Sociedade

Mudou tudo, mas
não alterou nada

FERNANDO BELLA - 05/04/2002

Nem mesmo os mais de 500 homens destinados à segurança -- 215 policiais militares, 80 guardas municipais, 285 seguranças particulares e dois policiais civis -- deram conta das peripécias dos foliões na terceira edição do ABC Folia. De nada adiantaram as alterações promovidas pelo Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), que organiza o evento junto com a agência Viva ABC e apoio da Prefeitura. 

Mudou o endereço, aumentou a contingência na segurança, foi criado o slogan Pela Paz, mas errou-se novamente em querer ir contra a lógica da realidade social brasileira. Pelo terceiro ano consecutivo, o que se viu na avenida foram grupos de jovens pouco interessados na festa e acostumados a agir contrariamente à ordem.

Antes realizada na Avenida José Amazonas, a micareta passou este ano para a Avenida Firestone, que também é passarela das escolas de samba do Carnaval de Santo André. O número de policiais e seguranças privados saltou de 200 para 500 homens, além da cobrança de ingressos para arquibancada, camarote e comercialização de abadás. Para estar na arquibancada o folião desembolsou R$ 5, o camarote para os três dias com espaço para 20 pessoas custou R$ 2,5 mil e o abadá para seguir o trio elétrico em área isolada por segurança privada saiu a R$ 40. Resultado: arquibancadas vazias, camarotes reservados para empresas e patrocinadores e um show de horrores ao pé dos alto-falantes recheado de furtos, roubos e muitas brigas.

Dois dias após o evento foi registrada aglomeração de mais de 200 pessoas em frente ao 1º Distrito Policial de Santo André para elaboração de boletins de ocorrência de extravio e roubo de documentos ocorridos durante a micareta, além das ocorrências que já haviam sido feitas na Delegacia Móvel instalada na avenida. Além dos problemas de segurança, o evento também se mostrou desorganizado quanto ao cumprimento dos horários de término. "No sábado houve atraso por causa da forte chuva. Os trios elétricos ficaram na avenida até 3h" -- confirma o diretor do Sehal, David Gomes de Souza. Na sexta-feira a folia também se alongou até pouco mais das 2h e no domingo foliões continuaram na avenida após as 3h. O horário estipulado para sexta e sábado era 1h30 e no domingo 0h.


Problemas e sugestões -- Para David Gomes de Souza, o problema não está no ABC Folia, mas na segurança pública. "O evento já faz parte do calendário de festividades do aniversário de Santo André e incrementa o movimento nos estabelecimentos e hotéis da cidade" -- argumenta. Segundo levantamento da Polícia Militar, passaram pela avenida 90 mil foliões, número contestado pelos organizadores do evento. "Quem esteve nos três dias, certamente, presenciou público em torno de 250 mil pessoas" -- calcula o diretor do Sehal.

É evidente que o ABC Folia é evento importante aos negócios da região. Mas antes é preciso repensar o formato da festa, que se tornou prato cheio para o noticiário policial em vez de alternativa de entretenimento popular. Como LivreMercado já abordou, inclusive na edição diária de Capital Social, a região carece de amplo espaço para que o ABC Folia e outras programações populares não sejam rotuladas como incômodos para a vizinhança e alvo de violência generalizada.

Ainda neste mês, as entidades envolvidas com a organização do ABC Folia se reunirão em café da manhã para discutir os pontos fracos já evidenciados em edições anteriores. "Colocaremos em pauta a violência e questionaremos se a polícia está preparada para atuar em eventos como esse, que reúne grande número de pessoas" -- antecipa David Gomes de Souza, que também pensa em organizar viagens para que representantes das entidades conheçam outros carnavais fora de época, além do precursor Carnaval da Bahia.


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