Sociedade

Como fazer da mediocridade
liderança regional? Só rindo!

DANIEL LIMA - 07/12/2020

Há um movimento mais que manjado, quando não suspeito, que pretende transformar mediocridade municipal em sumidade regional. O jogo que está sendo jogado sem pudor e compromisso com o futuro do Grande ABC é uma anedota de mau gosto, mas que pode custar caro à região. Custar caro porque se vende gato por lebre. 

Paulinho Serra é um prefeito medíocre no sentido etimológico, mas o querem ver como a fina flor da regionalidade. Querem tirar leite de luminosidade da pedra de opacidade. 

Assim não dá. Por favor, não exagerem na dose mais que insuportável de vender bugigangas administrativas como se joias fossem. 

São abusados os criadores da ideia já colocada em prática de que Paulinho Serra é o prefeito-referência de que o Grande ABC tanto precisaria.  Chegam ao desplante de compará-lo em termos matemático-eleitorais a Celso Daniel. Erram porque não sabem calcular. E também erram porque confundem as bolas de números com capacidade intelectual e operacional. 

A subjetividade maliciosa é óbvia para quem pretende conjugar os viciados verbos da política partidária. Comparara-se uma ponta fantasiosa para fechar o ciclo em outra ponta --- eis a metodologia paroquiana dos mentores de Paulinho Serra bom da boca regional.  

Celso Daniel é o trampolim 

Trata-se de estabelecer pela premissa de números falsos, tratados como verdadeiros, um paralelismo entre a mediocridade do atual ocupante do Paço Municipal de Santo André e a imbatível gestão de Celso Daniel. Uma matemática que, além de equivocada, é despropositada historicamente. Afinal, desconsidera os contextos. Celso Daniel é o trampolim da traquinagem. 

Trataremos dos números em outra edição. Hoje ficaremos com o que se resumiria como gestão pública. 

Essa movimentação não passa, portanto, de um mais que arquitetado projeto de poder continuado, legítimo na política em qualquer lugar do planeta. A gravidade é que pretendem atingir esse objetivo com o mascaramento dos fatos.   

Brincadeira de computador

Incorporar à figura de Paulinho Serra o brilho eterno de Celso Daniel não é algo que se suporte nem mesmo em eventuais brincadeirinhas em computadores, com sobreposição de imagens, quanto mais como prática de um marketing rastaquera disfarçado e turbinado de desempenho político-administrativo.

Vou fazer breve exposição dos motivos que me levam a considerar a empreitada mais que patética, porque herege. Brinca-se com o futuro de Santo André e da região. Os quatro anos do primeiro mandato de Paulinho Serra o consagram como prefeito-vereador. Prefeito dos prefeitos e dos sonhos de redenção desenvolvimentistas do Grande ABC, como pretendem fazer crer mandachuvas e mandachuvinhas de plantão, só na outra encarnação. 

Vou ser generoso com o prefeito Paulinho Serra. Generoso mesmo. Tanto que da enorme relação de contrapontos que tenho apresentado ao longo dos quatro anos de modo a oferecer à sociedade consumidora de informações um mínimo de atenção ante os lobistas que estão por trás da gestão pública de Santo André, optei por ficar com apenas uma dezena.  

 Varejismo de políticas públicas.

 Obscuridade na gestão financeira. 

 Manipulação de dados econômicos e sociais.

 Desprezo ao Custo Santo André.

 Descaso com a desindustrialização.

 Intolerância à crítica fundamentada.

 Materialidade de obras sem alma. 

 Negócios obscuros e protegidos.

 Baixa articulação institucional.

 Permissividade imobiliária. 

Como se observa, temos uma dezena de gargalos na gestão de Paulinho Serra. E tudo isso colocado no papel sem o suporte da Internet. Por razões técnicas, não tive acesso ao site desta revista digital neste final de semana. Queria fazer algumas consultas sobre o que escrevi dos quatro anos de Paulinho Serra, além do que a memória comporta. Não consegui. Mas isso não tem tanta importância assim. As “obras” do tucano são tantas e tão expressivas que não se perdem no tempo. 

 Varejismo de políticas públicas.

