O Fantástico e a Folha de S. Paulo mostraram um aliciador travestido de estuprador. Agora chega o reverso da moeda: jovens mulheres que frequentaram os domínios do namorador de Alphaville prontificaram-se a perfilar em defesa dele. Saul Klein, assassinado socialmente pela mídia, ganha fôlego. São declarações de mulheres apaixonadas e agradecidas. Um Saul Klein completamente diferente do batalhão arrebanhado anteriormente para nocauteá-lo sem dó nem piedade.
Como se observa, há um enredo em construção permanente sobre o Caso Saul Klein. O embate promete muitas emoções para quem aprecia drama em série.
O assassinato social já foi cometido pela promotora criminal Gabriela Manssur, com amplo suporte da mídia. Resta saber se há fundamentação para a denúncia do MP que virou inquérito policial. Por enquanto, mais de um mês depois da ação do MP, o que há no horizonte é uma constelação de perguntas sem respostas, ou de buracos negros num caso que não admitiria precipitações conclusivas.
Faltam muitas peças
As mulheres que saem em defesa de Saul Klein se contrapõem às mulheres que se declararam vítimas de Saul Klein ao Ministério Público de Gabriela Manssur. Todas integram apenas uma das peças da densa e intrincadíssima rede de interesses contrariados que conta com muito mais personagens e coadjuvantes. Aos poucos, CapitalSocial vai juntar todas as peças possíveis.
Há uma preocupação editorial indescartável: contar com provas materiais que retirem a dúvida dada como certeza pelo Ministério Público, mas que passa pelo escrutínio de uma geralmente mais experiente ação da Polícia Civil.
O que apresentaremos em seguida são sete de uma série de depoimentos formalizados em cartório por mulheres que conheceram e conhecem Saul Klein. Elas o identificam de forma diametralmente oposta à apresentada por Ana Paula Fogo, conhecida como Banana.
Outros depoimentos serão igualmente reproduzidos. São trechos de declarações juramentadas de mulheres que colocam Saul Klein no altar da generosidade e cavalheirismo, quando não preocupado com apetrechamentos culturais.
Voz ao contraditório
O que os leitores vão acompanhar em seguida é um trabalho jornalístico que tanto o Fantástico quanto a Folha de S. Paulo – e a rede de mídias que replicaram as duas ações jornalísticas – jamais se preocuparão em reproduzir.
E mesmo que o façam, a emenda não seria suficiente para superar o soneto esgarçado pela impetuosidade de uma denúncia sem provas materiais. Provavelmente uma nova etapa do Caso Saul poderia agravar o assassinato social. O jornalismo profissional se atrapalha todo quando colhido no contrapé. Raramente aceita retroagir. Geralmente procurará uma saída honrosa. Não faltam exemplos atuais e remotos.
A denúncia do Ministério Público Estadual, mais precisamente a atuação da promotora Gabriela Manssur, foi tão apressada (e mostraremos tudo isso nesta série que chega ao quarto capítulo) que seria impossível ou pouco provável contemplar o outro lado, o contraditório, às denúncias de Ana Paula Fogo.
Um pouquinho de ceticismo teria sido suficiente para alterar completamente a situação. Mas quem disse que a pauta jornalística não estava sincronizada com a denúncia da promotora criminal?
O vazamento de uma investigação sob segredo de Justiça é um ato delinquencial. Atende a pressupostos da liberdade de imprensa, mas atenta contra os direitos individuais e coletivos.
Bastaria um pouquinho de cautela para a promotora Gabriela Manssur ter reduzido a marcha acelerada para transformar Saul Klein num monstro sexual.
Atentado precipitado
Até prova em contrário – e a repetição dessa espécie de mantra de responsabilidade social é indispensável – o que a profissional do MP deflagrou foi um atentado contra a vida social e biológica de um homem que, após recuperar-se de cinco anos de depressão aguda, volta a sofrer os efeitos emocionais de situação duramente adversa. Inocente até prova em contrário, Saul Klein pode ser sim mais uma vítima da volúpia investigativa e a sede pelo sensacionalismo midiático.
