Alguém está mentindo nas páginas do Diário do Grande ABC de hoje. Se não for a presidente da Fundação do ABC, Adriana Berringer, é o ex-prefeito de São Bernardo, William Dib. Eles mentiram ao jornal ou o jornal se enganou?
Alguém precisa resolver esse caso, porque esse caso é mais que um caso, é um escândalo institucional. Mas não está fora de cogitação um tropeço de ordem de comunicação interna.
Alguém consegue admitir que faz parte da normalidade de uma Fundação do ABC um ex-dirigente municipal vir a público dizer o que disse William Dib enquanto a presidente da instituição, Adriana Berringer, emite nota oficial logo em seguida contrariando as informações da versão digital do Diário do Grande ABC, no dia seguinte também na versão impressa?
Certo mesmo é a mensagem de mais uma reportagem sobre o passado, o presente e o futuro da Casa da Moeda da saúde d0 Grande ABC. Trata-se de uma disposição indômita de retirar a dirigente do cargo, porque a dirigente que está no cargo incomoda muita gente. William Dib está sendo retirada da cartola de aventada credibilidade e competência para executar a tarefa.
Central de Convênios
No vendaval de informações imprecisas que envolve a Fundação do ABC desde algum tempo, Adriana Berringer já superou três armadilhas, quando o feitiço virou contra o feiticeiro. Todas as armadilhas localizadas no Paço de Santo André.
Não é fácil lutar contra o sistema que gira em torno de uma entidade tripartite municipal de orçamento superior a R$ 2,5 bilhões – o dobro de São Caetano. Quase a metade desse total é destinada à Central de Convênios. Por aquela tubulação de muitos interesses passa ou se pretende passar tudo que se possa imaginar.
A Central de Convênios geralmente concentra o que poderia ser chamado de casa da sogra da Fundação do ABC. Instituiu-se rodízio diretivo tendo como muitos dos propósitos a sistemática utilização de recursos financeiros de prestação de produtos e serviços como força-motriz de suprimento político-eleitoral.
Adriana Berringer acabou com a farra do boi e da boiada. Mas ainda tem muito a fazer, antes de deixar o cargo no fim do ano.
A Fundação do ABC é historicamente uma caixa-preta administrativa. Os passivos financeiros não saltam ao público. Só de reclamações trabalhistas transitadas em julgado seriam milhões de dinheiros. Tudo vem do passado de poucas glórias e muitas manobras.
O Diário do Grande ABC dedicou a manchetíssima da edição de hoje (“Ex-presidente da Anvisa, Dib dá consultoria à Fundação do ABC”) e meia página de página interna a uma informação contraposta nas últimas três linhas, apenas nas últimas três linhas, pela presidente da Fundação do ABC.
Cotado para assumir emergencialmente (no sentido político, claro) a presidência da Fundação do ABC, apoiado pelas faces públicas do mecanismo de intervenção, representadas pelos prefeitos Paulinho Serra e Tite Campanella, William Dib teria resolvido recuar. Ou foi recomendado a recuar porque meter a mão nessa cumbuca não é bom negócio. Tempos atrás, o infectologista David Uip caiu fora.
Peitar a turma toda como a diretoria de Adriana Berringer peita é pedir para apanhar. E como apanha essa mulher!
Trancando a porta
Por que há temores à derrubada da presidente? Entre outras razões porque Adriana Berringer tem muito prestígio no Ministério Público Estadual de Santo André, especificamente na especialidade de Fundações. Tanto é verdade que os dois indicados do prefeito Paulinho Serra para ocupar a Central de Convênios foram apeados do cargo por decisão do MPE.
Uma terceira vitória de Adriana Berringer se deu no suposto escândalo de fura-fila. O mesmo MP, acionado pela presidente, emitiu sentença de lisura e responsabilidade no uso de vacinas contra a Covid. Até agora há quem não reconheça a verdade dos fatos. Apostou-se equivocadamente num furo nágua jornalístico.
Reportagem do Diário
Vou reproduzir a matéria publicada pelo Diário do Grande ABC de hoje para que os leitores tenham compreensão dos fatos e das versões:
Ex-prefeito de São Bernardo e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), William Dib será consultor da FUABC (Fundação do ABC), com a promessa de reestruturar a entidade, em especial nos aspectos econômicos e jurídicos. “Darei meus palpites, pelo meu conhecimento, para buscar tirar a entidade deste emaranhado de gato em que ela está.” Ao Diário, Dib confirmou que aceitou a missão conferida para auxiliar a presidente da Fundação, Adriana Berringer Stephan, e a equipe dela a reorganizar a instituição regional. Ele disse que irá atuar na FUABC de maneira informal, sem salário. O ex-dirigente da Anvisa assegurou que nunca conversou com os prefeitos sobre ser presidente da Fundação. “Um ponto que precisaremos lidar é a questão jurídica. Vamos ter de cumprir acordos com os nossos contratados e cumprir acordos com o Ministério Público. É fundamental isso. A Fundação tem história importante na criação deste modelo de gestão de organização social de prestação de serviços de saúde, faz parte da história do nosso País. Não podemos desperdiçar uma história tão boa e tão importante.