Qualquer prefeito, de uma grande cidade ou de um pontinho perdido no mapa nacional, realiza obras de acordo com o orçamento. São dinheiros obrigatoriamente dispostos à execução de tarefas elementares. A isso chamo de varejismo de políticas públicas. Paulinho Serra é especialista no tema. O tucano é curtoprazista. Não enxerga nem imagina o que está além da esquina do tempo imediato. 

 Obscuridade na gestão financeira.

Fosse de fato e para valer um prefeito reformista, algo raríssimo na política nacional, estaria expondo com certa frequência a situação econômico-financeira de uma Santo André cujos custos de manutenção da máquina pública invadem o território do equilíbrio desejado.

 Manipulação de dados econômicos e sociais.

É marca registrada do prefeito de Santo André (mais que qualquer outro da região e da maioria dos municípios brasileiros) uma queda irrefreável ao fantasioso numérico. A equipe de manipuladores estatísticos que o cerca não perde uma oportunidade para dar interpretação distorcida da realidade econômica e social do Município. Mais que isso: arvora-se o prefeito de dono absoluto dos números supostamente favoráveis, como se não houvesse passado retroalimentador de investimentos públicos. E, em situação reversa, procura desvincular-se de responsabilidade quando os números o contrariam.

 Desprezo ao Custo Santo André.

O anúncio de que a gestão de Paulinho Serra teria congelado os valores relativos ao IPTU à próxima temporada carrega um viés de fraude informativa na medida em que a própria matéria expõe que haverá correção inflacionária. Em qualquer lugar do mundo -- e em qualquer idioma -- congelamento significa a manutenção do estado com que foi concebido ou aprovado. Se um contribuinte pagou neste ano algo como R$ 1 mil reais de IPTU, o congelamento significaria a remessa de carnês no valor de R$ 1 mil reais. A correção monetária descongela. A pressa em tomar uma medida que sugere um ganho do contribuinte que não se configura na prática (muito pelo contrário, tantos os efeitos corrosivos da pandemia) é o cartão de visitas da política de comunicação de Paulinho Serra. O Custo Santo André do setor público se rivaliza com o Custo São Caetano. A sociedade paga o pato da desindustrialização e da quebra de repasses do ICMS, entre outros tributos. Paulinho Serra jamais se dispôs a colocar o custo tributário em debate com a sociedade. A crise do IPTU foi o ponto máximo da baixíssima capacidade de interação com o público. 

 Descaso com a desindustrialização.

Embora tenha tido a oportunidade de iniciar uma reviravolta histórica que impactaria o processo de desindustrialização de Santo André, Paulinho Serra preferiu deixar tudo como está há tanto tempo. A contratação de uma consultoria internacional especializada em competitividade foi aprovada pelo tucano em reunião com este jornalista e um grupo de colaboradores voluntários. Mas não subsistiu às pressões políticas e do entorno do Paço Municipal. O prefeito de Santo André é um gestor sitiado. Ele representa um agrupamento contraditório em inúmeros pontos, mas convergente em algo especialmente precioso para políticos envelhecidos: o poder centralizado em poucos atores. “Viveiro Industrial” virou uma falácia no hino oficial de Santo André. Apenas 12 de cada 100 trabalhadores formais estão na indústria de transformação. Que paga os melhores salários. Santo André é um endereço em desmoronamento permanente. Não fosse o Polo Petroquímico que ludibria a realidade, a ficha já teria caído de forma barulhenta. 

 Intolerância à critica fundamentada.

Paulinho Serra é avesso a críticas. Como tem grande parte da mídia regional sob controle, ou em algum caso é controlado docilmente, o tucano interdita qualquer diálogo que o coloque em situação de questionamento. O exercício do poder em Santo André se dá com articulação seletiva, a qual se estende inclusive a áreas do Judiciário e do Ministério Público. Paulinho Serra conta com as costas largas de cardeais partidários do Estado. Sente-se, portanto, acima do bem e do mal. Agora mesmo está mais que nas entrelinhas o namoro com Gilberto Kassab, comandante do PSD. Incomodado com o PSDB, no qual é visto como uma peça qualquer no tabuleiro de lideranças de fato, Paulinho Serra e seu entorno fazem exercícios de reação. Uma declaração de um alto coturno do PSDB anteontem ao Diário do Grande ABC, dando conta de que Paulinho Serra é uma liderança, foi um gesto político para tentar interditar o projeto do titular do Paço de Santo André ganhar luz própria, mesmo que num partido de menor expressão em São Paulo. 

