Economia

DÉCADA DESASTROSA: O
QUE SERÁ DA REGIÃO? (4)

DANIEL LIMA - 26/04/2023

Há alguns referenciais que dão suporte a métricas essenciais sobre o comportamento econômico (e em muitos casos também em outras temáticas) do Grande ABC como conjunto de sete municípios em relação a outros territórios. 

Quem se limita a comparar municípios do Grande ABC com municípios do Grande ABC produz reducionismo que pode satisfazer terraplanismo. O buraco de competitividade é muito mais embaixo e abrangente. 

Por essa razão, há muito tempo criamos o G-22, grupo dos principais municípios do Estado de São Paulo. 

No grupamento, há oficialmente cinco municípios do Grande ABC. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, não têm porte econômico, mas entram para completar o time regional. O G-22 é de fato G-20.

A situação de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires é bem diferente de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, que formam o que chamo de G-3 do Interior.  

GRANDE PERDA 

É para essa turma que o Grande ABC também perde feio nesta quarta edição da minissérie Década Desastrosa, período que começa em janeiro de 2011 e se estende a dezembro de 2020. Ainda não há dados oficiais dos dois últimos anos. 

De imediato, um contraste que revela a diferença entre o que se convencionou chamar de Década Perdida, quando os analistas se referem ao que aconteceu com a economia do Brasil no período, e a Década Desastrosa, identificada nesta revista digital. Trata-se da distância de perdas do PIB (Produto Interno Bruto) entre os dois grupamentos.

Como revelamos anteriormente, o Grande ABC perdeu no período de 10 anos já contabilizados oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas nada menos que o acumulado de 23,55% do PIB. Média anual de 2,355%. 

Já o G-3 do Interior teve desempenho muito menos agressivamente torturante: caiu apenas 3,05% na contabilidade de 10 anos, com média anual de perda de apenas 0,35%.

TRIO INTERIORANO

Estamos tratando, como nas edições anteriores, do conceito de PIB Geral, que não comporta números por habitante. Ainda chegaremos ao PIB per capita. 

O resultado da Década Perdida para Campinas, Sorocaba e São José dos Campos é semelhante ao que ocorreu com São Paulo, Capital do Estado, que, conforme já analisado, caiu 0,45% em média por ano. 

Já o Brasil, conforme já escrito também, não escapou da degola, mas acumulou saldo positivo de 1,59% ao ano. Quase nada, mas mais que os demais. 

Não foi apenas durante a Década Desastrosa que o Grande ABC perde para o G-3 do Interior. As derrotas vêm de passado mais distante. 

Desde que a guerra fiscal e as estripulias do sindicalismo da região iniciaram o processo de desindustrialização, no começo dos anos 1990, passando pelo desastre do governo Fernando Henrique Cardoso. Tudo no século passado. 

VIRANDO O JOGO 

Em 2010, base de dados da Década Desastrosa do Grande ABC, o PIB Regional de R$ 96.138.599 bilhões era maior que os R$ 83.764.593 bilhões da soma de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. Uma superioridade do Grande ABC de 8,71%.

Na outra ponta da Década Desastrosa, em 2020, dois anos de desastre de Dilma Rousseff no meio, os três municípios do Interior Paulista apresentaram resultados muito melhores e superaram o PIB do Grande ABC. 

Enquanto os sete municípios da região totalizaram em valores daquele ano R$ 128.389.075 bilhões, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos registraram R$ 141.291.498 bilhões. Ou seja: o que era uma desvantagem do G-3 do Interior de 8,71% em 2010, passou a ser vantagem de 9,09% em 2020. 

Ao pinçar Campinas, Sorocaba e São José dos Campos para confrontar com o Grande ABC, não me utilizo de aleatoriedade de escolha.  Desde muito tempo o trio do Interior entrou no radar de CapitalSocial (e anteriormente da revista de papel LivreMercado) por conta de ter a marca de capitais de três importantes regiões metropolitanas do Estado de São Paulo. 

