O Viaduto Castello Branco não está apenas fisicamente interditado para dar tempo à completa reestruturação de longos e penosos 20 meses. O que está em jogo há muito tempo e só agora foi escancarado sem dó nem piedade é o estrangulamento logístico de Santo André (e da vizinhança) ao longo de décadas de desindustrialização.
Se um viaduto atrapalha muita gente, imaginem então muitos viadutos construídos e outros que deixaram de ser construídos?
E se fossem apenas viadutos a cair ou a ameaçar cair e tantos outros viadutos ausentes, estaria menos ruim. Pena que esse não é o único problema.
O Viaduto Castello Branco é um pedaço de massa física sombrio da outrora desenvolvimentista Avenida dos Estados. E por ser o que é, tornou-se estorvo com fadiga de material.
AGRAVAMENTO COM BRT
Os estragos provocados pela interrupção do fluxo de veículos que integra a já caótica logística da Avenida dos Estados têm o condão de revelar a falência múltipla de competitividade da antiga capital econômica do Grande ABC – superada largamente por São Bernardo desde que a Anchieta e a Imigrantes foram construídas.
Já a chegada do trecho sul do Rodoanel compõe outra história, de péssimos resultados para todo o Grande ABC. Como o seria, também o que alguns pervertidos éticos chamam de metrô, que não passa de BRT. O BRT vai vir um dia como se planeja, mas não vai resolver os problemas econômicos da região.
Diferentemente disso: só os agravará. Como o trecho sul do Rodoanel. Caçapa cantada aqui. Números confirmadores ao longo deste século.
BUCHA DE CANHÃO
São Caetano é parceira fiel de Santo André na cronologia do descaso e do fracasso de agentes públicos que, ao longo de décadas, fecharam os olhos ao envelhecimento e à deterioração do antigo traçado de Desenvolvimento Econômico da Avenida dos Estados e entorno.
O fato é que o prefeito Paulinho Serra, no sexto ano de dois mandatos, pegou a bomba deixada pelos antecessores e, mesmo que faça muito, deixará ao sucessor a mesma bucha de canhão com algumas e insignificantes mudanças.
Por isso é indispensável chamar o governo do Estado a essa empreitada, ao invés de demandas inócuas à reestruturação regional.
O futuro de Santo André e dos demais municípios da região que estão no radar de competitividade funcional da Avenida dos Estados (casos de São Caetano e Mauá, diretamente) vai muito além de uma obra física que vai custar R$ 150 milhões a longo prazo.
LIMITES CONTÍNUOS
A Avenida dos Estados é um corpo maltratado. Perdeu o viço e a funcionalidade. O Viaduto Castello Branco é apenas um dos ramais do esfacelamento competitivo de Santo André.
Portanto, a ação emergencial da Prefeitura de Santo André vai piorar o que é ruim, porque a confusão está instalada e nem poderia ser diferente, mas oferece a perspectiva de que, passados quase dois anos, vai conseguir melhorar o que jamais será bom.
Há limites à Administração de Paulinho Serra. Antecessores também os encontraram e os desafiaram.
CHAMA O GOVERNADOR
A diferença é que a gravidade da situação (poucos dias antes um homem quase morreu com o despencar de um pedaço da estrutura em ruínas do viaduto) não permite alongamento de uma dose cavalar de um paliativo – sim, o investimento é apenas um remendo na estrutura geral da Avenida dos Estados.
A solução mais apropriada para tornar a Avenida dos Estados algo que possa ser retirada de compêndios de fracasso coletivo de gestão pública é a intervenção do governo do Estado.
Sem o governo do Estado e a convocação de autoridades públicas diretamente envolvidas no traçado da Avenida dos Estados, o que teremos será o prolongamento de remendos temporários que não afastarão fracassos continuados.
ACORDEM, DEPUTADOS!
Resta saber se os representantes do Grande ABC na Assembleia Legislativa vão se dar conta de uma agenda seletivamente impactante que faça a diferença no atacado e, portanto, joguem o varejismo tradicional à segundo plano.
Uma frente ampla de deputados estaduais diretamente relacionados ao traçado da Avenida dos Estados seria a primeira medida reformista.
O ideal mesmo é que fossem assessorados por técnicos com independência para não se sujeitarem a uma pauta exclusivamente política. A questão é prevalecentemente econômica e social.
