Economia

FHC/Lula/Dilma: roteiro do
fracasso econômico da região

DANIEL LIMA - 26/01/2022

Que fique claro aos leitores retardatários: há mais de 30 anos, desde que lancei a revista LivreMercado em março de 1990, não desgrudo os olhos da economia e do entorno econômico do Grande ABC.  

Quero dizer com isso que a manchetíssima de hoje, aí em cima, é mais um capítulo de uma trajetória de análises. Uma dedicação a fatos que na maioria dos casos a mídia desconhece, faz pouco-caso ou esconde porque tem a mania de achar que notícia ruim não se publica. Exceto dos adversários políticos, claro. 

Não é novidade para mim e para os leitores mais longevos que os oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso formaram o pior período econômico e social do Grande ABC. Mas os 14 anos do PT de Lula da Silva e de Dilma Rousseff não foram tão diferentes assim. Vou dar números mais sólidos logo abaixo – embora sem detalhamentos que ficarão para outo dia.  

FRACASSO CONTINUADO  

É importante que não se descontextualizem as razões desse fracasso continuado e impune, quando não negado pelos triunfalistas de sempre. 

Uma análise como a de hoje é pouco, porque há dezenas anteriores e algumas sequenciais que vou produzir. Quero dizer com isso que não tirem conclusões precipitadas.  

Os piores anos do Grande ABC sob o governo de Fernando Henrique Cardoso não podem ser isolados do contexto histórico. Tanto quanto os anos pouco satisfatórios dos governos petistas também precisam ser relativizados. 

O que existe em comum, entretanto, é que tanto o tucano quando os petistas não se salvam ao fim e ao cabo das explicações e provas de crimes gerenciais.  

CONTEXTOS INFLUENCIAM  

Pesam em qualquer abordagem comparativa os elementos contextuais da região, do Estado, do País e também internacionais. O planeta não é plano e a economia não é estanque. Está aí a crise de suprimento de eletrônicos nas fábricas na esteira do Coronavírus e suas variantes. Portos e aeroportos estão encalacrados e erráticos. E as fábricas esperam atendimento.  

Outra questão que precisa ser levada em conta e que a manchetíssima aí de cima pode levar a erro de interpretação diz respeito à possível leitura de que os prefeitos que passaram pela região no mesmo período da gestão FHC/PT, além de governadores do Estado, não têm nada a ver com o peixe estragado dos números.  

Nada disso. Mas essa é outra história, de que já tratamos e voltaremos a tratar. 

Sei que o leitor está ansioso para conhecer os números, os malditos números que a manchetíssima induz, mas dar números sem levar em conta algumas ponderações poderá parecer simplismo demais.   

MÉTRICAS E MÉTRICAS 

Um presidente da República, ou um governador, ou um prefeito, pode exibir resultados dos respectivos PIBs (a métrica mais avassaladora para encerrar discussões) para se vangloriar, mas quem vai mais a fundo, no conjunto da obra, pode colher resultados diferentes.  

Crescer menos num período em que todos cresceram menos pode ser mais que crescer mais num período em que todos cresceram mais.  

Para quem lida com o Grande ABC de dinheiros e de emoções há tanto tempo, tão alarmantes quanto os dados econômicos é a anomia social.  

Não temos dado sinal algum durante os 22 anos de FHC/PT, e mesmo depois, que já chega a quase três décadas, de que temos vergonha na cara e reagiremos. Aceitamos tudo bovinamente.  

Estamos entregues às baratas de interesses paroquiais, de varejismo distributivo de investimentos públicos estaduais e federais. Conformamo-nos com curativos circunstanciais.  

PT APENAS ENSAIOU  

Paro por aqui no desabafo que não é o primeiro nem será o último para chegar finalmente ao que interessa hoje: o governo Fernando Henrique Cardoso é imbatível nos efeitos macroeconômicos e microeconômicos na estrutura do Grande ABC.  

