Vamos lá para um desafio e tanto. Imagine você prefeito de São Caetano. Não interessa se prefeito eleito ou interino. Até porque, mesmo interino, você quer ser prefeito-efetivo. Ser prefeito-tampão não é desdouro algum. A legislação está aí para ser cumprida. E está sendo cumprida. De presidente do Legislativo a chefe do Executivo é um pulo quando o passado atrapalha a vida de quem foi eleito, no caso José Auricchio Júnior.
Então, imaginando-se prefeito de São Caetano, o que faria de imediato caso recebesse informação segura de que o símbolo maior de empreendedorismo regional, a monumental Casas Bahia, está batendo asas em direção à Capital.
Repito: o que você faria de imediato tendo-se a Casas Bahia como edifício-sede em São Caetano. Ofereço-lhe algumas alternativas:
1. Deixaria a bola rolar indefinidamente até que a situação se esclarecesse por livre combustão para, em seguida, reunir a tropa de choque mais próxima e analisar a situação tendo como escopo a imperiosidade de definir uma linha de conduta que amenizasse o quadro ambiental decorrente do choque.
2. Reuniria assessores mais próximos e analisaria com atenção especial a situação, com amplas informações, a fim de, em 24 horas, oferecer as respostas básicas demandadas pela sociedade e indispensáveis como retrato dos desdobramentos.
3. Convocaria imediatamente os auxiliares mais apetrechados em dados econômicos específicos sobre o perfil de arrecadação e de outros indicadores econômicos do Município e chamaria a Imprensa para esclarecimentos, bem como traçaria plano de emergência para procurar interlocução com os controladores da empresa de modo a amenizar os danos.
Geografia nacional
Este é o segundo capítulo da minissérie que trata da debandada gradual e inexorável da Casas Bahia. Um negócio que a Família Klein transformou em referência de sucesso de empreendedorismo privado na cidade e, mais que isso, colocou a própria cidade na geografia econômica nacional.
Aliás, Casas Bahia e Azulão, também sob a responsabilidade da Família Klein, neste caso mais especificamente de Saul Klein, propagaram a imagem de São Caetano no País. Não fosse isso, São Caetano seria um ponto perdido no mapa metropolitano paulista.
O enunciado deste capítulo (“Gerenciamento público omisso”) que anunciei sexta-feira passada, quando produzi o primeiro capítulo (“Retaliações político-partidárias”) já oferecia o mapa da mina da incursão que faço agora. O que está em debate é a reação do governo municipal à notícia bombástica que alguns rejeitam como verdade.
O prefeito Tite Campanella está muito mal assessorado para assuntos emergenciais como o que se apresenta. Ele optou pela primeira alternativa listada acima. Passam-se horas e dias e nada de chamamento à imprensa, interlocutora do Poder Municipal junto à sociedade. Dá-se a uma hecatombe econômica (capítulo que cuidaremos na próxima edição) nada mais que tratamento omisso, quando não descuidado.
Observem que estou me referindo única e exclusivamente ao “imediatamente após” a descoberta (deste site) de que a Casas Bahia está batendo asas em direção ao Shopping Eldorado, na Capital, onde oito mil metros quadrados de infraestrutura já estão recepcionando os ativos físicos e humanos de São Caetano.
Interlocução antecedente?
Não entrei nem mesmo na seara mais belicosa e sobre a qual não tenho o devido conhecimento, mas que deve ser abrasiva: os antecedentes corporativos que determinaram a saída da Casas Bahia.
É lógico que não me refiro aos desarranjos político-partidários, que esmiucei no primeiro capítulo. Trato especificamente de eventuais tratativas entre a cúpula da Casas Bahia, do conglomerado Via, e a direção da Prefeitura de São Caetano. Teria havido algum sinal anterior de que a vaca do edifício-sede e do conjunto de investimentos da empresa estaria indo para o brejo?
Ou seja: teria havido alguma abordagem anterior à descoberta da debandada ou a gestão de Tite Campanella foi colhida no contrapé do descuido, do desinteresse, de qualquer coisa que signifique distanciamento de uma das empresas que mais arrecadam impostos e mais empregam no Município?
Rabo de foguete
É verdade que o prefeito-tampão Tite Campanella pegou um rabo de foguete que a mídia soltou em dezembro do ano passado e acrescentou em março deste ano ao vilipendiar sem provas a imagem póstuma do patriarca Samuel, após metralhar o filho Saul da Família Klein.
