Perda líquida de mais de oito mil empregos industriais. Esse é o resultado final e preocupante de São Bernardo durante os 14 anos do PT em Brasília O texto logo abaixo foi produzido em 2017 e fecha estatisticamente o comportamento do setor de transformação industrial do Grande ABC durante os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Não há como esconder a decepção. O saldo regional positivo dos oito anos de Lula da Silva foi comprometido pela sucessora. Mas uma coisa tem tudo a ver com a outra. O governo Lula foi perdulário nos gastos públicos e, com isso, cavou a sepultura de Dilma, que, para tentar manter a máquina rodando, fez diabruras fiscais e acabou sofrendo impeachment.
MUITAS TOYOTAS
A perda do emprego industrial em São Bernardo durante o período petista equivale à fuga de 15 fábricas da Toyota que, recentemente, anunciou o fechamento da unidade no Município. Foram 550 empregos decepados.
A dependência de São Bernardo do setor automotivo, em clara manifestação de Doença Holandesa, é um desafio a ser superado porque agrava-se a cada novo ciclo, incluindo-se principalmente a vizinha Diadema.
Santo André e Mauá, que também têm Doença Holandesa, no setor Petroquímico/Químico, escaparam da perda de emprego industrial com carteira assinada no período petista.
IRONIA ECONÔMICA
Sem entrar em detalhes sobre os 14 anos do PT em Brasília, além do que estamos levantando nesta minissérie, o fato histórico é que, ironicamente, São Bernardo foi o Município mais sacrificado na região após quase uma década e meia.
Afinal, o saldo negativo do Grande ABC de empregos industriais foi pouco mais que três mil carteiras assinadas destruídas. Se São Bernardo tivesse tido comportamento diferente, quem sabe a baixíssima base de empregos no setor, deixada por Fernando Henrique Cardoso ao final de 2002, não pudesse ter sido pintada de azul em vez de, literalmente, e também metaforicamente, de vermelho?
Acompanhe a análise que fizemos para CapitalSocial, edição de 23 de janeiro de 2017. E se preparem porque novos textos serão acrescentados a esta minissérie, complementando-se a exumação da gestão petista em Brasília.
O resumo da ópera é que se em 31 de dezembro de 2002, último dia de mandato de Fernando Henrique Cardoso, o Grande ABC era uma coleção de maus resultados quando confrontados com primeiro de janeiro de 1995, quando o tucano assumiu a presidência da República, tudo ficou ainda pior. Em todos os sentidos. Sempre tendo o Grande ABC como palco de uma curadoria indispensável. Afinal, para quem mora aqui, não há lugar mais importante no mundo.
Com PT, São Bernardo lidera
perda de emprego industrial
DANIEL LIMA - 23/01/2017
Um balanço do emprego industrial com carteira assinada extraído a partir de dados Ministério do Trabalho e Emprego nos últimos 168 meses, que correspondem aos 14 anos de mandatos de presidentes petistas, coloca ironicamente São Bernardo do ex-metalúrgico Lula da Silva como principal responsável pelo déficit acumulado na Província do Grande ABC.
Fizemos uma varredura nos números oficiais para concluir que São Bernardo perdeu em termos líquidos 8.034 empregos industriais no período. O resultado comprometeu o balanço geral da região: houve queda líquida (diferença entre contratações e demissões) de 3.875 empregos no setor de transformação industrial. Foram decepados 47,83 postos de trabalho, em média, a cada mês na Capital Econômica da região. No conjunto dos sete municípios a perda líquida mensal foi de 23,06 empregos.
BOOM INÚTIL
Nem o boom consumista durante o governo Lula da Silva, que deu grande impulso ao setor automotivo, carro-chefe da economia de São Bernardo, salvou a capital brasileira dos metalúrgicos de contabilidade negativa.
A recessão contratada no segundo mandato do governo Lula da Silva e entregue pela sucessora Dilma Rousseff instalou o emprego industrial da região abaixo dos números legados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 2002. Um desastre completo quando se sabe que FHC deixou o setor no osso após oito anos de presidência. A diferença é que o tucano repassou ao PT um País equilibrado macroeconomicamente. Bem diferente de Dilma Rousseff.
TORMENTA SEGUE
Os resultados de dezembro, anunciados sexta-feira pelo Ministério do Trabalho, não deixam dúvidas de que a tormenta da perda da musculatura do emprego industrial formal terá continuidade nesta temporada, repetindo, aliás, o que se passou nos quatro anos anteriores.
Sempre consideramos o emprego da indústria de transformação com carteira assinada o mais importante para avaliar a situação econômica da região. Trata-se do posto de trabalho sonhado pela maioria dos brasileiros. Primeiro porque assegura todos os direitos trabalhistas e também, em larga escala, adicionais contratuais. Segundo porque paga em média 40% acima das demais ocupações formais do setor privado.
A temporada de 2016 representou a perda de 15.808 postos de trabalho industriais na região. Afastada da presidência da República em maio do ano passado, os efeitos do desgoverno econômico de Dilma Rousseff reverberaram durante toda a temporada e ainda estão aí.