O PT veio em seguida, deu sinais de que devolveria parte do que a região perdera nos anos 1990, mesmo antes de FHC, mas se esticou demais a corda de gastança no período áureo das commodities e, para completar o infortúnio, a Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff matou qualquer esperança. Temer e Bolsonaro pegaram um fim de feira, com avanços aqui, derrapadas ali.  

Sem considerar a inflação que vai de janeiro de 1995 a dezembro de 2002, exatamente o período presidencial, o governo Fernando Henrique Cardoso deixou um legado ao Grande ABC de crescimento (portanto nominal) do Valor Adicionado de 64,92%. Valor Adicionado é a medida de construção de riqueza que, em seguida, vira PIB (Produto Interno Bruto), com a inclusão de impostos.   

PT MENOS MAL  

Quando se divide o crescimento nominal dos oito anos (64,92%) pelo período presidencial, o resultado é 8,11% ao ano. Já os 14 anos de Lula da Silva e Dilma Rousseff significaram crescimento nominal de 164,60%, que, dividido pelo período presidencial, resulta em 11,75% ao ano. Uma vantagem de 31%.  

Vamos tratar disso tudo em termos reais, de correção inflacionária, num outro texto. O saldo é pífio na região e negativo em vários municipais. Especialmente São Bernardo. 

Então ficamos assim: numericamente, numericamente e numericamente, FHC foi bem pior que os petistas no poder, quando se coloca o foco no comportamento da economia do Grande ABC.  

Há uma profusão de dados que poderiam robustecer essa premissa, entre os quais o desemprego escabroso. Foram 85 mil postos de trabalho do setor industrial destruídos durante os oito anos de FHC.  

PEQUENOS DIZIMADOS 

As políticas adotadas pelo tucano praticamente exterminaram o tecido de pequenas e médias empresas familiares da área da produção na região, em favor das grandes.  

FHC completou o trabalho que o braço sindical do PT iniciou nos anos 1980, quando pequenas indústrias foram colocadas no mesmo saco de reinvindicações trabalhistas de viés socialista.  

Como o leitor pode perceber, há uma árvore genealógica de explicações sustentáveis que precisa ser organizadamente exposta para que não se caia em interpretações demagógicas e doutrinárias.  

Ainda hoje há acadêmicos da pá-virada, gente que coloca a ideologia acima de tudo, a destilar negacionismo aterrorizante de que o Grande ABC não sofreu processo de desindustrialização. Não vou chamá-los de capadócios porque respeito os capadócios.  

Alguns desses acadêmicos refutam ainda hoje a desindustrialização. Preferem chamar de perdas cíclicas. Esquecem que perdas cíclicas na região são mais intensas, longevas e destrutivas que recuperações cíclicas. Resultado final? Um desastre em forma de perdas salariais, de mobilidade social, de depauperação das condições de vida.  

MAIS COMPARAÇÕES  

Como estou hoje investido de prazer muito do sacana, por assim dizer, de dizer apenas uma parte do enredo dramático da situação econômica da região no período fernandohenriquista e petista, vou ficando por aqui, com a promessa de que nos próximos dias vou dar números a todos os municípios da região.  

Mais que isso, como tenho feito ao longo dos tempos: vou confrontar os dados municipais e regionais do Grande ABC a de outros territórios paulistas, notadamente com integrantes do G-22, o Clube dos Maiores Municípios Paulistas.   

O que pretendo com isso? Reafirmar que por mais que Lula da Silva, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso tenham culpa no cartório (e têm muito mesmo) há exemplares de administrações municipais que provam capacidade de estabelecer e executar políticas públicas que superam desajustes de outras esferas de poder.  

AFUNDANDO O BARCO   

Segure firme aí que vamos voltar ao assunto em seus múltiplos tentáculos. Mas que FHC, Lula da Silva e Dilma ajudaram a afundar o barco, não tenham dúvida.  

Afundar o barco não é força de expressão. Basta dizer que temos o equivalente à soma populacional de uma Diadema e de uma São Caetano de moradores pobres e miseráveis no território regional. E que os ricos e a classe média tradicional são cada vez menos numerosos.  

Sem contar, claro, o pior de todos os males da região: a anencefalia institucional. 



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