Mas nada dá suporte à ideia de que Tite Campanella não tenha tido alguma ou considerável participação na agressiva campanha política e midiática local (além de outros endereços) de desqualificação da imagem da Família Klein por conta de supostas (cadê as provas, cadê as provas?) aventuras sexuais.
Colocar o prefeito Tite Campanella nessa mistureba toda não é um equívoco. Afinal, não se tem uma única declaração dele, em qualquer mídia, ponderando ou advertindo sobre os riscos do noticiário açodado que atingiu a jugular do prestígio dos Klein. Tampouco se sabe que tenha oferecido solidariedade intramuros, para não se expor politicamente.
Distante disso: o grupo político do qual faz parte, do triprefeito José Auricchio Júnior, impedido provisoriamente ou não de chegar ao tetra, usufruiu dos escândalos, acelerando a velocidade de idiossincrasias.
Sem contar que o caso Saul Klein tem as digitais do Paço Municipal e do entorno do Paço Municipal no rastreamento de origem. Saul Klein era candidato a vice-prefeito na chapa opositora comandada por Fabio Palacio.
Prestação de contas
A alternativa número dois sugerida como resposta já seria um quebra-galho para instalar a gestão da Prefeitura de São Caetano próximo daquilo que a sociedade exige, ou seja, transparência do Poder Público. A terceira opção é mais apetrechada, claro, porque se estabeleceria um patamar de dados que daria com certa precisão a dimensão do problema.
Administrador público que foge da responsabilidade de levar à sociedade o tamanho de um contratempo deixa de ser o que se anuncia ser, ou seja, um administrador público, e passa a atuar como administrador de grupos políticos.
Quanto mais Tite Campanella renunciar à obrigação de prestar contas de tudo que se relaciona à Casas Bahia, das eventuais tratativas anteriores ao anúncio às complicações orçamentárias, mais a gravidade do vácuo se instalará.
Pandemia política
A bem da verdade, o descaso com a sociedade é uma deficiência pandêmica dos administradores públicos brasileiros quando o calo de um infortúnio aperta. Perder a Casas Bahia é catastrófico para São Caetano, especialmente.
A mensagem que fica na retirada da empresa que se dá de forma quase homeopática é que, além do distanciamento entre Estado, Capital e Sociedade na esfera municipal, pratica-se também o exercício da embromação, da enganação, quando não de um esconde-esconde de responsabilidades entrelaçadas.
Não parece haver margem de dúvida de que a inação da Prefeitura de São Caetano é uma extensão autoprotetiva dos temores dos descaminhos político-eleitorais que podem atrapalhar a eleição de Tite Campanella caso se dê o desenlace do impedimento definitivo do vencedor da disputa em novembro do ano passado.
Ataques consentidos
Quem orienta o prefeito Tite Campanella no sentido de que deve evitar o assunto e que, portanto, deixe a banda passar, está redondamente enganado. Haverá precificação nas urnas.
A cada dia que passa mais aumentará o que deve e é interpretado como passivo de inapetência gerencial da Prefeitura nesse caso específico.
A situação só será ainda pior se o prefeito Tite Campanella vier a público para minimizar o quadro. Quem sabe para dizer que a Casas Bahia está se mudando por razões que não têm vínculo algum com o massacre à Família Klein ou mesmo que a Casas Bahia segue em São Caetano, mas apenas mudou de endereço. Não vai colar.
Que o prefeito não caia na besteira de negar o inegável. Até porque a panfletagem recente nas imediações do edifício-sede da Casas Bahia (agora praticamente esvaziado e colocado à disposição do mercado imobiliário) não contou com os serviços de limpeza da Prefeitura.
Que panfletagem? De um grupinho de políticos locais, de extrema-esquerda, brandindo contra a memória de Samuel Klein, anexando à gritaria a cassação do nome do patriarca de uma via pública.
Nenhum gesto, nenhum voz ponderada, nada de nada se ouviu em defesa da Família Klein. Mais que isso: as hostilidades divulgadas na mídia eletrônica também contam com pegadas de parceria com grupos alinhados à Administração Municipal.
O terceiro capítulo desta série vai tratar de indicadores econômicos possíveis, porque os específicos estão na Administração de Tite Campanella. Ainda há tempo de prestar contas à sociedade. Quem não deve, não treme.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!