Para quem nega as evidências e as provas do cotidiano e também para quem ignora as perdas do Grande ABC neste século, inclusive avançando no bolso dos contribuintes em forma de aumento do IPTU como o prefeito de Santo André, um balanço estarrecedor: nos primeiros 22 anos deste século adicionamos 34,52% de famílias de Classe C (correspondente a uma Santo André inteira) e perdemos 21% (a soma de uma São Caetano e uma Rio Grande da Serra) de ricos e classe média tradicional. São 76 mil (arredondados) de sumiço de famílias ricas e de classe média.
Perder ricos e classe média e ganhar Classe C não é exclusividade do Grande ABC num País como o Brasil que teima em patinar economicamente, mas o caso da região é especificamente preocupante.
Vista ao longo do século passado como a terra de oportunidades, a região entrou em parafuso a partir dos anos 1980, entrou na zona de rebaixamento econômico nos anos 1990 e agora nas duas primeiras décadas do novo século está definitivamente inscrita no Clube dos Perdedores Econômicos e Sociais.
Pobres e miseráveis
Em meio às perdas e danos deste século, somente pobres e miseráveis contaram com redução de participação relativa no bolo regional. Mas não prevalecem políticas locais incisivas porque o poder de uma Prefeitura é limitado.
O que faz a diferença é que políticas públicas compensatórias, especialmente o Bolsa Família, retiraram da pobreza e da miséria milhões de brasileiros. O Grande ABC não seria exceção.
Não é a primeira nem será a última vez que CapitalSocial trata o Grande ABC sob o prisma socioeconômico relacionado ao formato de famílias que ocupam os sete municípios. E mais uma vez não se deixa levar pelo triunfalismo que alguns adotam no sentido de contabilizar apenas números absolutos nas equações. Esquecem ou subestimam a lógica de que números relativos é o que determinam avalição mais aprofundada.
Números do século
Vou explicar na sequência como a classe rica e a classe média tradicional perderam participação no Grande ABC entre 2000 e 2021. Também vou expor que a Classe C aumentou participação relativa e em números absolutos de famílias residentes. E que entre pobres e miseráveis houve queda de participação relativa e de números absolutos, o que no fundo é uma boa notícia. Veja a tabela.
a) Classe Rica – O Grande ABC contava em 1999 com 38.202 residências, que representavam 6,17% do total. Em 2021, passou a contar com 31.277 residência, ou 3,25% do total geral.
b) Classe Média Tradicional – O Grande ABC contava em 1999 com 194.242 residências, que representavam 31,36% do total geral. Em 2021, passou a contar com 253.878 residências, ou 26,38% do total geral.
c) Classe C – o Grande ABC contava com 236.759 residências em 1999, que representavam 38,23% do total geral. Em 2021, passou a contar com 494.937 residências, ou 51,43% do total geral.
d) Pobres e Miseráveis – O Grande ABC contava com 150.002 residências em 1999, ou 24,22% do total geral. Em 2021, passou a contar com 182.108 residências, ou 18,92% do total.
População cresce 35,64%
Como foi que chegamos à baixa regional de 75.958 moradias neste século? A operação é simples e está baseada em projeção que leva em conta a participação relativa dos dois extratos socioeconômicos em 1999, antes, portanto, da chegada do novo século. Juntos, ricos e classe média tradicional representam 37,53% do total de moradias na região. Agora, em 2021, não passam de 29,63%. Uma queda de 21,10%.
O Grande ABC deste século viu aumentar a população em 35,64%. Eram 2.323.565 milhões de habitantes em 1999, que passaram a 2.824.817 em 2021. Uma diferença de 501.252 mil habitantes, de adicional de 342.995 residências nesta temporada – eram 619.205 famílias em 1999 e agora são 962.200.
Para se ter uma ideia mais precisa do crescimento de famílias residentes no Grande ABC neste século, em relação ao último ano do século passado, o adicional de 342.995 domicílios corresponde à soma de uma Santo André inteira (253.294 mil), São Caetano (60.443 mil) e duas cidades iguais a Rio Grande da Serra (17.135 mil cada uma).
Dados consolidados
Não custa reforçar os dados expostos. Os ricos e a classe média tradicional do Grande ABC perderam participação relativa de 21,10% no conjunto das famílias neste século – eram 37,53% em 1999 e caíram para 29,63% em 2021. A Classe C teve avanço olímpico, passando de 38,23% para 51,43% no conjunto de moradias. Os pobres e miseráveis representavam 24,22% e caíram para 18,92%.
Todos esses números estão no portfólio da Consultoria IPC, do especialista Marcos Pazzini, que há três décadas trata do Potencial de Consumo no Brasil. Potencial de Consumo é uma espécie de PIB do Consumo.
CapitalSocial (e antes, a revista impressa LivreMercado) acompanha atentamente o movimento das pedras econômica e sociais do Grande ABC e dos principais municípios paulistas, contextualizando-os em vários indicadores. Tanto que o G-22 (o grupo dos 20 maiores municípios do Estado, além de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e exceto São Paulo) registra significativos estudos com base na Consultoria IPC.
Em termos municipais, veja o comportamento dos sete endereços da região tendo como base o ano de 1999 e ponto de chegada o ano de 2021:
a) Santo André contava em 1999 com 39,95% de residências de classe rica e média, 36,92% de Classe C e 23,12% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 32,61% de ricos e classe média, 49,70% de Classe C e 17,60% de pobres e miseráveis.
b) São Bernardo contava em 1999 com 46,40% de ricos e classe média tradicional, 32,46% de Classe C e 21,32% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 31,60% de ricos e classe média tradicional, 50,00% de Classe C e 18,40% de pobres e miseráveis.
c) São Caetano contava em 1999 com 45,63% de ricos e classe média, 32,00% de Classe C e 22,36% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 45,46% de ricos e classe média tradicional, 43,40% de Classe C e 11,20% de pobres e miseráveis.
d) Diadema contava em 1999 com 25,00% de ricos e classe média, 46,75% de Classe C e 28,25% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 22,18% de ricos e classe média, 55,50 de Classe C e 22,40 de pobres e miseráveis.
e) Mauá contava em 1999 com 27,33% de ricos e classe média tradicional, 45,86% de Classe C e 26,80% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 23,55% de ricos e classe média tradicional, 55.60% de Classe C e 20,80% de pobres e miseráveis.
f) Ribeirão Pires contava em 1999 com 31,38% de ricos e classe média tradicional, 39,26% de Classe C e 28,95% de pobres e miseráveis. Em 2012 são 27,19% de ricos e classe média tradicional, 53,00% de Classe C e 19,80% de pobres e miseráveis.
g) Rio Grande da Serra contava em 1999 com 15,44% de ricos e classe média tradicional, 46,63% de Classe C e 37,92% de pobres e miseráveis. Em 2021 são 20,91% de ricos e classe média tradicional, 53,10% de Classe C e 25,90% de pobres e miseráveis.
Nos próximos dias faremos novas abordagens sobre a temperatura econômica e social do Grande ABC neste século. O empobrecimento é latente e indisfarçável. Não há espaço para aumento aleatório da carga fiscal municipal. Sobremodo o IPTU. A desvalorização dos imóveis neste século não pode ser ignorada.
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