Os depoimentos abaixo – e os próximos de novas edições – vão ser peças relevantes do inquérito policial aberto em Barueri, além de indispensáveis à apreciação do Ministério Público Estadual. Um novo promotor de Justiça está cuidando do Caso Saul Klein. Gabriela Manssur, que comanda o grupo chamado Justiceiras (sobre o qual também escreveremos) perdeu o filão com que pretenderia manter-se na mídia.
Mais que isso: possivelmente tenha ficado decepcionada ao não alcançar um objetivo que estaria incorporado à denúncia ao Judiciário e que, no caminho entre as duas instâncias, vazou para a Folha de S. Paulo: levar Saul Klein à prisão preventiva.
O impedimento à aproximação de Saul Klein das mulheres arrebatadas como testemunhas de acusação e o recolhimento do passaporte tipificam condenação preliminar. A mídia igualmente apressada cuidou do resto. Como é comum em situações análogas, só faltou uma voz imponente arguir que o clamor popular exigia uma tomada de decisão severa.
Primeiro depoimento
Sim, isso mesmo: o Zinho é um ser humano muito culto, que gosta muito de nos ensinar, até mesmo línguas, óperas e experiência sobre viagens e outras culturas que ele já aprendeu. Sinceramente, não consigo entender tal maldade com o Zinho. Todo mundo sabe que ele é uma pessoa do bem e muito íntegro. Ele chega a ser infantil, pois ainda acredita em um mundo do bem e lá totalmente parece que estamos fora da realidade cruel que encontramos aqui fora. Ele faz tudo parecer mais leve e alegre. Lá, conseguimos esquecer dos problemas e realmente viver com princesas. Recebi o melhor tratamento possível: cabeleireiro, manicure, médicos com exames caros e precisos. Sobre nossa alimentação, queria roubar a cozinheira do Zinho. Nunca comi uma comida tão gostosa. Confesso que engordei um pouquinho. Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo com o Zinho e comigo também, pois sem ele tudo vai ficar mais difícil e não digo apenas sobre dinheiro. O Zinho me ajuda muito como ser uma pessoa melhor. Ele é um homem que todo mundo gostaria de ter a sorte de conhecer.
Segundo depoimento
Ele sempre nos ensinou a assistir filmes. Na reportagem, falou-se de filmes de agressão, sexualidade. Nunca aconteceu isso. Sempre eram filmes educativos, de história ou reportagens. O Saul nem gostava de filme de terror. Sempre gostou de algo mais tranquilo ou musical. Ele nunca obrigou ninguém a fazer nada. Sempre foi muito carinhoso e atencioso; sempre perguntava se tínhamos comido ou dormido bem a noite. Ele sempre serviu pratos novos e saudáveis, para sair da rotina. Sempre preocupado com a nossa saúde. Tínhamos até academia à nossa disposição. Sem dizer os produtos de higiene. Ele mesmo nunca deixava faltar nada. Queria deixar a gente à vontade. Que nos sentíssemos em casa. Ele era tão atencioso que peguei um carinho e uma admiração por ele. Sempre quis e quero ver ele bem, pois ele fez bem para mim e para muitas meninas. Acredito que, se ele fosse tão ruim, ninguém ficaria lá por tanto tempo, ou gostaria de voltar. Sabemos quantas meninas voltariam sem pensar duas vezes, por saber que não tinha nada demais. Era somente coisas boas, como presentes, carinho, atenção. Vendo a reportagem fiquei chocada e com o coração partido em saber de pessoas tão ruins inventando histórias por dinheiro. Somente quem viveu sabe o que aconteceu. Os eventos eram para nos deixar felizes e não para obrigar ninguém a nada. Fiquei horrorizada.