 Materialidade de obras sem alma.

Reconstruir o Teatro Carlos Gomes é um dos pretensos símbolos que o marketing de Paulinho Serra utiliza à exaustão para enviar uma mensagem ufanista aos moradores de Santo André. A mensagem de que os bons tempos voltariam. O prefeito tucano confunde materialidade com cultura. Colocar o Teatro Carlos Gomes de pé é uma tarefa simples, porque basta ter reservas financeiras no orçamento público. Duro mesmo é fazer da obra amalgama de pertencimento. A costura cultural de Santo André está esgarçada há muito tempo. As entidades vivem na penúria. Os tempos bons jamais voltarão porque Santo André perdeu o sentimento municipalista na exata medida em que se esfarelou economicamente. 

 Negócios obscuros e protegidos.

A gestão da Central de Compras (e de Negócios Escusos) da Fundação do ABC é apenas um dos muitos pontos em comum na Administração de Paulinho Serra: os conceitos de transparência e comprometimento social não passam pelo mata-burros de uma auditoria profissional. O escândalo numa espécie de departamento autárquico da Fundação do ABC, que agora está na esfera Judicial, também é revelador do que se tem como desdobramento do aparato protetivo da gestão de Santo André. Outros buracos negros desafiam as autoridades judiciais e policiais. Caso da venda do Semasa à Sabesp, por exemplo. 

 Baixa Articulação institucional.

Interessa muito ao prefeito Paulinho Serra manter distância de eventuais entidades que possam colocar as práticas executivas em questionamento. Por isso, a articulação do chefe do Paço de Santo André se dá apenas com os convergentes, com aqueles que não lhe causarão complicações. A bem da verdade, isso é muito fácil: há baixíssima possibilidade de avarias na política do quanto mais distante de eventuais forças restritivas, melhor. A institucionalidade em Santo André (e no Grande ABC como um todo) entrou em decomposição. Entidades dos mais variados espectros (das unidades da OAB às associações comerciais e industriais) simplesmente dão uma banana a qualquer coisa que lembre o plantio de dúvidas aos mandachuvas oficiais de plantão. Diante desse quadro, Paulinho Serra é pragmático: age pontualmente, de acordo com a necessidade. Prefere cooptar a legitimar o que seria resumido como expressão de forças democráticas. 

 Permissividade imobiliária

Empreiteiras urbanas, construtoras instaladas no Grande ABC e mesmo da Capital encontram terreno fértil em Santo André. Paulinho Serra jamais se opôs a qualquer um dos esqueletos de escândalos que recebeu dos antecessores. Os casos são vários. Não bastasse a inoperância ética, o prefeito tucano não se faz de rogado na busca de votos, a ponto de lançar mão da companhia, em forma de garoto propaganda, de um notório empresário do setor, metido em encrencas. Embora os incautos acreditem que os desvios que protegem mercadores imobiliários sem freios fiquem restritos aos domínios das corporações e de guetos da administração pública, o custo social é imenso e pode ser constatado a cada santo dia de embaralhamentos logísticos. Santo André combina duas aberrações que inviabilizam negócios: conta com um dos sistemas de tráfego mais confusos e desgastantes do Grande ABC e mantém livres os cordéis para a verticalização ensandecida do mercado imobiliário. Dezenas de torres residenciais foram construídas nos últimos 10 anos em Santo André ao arrepio da lei. Paulinho Serra tem relatórios sobre isso, mas preferiu a acomodação supostamente cúmplice.

Regionalidade dispensada

Um décimo-primeiro ponto que abalaria de vez a proposta indecente de levar Paulinho Serra ao panteão de liderança regional é desnecessário. À frente do Clube dos Prefeitos, diretamente ou tutelando Gabriel Maranhão, prefeito de Rio Grande da Serra, o tucano de Santo André deu sequência à letargia e à inoperância dos antecessores. Ou seja: a prova dos nove inicial de gestão regional já reprovou o prefeito de Santo André. 



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