tipo, têm aqui réplicas autênticas e desmoralizadoras.
Não é preciso partir para a nomeação de casos de incongruência pura para reafirmar esses termos. Contamos com especialistas em pular de galho em galho, não interessa a que partido pertença o titular do Executivo do momento e tampouco o que fora dito num passado distante ou mais recente.
O jogo de composição de maioria dos legislativos é de tal magnitude uma manifestação de abusos cometidos em nome da democracia que, no fundo, perpetua o que há de mais deletério na atividade política. O troca-troca que o governo Michel Temer promove na Comissão de Constituição e Justiça nestes dias é a expressão do modus operandi nacional. O municipalismo é a escola do crime político-partidário que Brasília federaliza com atraso. Os críticos de manobras oportunistas de hoje são os intransigentes defensores das mesmas medidas amanhã.
Nenhuma reação
O que dizer então das instituições públicas e privadas, além das sociais, que giram em tornos dos respectivos paços municipais? Por mais que procure um exemplo que possa se tornar exceção e, com isso, o retire da generalização, não existe na Província dos Sete Anões uma única organização coletiva com idoneidade somada a credibilidade adicionada de independência multiplicada por rebeldia e catalogada como opositora do lugar comum. E que lugar comum é esse?
O alinhamento automático às forças políticas de plantão. O adesismo é tão sem-vergonha, tão descarado, que se manifesta, paradoxalmente, de maneira bastante discreta: a entidade faz de conta que não consta do quadro de instituições da cidade ou da região e seus dirigentes, muitos apaniguados do Poder Público Municipal, fogem de qualquer tipo de constrangimento. Trabalha-se muito nos bastidores.
Quem mais poderia oferecer de contrapartida de responsabilidade social na região, por ter o lastro da instituição em nível federal tão prestigiado nestes tempos de roubalheiras de cromo não-petista, é a maior expressão de inutilidade institucional. Caso da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), cujo embrenhamento nas ramificações dos poderosos dos paços municipais surpreende os políticos profissionais pelo esmero na arte de ajustamentos nada republicanos.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!