Acaba de sair do forno de dados da Secretaria da Fazenda do Estado o resultado da economia dos municípios paulistas no ano passado. Uma das conclusões é que melhorou o desempenho do prefeito Paulinho Serra em relação ao prefeito Celso Daniel em cinco anos. A disputa pelo segundo lugar no período iniciado em janeiro de 1997 envolve Paulinho Serra e Aidan Ravin. Celso Daniel é praticamente imbatível.
Paulinho Serra chegou ao índice de 39,51% do que representou o petista Celso Daniel entre 1997 e 2001 no comando do Paço de Santo André. Esse resultado decorre da comparação do Valor Adicionado herdado por Paulinho Serra em janeiro de 2017 do petista Carlos Grana, que ocupou a Prefeitura de Santo André nos quatro anos anteriores, e os números de 2021.
MENOS DE 40%
Até agora estão contabilizados cinco anos de administração do tucano ante cinco anos de Celso Daniel, que herdou a Prefeitura do petebista Newton Brandão.
Em março deste ano fizemos espécie de exame geral do comportamento da economia de três dos municípios do Grande ABC, casos de Santo André, São Bernardo e São Caetano.
Voltaremos a destrinchar os três endereços. Sempre tendo como base o Valor Adicionado, espécie de preliminar do que vem em forma de PIB (Produto Interno Bruto). O PIB de 2020 só será conhecido em dezembro. E o PIB de 2021 (no qual está embutido o Valor Adicionado agora revelado) só será oficializado em 2023.
PIB DEMORADO
Portanto, apenas no final deste ano estarão liberados os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do PIB dos Municípios Brasileiros abrangendo o período completo de 2017-2020, coincidente com os mandados dos atuais prefeitos.
Aguardarmos os resultados para preparar análise abrangendo os prefeitos, eleitos, reeleitos e os que deixaram o cargo em janeiro de 2020.
A opção em adotar preferencialmente o Valor Adicionado como medida de análise se deve à maior facilidade de resgatar dados estatísticos.
O PIB dos Municípios Brasileiros não está disponível quando se refere aos anos 1990. Muito menos antes. Diferentemente, portanto, do Valor Adicionado que a Secretaria da Fazenda do Estado mantém desde a implementação do Plano Real, em 1994. O Índice de Participação dos Municípios e a distribuição de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) são atalhos que de alguma forma dão a dimensão de ganhos e perdas.
CELSO IMBATÍVEL
No balanço que preparei em março último e que tratou dos primeiros quatro anos de Paulinho Serra como prefeito de Santo André, o resultado comparado a Celso Daniel foi um horror. O crescimento real do Valor Adicionado no período, de 2,58%, descontada a inflação do IPCA, significava média de crescimento anual de 0,64%.
Celso Daniel, em cinco anos de administração, obteve crescimento real de 13,84%, média anual de 2,77%. Ou seja: o Valor Adicionado de Paulinho Serra correspondia a 23% de Celso Daniel.
SÉCULO MEDÍOCRE
Os resultados de 2021, quando o Brasil saiu da recessão de 2020 contratada pelo Coronavírus, foi bastante favorável a Santo André, como ao Grande ABC de maneira geral, sempre tendo o Valor Adicionado como âncora. O resultado elevou a participação de Paulinho Serra frente a Celso Daniel a 39,51%.
Uma caminhada em direção à semelhança de desempenho é praticamente impossível. Não há no horizonte da macroeconomia e muito menos no aspecto doméstico-municipal nada que encaminhe a uma propulsão que fuja da média medíocre de Santo André neste século. Como o Grande ABC de maneira geral.
MELHOR QUE AVAMILENO
Com mais três anos de administração a ser contabilizados, Paulinho Serra provavelmente se manterá distante de Celso Daniel como pretenso concorrente ao posto de liderança na geração de Valor Adicionado. A média anual do atual prefeito resultante de crescimento de 5,20% no período de 2017-2021 é de 1,10%.
O resultado ainda parcial de cinco anos de Valor Adicionado na gestão de Paulinho Serra é bastante superior ao do também petista João Avamileno. O 1,03% de crescimento real é o acumulado do período de sete anos (2002-2008) que, dividido, torna a média anual irrisória.
JOGO PARELHO
Entretanto, se superar João Avamileno na média anual parece situação já resolvida, porque seria preciso uma tragédia para Santo André baixar significativamente o índice registrado, a disputa de Paulinho Serra pelo segundo lugar nos últimos 25 anos é mesmo com Aidan Ravin, prefeito no período de 2009-2012.
