Apenas 35% de um espectro importante da sociedade do Grande ABC -- estudantes universitários -- sabem especificar quais são os municípios que compõem a região. O caso mais grave de ausência no mapa regional é de Rio Grande da Serra, que não existe para 62,1% dos pesquisados. A vizinha Ribeirão Pires, igualmente distante do centro regional, formado por Santo André, São Bernardo e São Caetano, também sofre de mal semelhante, embora sem a mesma intensidade: 27,1% omitiram isoladamente ou no conjunto das respostas a existência de Ribeirão Pires, praticamente o dobro dos 13,5% de Mauá. Completando o quadro de municípios que fazem fronteira com o ABC, e que compõem o chamado Grande ABC, Diadema apareceu com 5,8% de desconhecimento.
Esses resultados fazem parte de artigo escrito por alunos do curso de mestrado do Imes (Centro Universitário de São Caetano). Alessandro Zanoli Bernardo, Antonio Lauro Valdívia Neto, Jefferson José da Conceição, Roberto Valdívia, Afonso Klein, Ronaldo Tadeu Ávila de Paula e Silvana Pereira Gimenes escreveram documento denominado Dez Anos de Políticas Regionais no ABC: Uma Leitura a Partir da Teoria, da Pesquisa e da Prática.
O conjunto de resultados apurados pelos alunos de mestrado não surpreende e reforça o conteúdo do livro Complexo de Gata Borralheira, lançado dia 16 de abril no Teatro Municipal de Santo André. São muitas as explicações para a existência de um Grande ABC desfigurado, quando observado pela ótica de estudantes. Se a pesquisa fosse realizada com pessoas de dotes intelectuais supostamente menores, provavelmente o apanhado seria muito mais intrigante e se chegaria à conclusão de que o Grande ABC festejado como espécie de megacidade é na verdade desconhecido pela maioria de sua própria população de 2,4 milhões de habitantes.
O resumo da obra dos alunos de mestrado do Imes reconhece os avanços conquistados durante o período de uma década nos novos espaços de construção de políticas públicas, casos do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, Fórum da Cidadania, Câmara Regional e Agência de Desenvolvimento Econômico. "No entanto, o artigo procura apontar alguns desafios e limites dessas ações e políticas" -- afirma o documento. Além disso, apresenta também resultados de uma pesquisa realizada com estudantes universitários a respeito do grau de conhecimento sobre as instâncias regionais e de seu estado de satisfação em relação à região.
Para os estudantes de graduação, o baixo grau de conhecimento e de envolvimento da população constitui-se em preocupação -- "e até mesmo em desafio"-- para o planejamento de políticas públicas regionais. "Isto é fundamental diante da pretensão de que os esforços de integração do planejamento e das ações na região se tornem um fato duradouro, menos sujeito às mudanças eleitorais e às idiossincrasias dos governantes" -- afirma o documento.
O trabalho foi aplicado há exatamente um ano e consta do Caderno de Pesquisas Ceapog-Imes, o programa de mestrado do Centro de Estudos de Aperfeiçoamento e Pós-Graduação do Centro Universitário de São Caetano.
O plano de pesquisa partiu de universo de 5.030 universitários do Imes, dos quais foram selecionados 10%. Do total de 103 questionários considerados válidos, 27,2% envolveram alunos de Administração, 17,5% de Direito e 15,5% de Computação e Comércio Exterior. Do total, 82,5% moram em Santo André, São Bernardo e São Caetano, contra 1% de Diadema, 6,8% de Mauá e 1% de Ribeirão Pires. São Paulo registrou 7,8% dos alunos pesquisados.
Se a grande maioria dos alunos pesquisados tem tanta intimidade com a geografia do Grande ABC como palestinos e judeus com a paz, o grau de satisfação com a região apresentou resultado menos constrangedor, porque a maioria (52,1%) afirmou estar parcialmente satisfeita e se somou aos 28,7% que se disseram satisfeitos. Um contingente bem superior aos 10,6% de parcialmente insatisfeitos e aos 7,4% de insatisfeitos.
O Grande ABC também ficou de saia justa na pesquisa do Imes que avaliou o conhecimento das instituições regionais. O Consórcio de Prefeitos é desconhecido por 87,4% dos universitários pesquisados, contra 77,7% da Agência de Desenvolvimento Econômico, 33% da Câmara Regional e 53,4% do Fórum da Cidadania. Os percentuais dos estudantes que responderam que conhecem as instituições são ínfimos: 1,9% para o Consórcio, 1% para a Agência, 1% para a Câmara e 2,9% para o Fórum da Cidadania.
Embora o trabalho de mestrado tenha sido realizado bem antes da morte do prefeito Celso Daniel, a problemática da violência liderou o ranking de questões sugeridas pelas instâncias regionais. Problemas de criminalidade, segurança e violência urbana formam enunciado do qual 31,1% dos universitários compartilharam posição de prioridade, contra 11,7% do enunciado de problemas sociais, desigualdade social e má distribuição de renda, 9,7% de questão relativa a desemprego, 8,7% de educação e ensino, 8,7% de enchentes e saneamento e também 8,7% de transportes -- todos temas apontados na pesquisa.
Apesar desses pontos, a sugestão para que os estudantes universitários resumissem em uma palavra ou frase a definição sobre o Grande ABC foi positiva em 72,8% das manifestações, contra 17,5% de atributos negativos, 4,9% de atributos neutros, 1,9% de atributos políticos e 2,9% que não souberam responder.
A introdução do artigo do trabalho de mestrado afirma que os últimos 10 anos foram ricos na experiência de elaboração e execução de políticas regionais na região. "Importantes espaços institucionais envolvendo o governo do Estado, as prefeituras e segmentos sociais (empresariado, sindicatos e outros representantes da sociedade civil) foram constituídos".
Entretanto, o documento faz ressalvas à crise econômica e social vivida pelo Grande ABC nos anos 90: "Evasão industrial, perda de postos de trabalho, queda de arrecadação, deterioração da qualidade de vida, expansão de favelas e aumento da criminalidade constituíram-se em manifestações latentes da crise. Esse quadro propiciou o predomínio da convergência de interesses, para além das inúmeras divergências ainda existentes, entre os setores públicos e os mais importantes agrupamentos econômicos e sociais locais".
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!