Terceiro depoimento
Nunca existiu estupro pela parte do Saul. Eu presenciei a Ana dando bebida para as meninas e cometendo ato sexual com ela. Tinha menina que nunca tinha saído com mulher, e ela dizia que fez uma com sorriso no rosto. Era como troféu para ela. Eu presenciei a Ana dopando o Saul várias vezes, a ponto de ele dormir horas. Estou à disposição para falar toda a verdade. Tudo que foi falado na reportagem foi mentira.
Quarto depoimento
Em todo esse tempo me trataram bem. Pediam comida e se preocupavam com o meu bem-estar. No outro dia me levaram ao salão de beleza e depois à mansão. Cheguei, pegaram minhas malas e me apresentei ao Zinho. Conversamos sobre mim, depois sobre filmes, músicas, política. Isso com várias outras meninas também almoçando. Comíamos sempre tudo do melhor, quando quiséssemos; ganhávamos sapatos, roupas, brinquedos. Até pijamas e meias. Nos banheiros tinha sempre tudo que precisássemos: absorventes, cosméticos. Ele nos tratava muito bem, como princesas. Queria que a gente estudasse, ficássemos por dentro de tudo. Tive relação sexual com ele em um desses dias e ele me tratou superbem, sempre carinhoso. Conhecei muita coisa boa, como músicas clássicas, filmes. Comecei a me atentar mais à cultura, à política. Sou muito grata ao Zinho por tudo que me proporcionou. Até hoje sinto um carinho enorme; por ele e gostaria muito de voltar.
Quinto depoimento
No dia-a-dia a convivência com ele era tudo de bom. Tudo que tinha de queixa não vem da parte dele e sim da Ana, que coordenava. Ela nos privava de tudo. Tinha muita comida, porém ela nunca deixava a gente comer. Dizia que iríamos ficar gordas. Só conseguimos ter total liberdade de comer na presença dele, pois ela sempre fez essas barbaridades sem o consentimento dele. Tínhamos que fingir que tudo estava ótimo, porque ela nos obrigava. Participei de todos os eventos do Saul durante dois anos e alguns meses sem ter qualquer tipo de agressão ou constrangimento; sem ato sexual, pois ele nunca se interessou por mim dessa forma. Me prestei a dar meu depoimento relatando somente a verdade e toda minha admiração por ele, discordando de tudo que vi contra ele. Sou uma prova viva do homem maravilhoso que ele é e foi não só para mim como para várias meninas que tiveram a sorte de o conhecer.
Sexto depoimento
Ele sempre foi muito gentil e educado. Sempre nos deixava livres para irmos embora, a hora que quiséssemos. De final de semana íamos passar com ele no SPA ou em um sítio, onde ele fazia as festas. Nunca vi nenhum tipo de droga ou proibição de comida. Éramos cuidadas por uma coordenadora conhecida como “Banana”. Ela sim nos proibia de várias coisas. Ele nunca obrigou ninguém a permanecer lá. Eu, inclusive, já quis vir embora antes do combinado, e fui trazida pelo motorista dele sem problema nenhum. Após essas polêmicas, fui procurada diversas vezes por essa Ana Paula para fazer parte do projeto “Justiceiras” e achei um absurdo. Não respondi a ela mais. Ela passou meu contato para uma moça chamada Kátia, que me procurou e eu também não retornei. Hoje tenho medo de sofrer algum mal por parte dela e dessas Justiceiras por não aderir a esse projeto, no qual não vejo verdade.
Sétimo depoimento
Tive algumas oportunidades de ficar a sós com o Saul e, com isso, poder conversar bastante com ele sobre vários assuntos. Rolava muita conversa sobre conhecimentos gerais. Ele é uma pessoa que leu bastante. Me ensinou muita coisa. Na casa, sempre fui bem tratada, tem só uma restrição ao uso do celular por segurança, mas dentro do quarto eu podia mexer. Tenho um pouco de receio da Marta por coisas que já ouvi sobre ela. Tenho medo de sofrer alguma consequência por não mentir em nada em relação ao Saul Klein. E dizer a verdade.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!