Vamos aprender com erros, tentar corrigi-los e vamos voltar a ser exemplo de uma Fundação em gestão voltada para o bem comum, para o bem da nossa população da nossa região”, comentou.
Mais reportagem do Diário
Dib participou na manhã desta segunda-feira (28) da primeira reunião, com objetivo de alinhar os trabalhos. No encontro, além de Adriana, estavam os prefeitos de Santo André, Paulo Serra (PSDB), e de São Caetano, Tite Campanella (Cidadania). “Teremos ainda outros encontros, alguns presenciais e outros on-line, para desenhar a linha de atuação. Estou à disposição da doutora Adriana e da equipe dela.” Ele assegurou que fará trabalho apolítico na entidade, balizando o dia a dia em questões técnicas. Dib lembrou que quando foi secretário de Saúde de São Bernardo, no começo dos anos 1990, lidou com empecilhos que resultaram em restabelecimento de pontes entre as prefeituras e a FUABC, dando origem ao processo de criação de OSs (Organizações Sociais).
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O ex-prefeito citou que, à ocasião, havia muito problema de ordens jurídicas e econômicas, que resultava em constantes greves. Houve redesenho na relação com o Hospital Anchieta, que era estadual e foi municipalizado, passando posteriormente para a FUABC. A Prefeitura de São Bernardo complementava a verba faltante do dinheiro de custeio enviado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). “Quando fui secretário de Saúde, a Fundação vinha enfrentando crises com professores e alunos (da Faculdade de Medicina do ABC, mantida da FUABC), com greves do corpo docente e dos estudantes. Buscamos um acordo com os prefeitos da época, trocamos boa parte do conselho curador, e recolocamos a Fundação no caminho. Essa relação com o Hospital Anchieta foi embrião do modelo de OS, que se espalhou pelo País. A FUABC estava até com risco de ser fechada à ocasião por problemas políticos e econômicos. Depois nunca mais houve greve de aluno e professor por motivos de falta de estrutura de ensino ou falta de leitos hospitalares. A FUABC virou sucesso. Tanto que vários municípios se agregaram a esse modelo. Não podemos jogar essa história e todo conhecimento no lixo”, considerou.
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Dib colocou panos quentes em eventual embaraço político que existe e que pode se intensificar na FUABC. “O que aconteceu já aconteceu. Temos de criar vacinas para não ocorrer mais, encontrar caminhos para olhar para frente, sem ficar vendo muito o que passou. Temos de nos preocupar em restabelecer relação de confiança, de equilíbrio econômico, com ação dentro da lei. É vital ter a Fundação sadia”, afirmou o ex-prefeito. “Obviamente que vamos observar se houve algum problema de ordem dolosa na área jurídica e buscar responsabilizar quem cometeu. Mas nossa missão é olhar para frente.” Em nota, a gestão de Adriana na FUABC disse que Dib não será consultor nem houve algum tipo de convite nesse sentido.
Suporte do MPE
Há muito a escrever sobre a Fundação do ABC. Qualquer coisa que se relacione a uma intervenção branca, ditada pela necessidade de fugir das garras do Ministério Público Estadual, não está fora de propósito nas especulações e apostas nos bastidores daquela instituição. Respiram-se ares de preocupação.
Há evidente tentativa de concentrar no presente o que foi construído insanamente ao longo dos anos, como se o emaranhado de problemas da Fundação do ABC fosse obra da atual presidente.
É possível que algumas cabeças duras ainda não compreenderam que o aval informal do Ministério Público Estadual ao comando da entidade teria a forma de um selo de garantia de que contaminações históricas que ainda açodam o desempenho da instituição passam por rigoroso combate.
A Fundação do ABC de hoje seria bem melhor que a Fundação do ABC do passado recente e remota. Daí provocar estragos nas placas tectônicas de forças de pressão instaladas nos corredores, salas e entornos institucionais.
Se William Dib veio para combater o bom combate e ainda não informou oficialmente a presidente, colocando-se como voluntário, deixaremos de ter uma mentira exposta e passaremos a contar com uma comunicação imprecisa. Fora isso, ou seja, se houver mesmo alguém que não segue a cartilha da ética e da verdade, o bicho pode pegar.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!