SEDES METROPOLITANAS 

Ou seja: Campinas, Sorocaba a e São José dos Campos estão para os municípios do entorno assim como a Capital está para o Grande ABC e mais de três dezenas de municípios da Região Metropolitana de São Paulo.

Uma das diferenças profundas que instala o Grande ABC em situação de desvantagem em vários fatores e principalmente no campo econômico em relação ao G-3 do Interior é a assimetria entre sediar uma região metropolitana e ser periferia de região metropolitana. 

O Grande ABC é periferia da RM de São Paulo. O PIB da região, como já mostramos em outros textos, foi ultrapassado pelo PIB da Região Oeste da metrópole paulista. Barueri, Osasco e outros cinco municípios deixaram o Grande ABC comendo poeira também neste século, a partir do enviesamento produtivo do trecho oeste e do trecho sul do Rodoanel. E nada indica que a distância deixará de ser ainda mais elástica. 

SOROCABA MELHOR

O G-3 do Interior do Estado (o G-3 da Região Metropolitana de São Paulo é formado por Barueri, Osasco e Guarulhos, que também farão parte desta minissérie) também sofreu as dores principalmente dos dois anos tenebrosos da petista Dilma Rousseff, quando o Brasil viveu a maior recessão da história.

Mas mesmo com tantas contrariedades geradas por políticas econômicas e fiscais equivocadas de Brasília, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos resistiram bravamente. 

Principalmente Sorocaba, que mesmo com todas as intempéries cresceu acumuladamente no período 6,57%, o que dá a média anual de 0,656%. 

Sorocaba contava com PIB de R$ 19.721.441 bilhões (em valores nominais, sem inflação) em 2010 e passou para R$ 36.723.769 bilhões. 

Campinas perdeu no acumulado dos 10 anos apenas 1,56% do PIB: contava com PIB nominal de R$ 38.195.022 bilhões em 2010 e passou para R$ 65.419.717 bilhões em 2020.

Já a mais dependente de uma atividade econômica (a Doença Holandesa Aeroespacial), São José dos Campos sofreu impacto negativo de 12,95%. Contava com PIB nominal de R$ 25.848.130 bilhões em 2010 e passou para R$ 39.148.012 bilhões em 2020.

TRIO PERDEDOR

Não custa nada lembrar que no mesmo período, como bojo da Década Perdida, os três principais municípios do Grande ABC passaram por duros reveses: Santo André perdeu 11,71% do PIB, São Caetano 34,26% e São Bernardo 34,35%. 

Quanto mais dependente os municípios do Grande ABC são da Doença Automotiva, gerada por fábricas e autopeças de veículos, mais os danos se acentuam. 

Santo André sucumbiu menos que São Bernardo e São Caetano porque foi beneficiada pela Doença Holandesa Petroquímica, assim como Mauá. Mas mesmo assim caiu pelas tabelas no PIB da Década Desastrosa. Santo André não engatou nenhuma política pública voltada a Economia de forma consistente e impulsionadora de crescimento. 

Se no confronto com o trio do Interior o Grande ABC perde feio durante a Década Desastrosa que também foi Década Perdida, é provável que um novo estudo, desnecessário nessa minissérie mas que serve de suporte a conclusões evidentes, o entorno daqueles três municípios tenha, também no conjunto, apresentado números ainda melhores.

Como é possível que Campinas, Sorocaba e São José dos Campos tenham vizinhanças com melhores desempenhos econômicos que as cidades-sede das respectivas regiões metropolitanas? 

É o fenômeno da descentralização de investimentos produtivos. 

Na medida em que cidades mais populosas e coalhadas de complicações logísticas passam a reduzir a produtividade, os locais próximos servem como válvulas de escape. 

Foi o que ocorreu com o Grande ABC após a gradual desindustrialização da Capital vizinha. E com o Interior do Estado, após a exaustão do Grande ABC a partir dos anos 1980.



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