IRRESISTÍVEL?
O ex-ministro da infraestrutura e governador eleito não resistiria à intervenção. A Avenida dos Estados é para Santo André, São Caetano, Mauá (e indiretamente aos demais municípios da região) e também à parcela do território da vizinha Capital do Estado algo semelhante ao que a prometida e sempre adiada interligação entre Santos e Guarujá representa para a Baixada Santista.
Sim, a Avenida dos Estados é para o Grande ABC (mais fortemente para Santo André, São Caetano e Mauá) o que a interligação sempre protelada representaria para o Desenvolvimento Econômico da Baixada Santista.
É pouco provável que se encontre terapia que faça com que a Avenida dos Estados volte aos tempos de glória, origem da industrialização do Grande ABC.
Entretanto, medidas emergenciais com repercussões previamente sistêmicas mudariam o quadro a ponto de, adaptada a um projeto de desenvolvimento econômico atento ao uso de novas tecnologias, poderia alterar o ritmo de decadência regional, até se chegar a um ponto de reversão.
Reproduzimos na sequência uma entrevista que realizamos com o prefeito Paulinho Serra, em outubro de 2017. Tratamos somente da questão relativa à Avenida dos Estados. As demais questões, respondidas, não interessam agora.
Avenida dos Estados é uma
das apostas de Paulinho Serra
DANIEL LIMA - 02/10/2017
CAPITALSOCIAL -- O senhor tem alguma ideia do que fazer para minimizar a herança de estrangulamento logístico de uma Santo André que há décadas deixou de ter a centralidade da Avenida dos Estados como veio de articulação econômica da região, mais especificamente com a chegada da Rodovia Anchieta, depois com a inserção da Imigrantes e mais recentemente com o desembarque dos trechos sul e leste do Rodoanel? O que era elemento de potencialização de dinamismo econômico, no caso a Avenida dos Estados, virou estorvo à mobilidade urbana. O que fazer?
PAULINHO SERRA – Como gestor público, não posso encarar como estorvo as dificuldades de uma cidade que não foi devidamente planejada. De fato, a Avenida dos Estados está abandonada há décadas e o resultado desse descaso se materializa com a queda de pontes e o solapamento de suas margens. Precisamos buscar apoio dos municípios vizinhos e também do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do governo do Estado, para receber auxílio na execução dos serviços de contenção das margens do Tamanduateí e das pontes. Fizemos um estudo que indica o custo total R$ 79,2 milhões para a contenção das margens, bem como a reconstrução das pontes e serviços de recapeamento asfáltico. Desse total, R$ 19,4 milhões seriam destinados a obras de contenção das margens, R$ 43 milhões para construção de pontes e R$ 16,8 milhões para recapeamento asfáltico. E a importância que o atual governo dá à Avenida dos Estados é tanta que está inserida no projeto apresentado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID -- que busca captar US$ 25 milhões para importantes obras de mobilidade, em especial dois viadutos na própria avenida, desafogando o gargalo.
CAPITALSOCIAL -- Existe uma relação estreita, embora não única, entre o esgotamento da Avenida dos Estados como estimuladora da produção e a desindustrialização de Santo André. O senhor considera irreversível a derrocada industrial de Santo André? Já encontrou uma saída que possa amenizar os estragos históricos? O terciário de Santo André, ao contrário do que pretendia o então prefeito Celso Daniel, não tem nada de agregador de riqueza. Perdemos a batalha pela Tecnologia da Informação? Ficamos com o ramal mais frágil do setor de serviços?
PAULINHO SERRA -- A nova Luops (Lei de Uso e Ocupação do Solo) identificou cerca de dois milhões de metros quadrados ao longo do eixo da Avenida dos Estados e limitou a utilização para atividades comerciais. Cabe a uma gestão moderna, identificar e estimular diversas atividades comerciais. Nossa região é muito forte e atua com destaque na indústria 4.0, no segmento de tecnologia da informação e comunicação, no setor automobilístico, na química e petroquímica, além da indústria do plástico e da borracha. A batalha pela tecnologia da informação ainda não foi perdida, visto que ainda continua em expansão. Temos uma gestão atenta a esse tema, alinhada com as potencialidades existentes, em diálogo com as universidades regionais e atenta às novas oportunidades que esse mercado ainda produz.
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