A Umesp (Universidade Metodista de São Paulo) acaba de dar outro passo para participar mais ativamente das discussões socioeconômicas sobre o futuro do Grande ABC. A tradicional escola de São Bernardo criou a Cátedra Prefeito Celso Daniel de Gestão de Cidades, cuja tradução para não-acadêmicos quer dizer um núcleo de estudos e pesquisas em gestão pública e regionalidade, integrado por 10 professores do programa de pós-graduação da Faculdade de Ciências Administrativas.
Como os professores envolvidos na iniciativa valorizam sobremaneira o apoio oficial recebido do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico, um desafio considerável emerge no horizonte: não permitir que pressões do setor público, sempre propenso a amenizar realidades mais espinhosas, comprometam a respeitabilidade dos trabalhos, garantindo assim a independência das interpretações.
A julgar pelo histórico da instituição, que tem três campi em São Bernardo e contabiliza 14 mil alunos em cursos de graduação e pós graduação depois de dar origem à primeira faculdade de teologia do Brasil, em 1938, o patrimônio da respeitabilidade não sofrerá arranhões. "A cátedra marca a busca da Metodista por maior inserção regional" -- sintetiza o reitor Davi Ferreira Barros. As primeiras iniciativas da cátedra serão um curso de especialização em gestão pública e um boletim eletrônico quinzenal sobre administração de cidades direcionado a municípios de todo País, os dois previstos para o primeiro trimestre de 2004. Além disso, estão nos planos simpósios, palestras e jornadas sobre o Grande ABC, bem como edição de livros com o conteúdo das discussões.
"Queremos que a sociedade regional participe para valer dos debates" -- ressalta Luiz Silvério Silva, um dos professores que compõem a cátedra. As discussões estarão subordinadas a cinco eixos de estudo: sustentação econômico-ecológica das cidades, gestão e organização da administração pública local, relações internacionais em âmbito municipal, estruturação do futuro das cidades, além de cultura de cidadania em redes institucionais, cujo enfoque recai sobre desenvolvimento de processos de participação social.
Essa é mais uma ação da Metodista em favor da regionalidade. Até agora caminha timidamente o Uniforum ABC, uma aliança de 10 universidades da região feita para rediscutir o papel da academia como agente formador de mão-de-obra e auxiliar nos novos rumos econômicos e sociais locais.
O projeto mais ambicioso e abrangente da nova cátedra é o Prêmio Prefeito Celso Daniel, idealizado para destacar políticas públicas em nível nacional. "Vamos homenagear iniciativas bem-sucedidas por meio de trabalhos analisados por uma comissão julgadora" -- expõe Luiz Silvério, que projeta a fase de inscrição de trabalhos para 2004 e a concessão do prêmio para o ano seguinte.
Em termos conceituais, as propostas da cátedra dizem respeito ao desenvolvimento de pesquisas integradas sobre os modos de gestão das cidades, constituição de sistemas de informações econômicas e sociais sobre agrupamentos municipais e regionais do País, além de consideração de indicadores de qualidade de vida, formas de avaliação pública das gestões e modos de constituição e participação dos cidadãos. Muitas dessas intenções já vêm sendo colocadas em prática pelo IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), cujo mérito é ter criado ferramentas para avaliação científica de gestões municipais.
Regionalidade fragmentada -- O lançamento oficial da cátedra no salão nobre da Metodista trouxe figuras de expressão nacional vinculadas ao Partido dos Trabalhadores, mas não atraiu a totalidade dos prefeitos do Grande ABC. O titular do Ministério das Cidades, Olivio Dutra, veio acompanhado do secretário nacional da Habitação, Jorge Hereda, mas entre os prefeitos locais apenas os de Santo André, Mauá e Diadema compareceram. Obstáculos político-partidários continuam travando o caminho da regionalidade sonhada pelo patrono da cátedra da Umesp.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!