Morto em janeiro do ano passado, vítima de complicações do Coronavírus, Aidan Ravin registrou crescimento médio anual de 1,06% após quatro temporadas. No acumulado, foram 4,27% de avanço do Valor Acumulado. Um pouco menos que os 5,48 % registrados em cinco anos de Paulinho Serra, o que faz a média anual do tucano. O ponto fora da curva de mediocridade, porque é mais que isso, é a gestão de Carlos Grana. Houve perda anual média de 0,77% nos quatro anos, entre 2013-1016. Um período de recessão da economia nacional que impactou todos os prefeitos.
PONDERAÇÕES RELEVANTES
Comparar internamente o desempenho de prefeitos de uma determinada cidade é uma engenharia repleta de armadilhas e por isso mesmo está sujeita a ponderações e contraditórios pertinentes.
Quando produzimos as analises em março último e agora que a renovamos (trataremos de São Bernardo na próxima edição, e depois de São Caetano), levamos em conta os dados estatísticos combinados com a inflação de cada período, de modo a chegar à média anual. Daí, resultado final.
Confrontar o primeiro período estatístico do comportamento do Valor Adicionado (de Celso Daniel) com os cinco anos de Paulinho Serra, tendo nesse intervalo também análises da gestão de João Avamileno, Aidan Ravin e Carlos Grana, comporta ponderações. Há um feixe de fatores que precisam ser considerados. Vejam três:
1. Crescimento do PIB Nacional.
2. Especificidades da economia local.
3. Ambiente político-partidário.
De forma sucinta, cabem as seguintes condicionalidades.
1. Crescimento do PIB Nacional. Devem ser considerados os resultados não só da temporada de chegada do administrador público como também a antecedente. PIB não é um retrato instantâneo. É uma filmagem que vem do passado.
2. Especificidade da economia local. Há determinadas características municipais que sobrepõem vantagens ou implicam desvantagens em relação a municípios próximos ou distantes, e também ao quadro nacional.
3. Ambiente político-partidário. Há situações em que um administrador público sofre reveses por causa do quadro político regional, estadual e nacional. E outras situações em que conta com vantagens comparativas em relação a antecessores e sucessores.
LIDERANÇA FOLGADA
No caso histórico de Santo André, Celso Daniel lidera folgadamente o ranking de prefeitos locais desde meados dos anos 1990 contando com mais adversidades temporais do que vantagens.
No campo econômico, assumiu Santo André contando com dados do Valor Adicionados anabolizados pelo Plano Real, e terminou o mandato em 2021 (morreria em seguida) já com o País em situação complexa. Tanto que o governo federal, de Fernando Henrique Cardoso, foi abatido por Lula da Silva em outubro de 2002. Ou seja: Celso Daniel tomou posse com a economia em alta e a deixou quando a situação era de baixa. O pior dos mundos estatísticos.
Já Paulinho Serra foi eleito em 2016, quando a economia nacional passava pela mais forte recessão da história. Esse quadro favoreceu o tucano, porque a base de comparação é de baixo rendimento em relação à temporada de 2021, que recuperação econômica frente ao ano anterior e também à recessão herdada de Dilma Rousseff. Qualquer movimentação em sentido contrário, como se vê discretamente no PIB Nacional, exceto no ano da chegada da pandemia, em 2020, o coloca em situação mais favorável.
No campo de especificidade da economia de Santo André, tanto Celso Daniel quanto Paulinho Serra (e os intermediários) têm no Polo Petroquímico de Capuava elevadíssima fonte de receitas fiscais, compensando e disfarçando o processo de desindustrialização.
No campo de ambiente político-partidário, Celso Daniel estava praticamente isolado. O PT era oposição tanto no Estado de São Paulo de Geraldo Alkmin quanto do governo federal de Fernando Henrique Cardoso. Já Paulinho Serra tem o governo do Estado como parceiro e o governo federal fora dos domínios petistas, após o impeachment de Dilma Rousseff.
Resumo dessa síntese: mesmo sob vetores desvantajosos, Celso Daniel conseguiu a proeza de somar números bem mais encorpados que qualquer sucessor. Nesse ponto, provavelmente pesou a subjetividade indispensável a um ambiente de negócios: a confiança numa liderança estruturalmente organizada. Santo André vive estágio prolongado de anorexia de capital social.
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