Eis que encontro no noticiário desta quarta-feira dois modelos a catalogar como primeiros exemplares de PIL (Produto Intelectual Líquido) da Administração Pública da Província dos Sete Anões. Os prefeitos Paulinho Serra e Orlando Morando colocam Santo André e São Bernardo no roteiro social que o PSDB pretende espalhar numa quadra da vida político-administrativa do País em que o PT está alijado temporariamente ou não das principais disputas eleitorais.
Ou seja: os tucanos contrapõem ao socialismo partidarizado e compartimentado do PT um projeto de aproximação com a sociedade em geral, não os segmentos mais populares apenas. Ninguém ainda se deu conta disso na mídia entre outras razões porque o prefeito paulistano João Doria é um exagerado sem experiência pública e faz de ações localizadas marketing extremamente agressivo.
Ao incluir tanto um programa social quanto outro no conceito de Produto Intelectual Líquido, está mais que na cara que aprovo as medidas. É difícil mensurar o impacto das duas iniciativas. Daria maior pontuação ao projeto Amigos da Praça que Paulinho Serra botou em campo. A marca não me agrada porque personaliza algo que só terá sustentabilidade caso se insira na comunidade mais próxima dos espaços beneficiados. Teria proposto “Praça da Cidadania” fosse consultado pelo Paço Municipal de Santo André. “A Praça é Nossa” também seria uma boa pedida.
Atuação dos moradores
O programa Amigos da Praça, como conta a edição de hoje do Diário do Grande ABC, consiste na interlocução e cooperação permanente do Poder Público com moradores de bairros dotados de praças públicas. A premissa é que o espaço seja preservado com atuação direta dos moradores.
Segundo o noticiário, 40 das 50 praças previstas à adoção nesta temporada já estão com patrocinadores, pessoas físicas locais e empresas. Até o final do próximo ano haveria 100 praças recuperadas e preservadas.
Tenho reservas ao patrocínio de empresas que, entre outros problemas de ordem ética, estão em divida com o Poder Público. Caso específico da MBigucci, autoanunciada patrocinadora. Medidas restritivas deveriam ser aplicadas. Nada impede que se enxergue a adesão como contraponto de marketing para aliviar a barra de imagem chamuscada.
Recuperando terreno
Mas isso é o menos importante, na verdade. O principal – que não consta da matéria do jornal tanto em forma de informação quanto de declaração do prefeito tucano – é o motivo da iniciativa ingressar no ranking do Produto Intelectual Líquido da Província dos Sete Anões. Afinal, Amigos da Praça incentiva algo preciosíssimo que se extingue nas áreas metropolitanas tão açoitadas pela correria à sobrevivência: o sentimento de pertencimento, de quem não está por acaso em Santo André ou em qualquer outro Município. Seria o começo de uma revolução de costumes sociais, por assim dizer.
Exatamente por conta disso, posso sugerir ao prefeito Paulinho Serra a manutenção do Amigos da Praça com intenso, cuidadoso e analítico monitoramento. Mais que a manutenção dos espaços pesa a imperiosidade de desenvolver ação controlada, no bom sentido da expressão, para tomar o pulso da sociedade em várias geografias municipais.
A reconstrução da cidadania municipal nesta Província passa por série de ações microcósmicas em princípio mas que, com visibilidade, poderão gerar frutos inimagináveis.
Quando a sociedade enxerga com carinho e atenção as coisas públicas a partir do ambiente mais próximo da moradia, há possibilidades de deflagrar novas políticas que ultrapassariam o terreno supostamente material. Encaixa-se um golpe fatal na letargia generalizada que nos remete a um quadro de preocupação com o que se convencionou chamar de Capital Social, fonte de inspiração desta publicação.
Programa assistencial
Já a ação do prefeito Orlando Morando está vinculada ao Fundo Social de Solidariedade, sob a guarda de sua mulher, Carla Morando. Trata-se de aproximação do Poder Público de empreendedores privados para tutelar entidades assistenciais do Município. O “Adote uma Entidade” possibilita, segundo o noticiário do Diário do Grande ABC, que a livre iniciativa apadrinhe instituições com doações financeiras e ações chamadas de soluções de demanda. A Bombril é a primeira a ser consultada.
Há 70 empresas cadastradas no programa do tucano que tem sonhos de chegar ao governo do Estado. O programa também não abrirá mão de participação de pessoas físicas. As chamadas soluções de demanda são explicadas num parágrafo mais abaixo da reportagem do Diário como um conjunto de medidas providenciais para dotar as entidades de infraestrutura física compatível com os atendimentos cada vez mais intensos. Casos de reformas em geral e também de suprimentos diversos, principalmente alimentícios.
Nossas Madres Terezas
O que o programa Adote uma Entidade lançado por Orlando Morando propõe foi realizado durante vários anos com amplo sucesso pela rede de supermercados Coop, empresa genuinamente regional. Tudo começou com os desdobramentos da criação do projeto “Nossas Madres Terezas”, que idealizei e realizei durante mais de uma década à frente da revista LivreMercado e uma das grandes sensações do Prêmio Desempenho.
A agudeza social do então presidente da Coop, Antônio José Monte, aflorou com um calendário de atendimento a inúmeras instituições do gênero, em forma de doações financeiras e, principalmente, obras. Monte correu em direção ao gol da solidariedade de maneira espontânea. Cheguei a acompanhá-lo numa visita a uma das entidades beneficiadas.
Tenho me manifestado nesta revista digital com certo ceticismo sobre o que chamo de quinquilharias dos administradores públicos da região. Essa toada vem do passado, mas se tem acentuado na medida em que escasseia dinheiro no orçamento municipal e abundam intervenções de marqueteiros que, à falta de disputas eleitorais inventam propostas cosméticas quando não maquiadas aos eleitos.
No caso específico do “Amigos da Praça” e do “Adote uma Entidade”, minha torcida é que tanto Paulinho Serra quanto Orlando Morando atuem muito além do necessário. Que enxerguem as iniciativas como o início de ampla programação que comportaria mais intervenções que colocariam a sociedade como um todo em frequentes diálogos com instituições sociais e corporativas da região.
O PSDB parece ter aprendido a lição que o PT executou durante muitos anos, ou seja, aproximar-se da sociedade muito além das circunstâncias do período pré-eleitoral. E, principalmente, sem distinguir entre os potenciais beneficiários vetores cromáticos que separam a sociedade entre avermelhados e azulados.
Que a disputa pelo voto do eleitorado, sagrada na Democracia, não seja uma corrida de soma zero. O pertencimento exalado nos cuidados com o espaço público a partir de uma associação entre comunidade e Prefeitura e ações minimizadoras das agruras sociais que as Nossas Madres Terezas e de Nossos Freis Galvão (que também incorporamos ao Prêmio Desempenho) tanto conhecem devem prevalecer como intervenções de maturidade dos gestores municipais.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!