TEMPORADA CHEIA
Para efeitos estatísticos, consideramos como resultados petistas os dados de emprego formal de toda a temporada passada, além dos 13 anos anteriores. Por isso o resultado final é desfavorável ao PT quando se trata de balanço que começa em janeiro de 2003 e termina em dezembro de 2016.
Ganhamos 55.638 empregos industriais formais durante os oito anos do governo Lula da Silva. Com Dilma Rousseff, em seis anos, perdemos 59.513. Sobrou, portanto, um déficit petista de 3.875 vagas.
A mensagem mais preocupante emitida pelo mercado de trabalho é que o setor automotivo não tem mais forças para sustentar o equilíbrio econômico. No mínimo, quando se trata de emprego industrial, vamos viver de ciclos de alta garantidos pelas montadoras de veículos leves e pesados seguidos de baixas fortíssimas.
MÚSICA SOBRERRODAS
A gangorra do período de 14 anos, com elevações na gestão de Lula da Silva e queda acentuadíssima durante o governo Dilma Rousseff, sintetiza o quadro geral da indústria regional, principalmente a maior parte que depende do setor automotivo. Dançamos conforme a música sobrerrodas. E mesmo assim mais lentamente no período de vacas gordas e acentuadamente mais declinante na fase de baixa. Tudo porque, entre vários vetores, o chamado Custo ABC se sobrepõe ao Custo Brasil e afasta investimentos, além de provocar contínuas deserções e mortalidade industriais.
VIZINHAS INDIGESTAS
Não é mera coincidência que São Bernardo e Diadema, vizinhas geograficamente e complementares economicamente, tenham registrado os números mais comprometedores durante os 14 anos do PT na presidência da República. A soma de baixas dos dois municípios no período é de 10.226 postos de trabalho formais. Não fossem os resultados de Santo André, São Caetano e Rio Grande da Serra, proporcionalmente menos dependentes do setor automotivo, os estragos regionais seriam maiores que os quase quatro mil empregos destruídos no setor.
Enquanto Diadema perdeu em 14 anos 2.192 postos de trabalho formais no setor industrial, Santo André avançou 4.492 e São Caetano 3.797. A pequena Rio Grande da Serra somou saldo de 91, enquanto Mauá perdeu 2.716. Essa é a contabilidade regional do período.
A perspectiva para esta temporada em que se prevê a redução do ritmo da quebra do emprego industrial no País (o que se registrou também na temporada passada em contraponto ao ano anterior) é que possivelmente a Província do Grande ABC voltará a acusar novas dores de demissões líquidas, sobremodo no primeiro semestre.
PRESSÕES REPRIMIDAS
Os 15.808 empregos formais que desapareceram das fábricas nos 12 meses do ano passado ainda são preocupantes porque há pressão reprimida por novas demissões. Sobretudo nas montadoras de veículos e nas autopeças. O setor automotivo nacional comercializou apenas 2,05 milhões de veículos em 2016. A repetição do desempenho, mesmo com variação positiva de até um dígito, como prevê o Clube das Montadoras (Anfavea) não aliviaria os custos.
A manutenção de políticas trabalhistas que atenuam a gravidade provocada pela alta ociosidade das fábricas está no limite. Proteger empregos com mecanismos compensatórios bancados em parte pelo governo federal, caso específico do Programa de Proteção do Emprego (PPE), já é uma ação observada com reservas pelas montadoras e autopeças de grande porte. A reação da produção industrial é o melhor remédio para evitar novos contratempos.
MENOS IMPORTANTE
Tanto como tem ocorrido com o PIB (Produto Interno Bruto), o emprego industrial com carteira assinada na Província do Grande é cada vez menos relevante em âmbito nacional. Ou seja: a participação relativa do estoque de mão de obra do setor que mais gera riqueza declinou no período em que o PT esteve à frente do Palácio do Planalto.
Em dezembro de 2002, último mês da gestão de Fernando Henrique Cardoso, a região contava com 3,61% dos trabalhadores industriais formais do País. Em dezembro último, 14 anos pós-PT, a participação relativa caiu para 2,75%. Uma perda de 23,82%. Isso significa média de 1,70% de queda ao ano.
Deu-se resultado semelhante com o PIB: queda anual média de 17,42% quando se toma o mesmo 2002 e se tem na outra ponta 2014. Os dados mais recentes do PIB dos Municípios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referem-se a 2014. O PIB da Província do Grande ABC em 2002 representava 2,64% do bolo nacional, ante 2,18% em 2014.
MAIS PROXIMIDADE
Quando os PIBs dos Municípios de 2015 e 2016 forem revelados, no final deste ano e no final do ano que vem, provavelmente haverá ainda mais proximidade entre os resultados da perda de participação dos postos de trabalho formal na indústria e a queda do principal medidor de geração de riqueza. Ou seja: PIB e emprego industrial formal caminham lado a lado. Pelo menos no caso específico da Província do Grande ABC.
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