Afinal de contas, o PIB Público cresce mais que o PIB Industrial na região por que é mais eficiente ou o PIB Público do ABC é mais eficiente apenas por que o PIB Industrial é menos eficiente?
Esse é um falso “efeito Tostines”. Justamente por ser falso não permite que seja utilizado por defensores do Estado, em forma de Município, como explicação ao que se passa na região neste século.
O PIB Público da região é de fato avassalador e mais competente do ponto de vista de volume por que o PIB Industrial da região já deu o que tinha de dar. Nesse intervalo de competências e circunstâncias, o PIB Público ainda tem muito a devorar de riquezas da sociedade em forma de carga tributária própria, modalidade que não respeita o empobrecimento da população cada vez mais deserdada pela desindustrialização de quatro décadas.
Ser eficiente e mesmo competente na arrecadação não são necessariamente credenciais de PIB Municipal reformista e agregador de valores sociais.
CUIDADO COM CONCLUSÃO
Portanto, quem utilizar o Dilema Tostines ao qual me refiro na manchetíssima de hoje como explicação para a situação do PIB Geral da região (que abrange todas as atividades econômicas) nas duas últimas décadas está blefando.
Não existe dúvida alguma sobre a origem e a repercussão da defasagem entre PIB Industrial e PIB Público na região. O que também existe de fato e para valer é que as autoridades municipais estão permanentemente em busca de aumento da arrecadação própria para tentarem sair do sufoco de orçamentos minguantes, erodidos pelo setor industrial, o mais importante na planilha de receitas da região.
É difícil imaginar movimento em contrário ou passivo dos administradores públicos municipais diante do cenário econômico e social que se apresenta desde muito tempo na região.
HERANÇA MALDITA
A herança dos atuais prefeitos e também dos antecessores mais imediatos é mesmo um presente de grego. Afinal, a economia regional definha a cada temporada quando contrastada com o gigantesco ônus social de uma região que, mesmo com taxas demográficas mais equilibradas neste século, ainda cresce demais principalmente nas periferias. Somente nos 20 últimos anos a região acrescentou uma São Bernardo de demanda populacional e reivindicações sociais.
Creio que não preciso explicar o que é Dilema Tostines, ou Paradoxo Tostines, ou Efeito Tostines, mas, por via das dúvidas, vou ser breve. Trata-se de um famoso comercial da década de 1980, em que um discípulo pergunta ao mestre se a marca de bolachas vendia mais porque era fresquinha ou era fresquinha justamente porque vendia mais?
No caso da Economia da região, especificamente na questão envolvendo PIB Industrial e PIB Público, temática de que tratei em duas edições recentes (e no passado mais distante também) a situação é muito complicada.
SEM CONTROLE
Tao complicada que pode ser resumida na seguinte frase: o PIB Geral do ABC (que envolve todas as atividades econômicas) entrou em parafuso porque o PIB Industrial se esgotou, enquanto o PIB Público fugiu do controle de contenção.
Quando essa nova década terminar, podem conferir o tamanho do rombo suplementar. O PIB Industrial não tem sustentação numa região cada vez mais dominada pelo PIB de Serviços sem valor agregado. E também diante de um PIB Público cada vez mais acionado pela população.
A região torna-se cada vez mais cara aos investidores, mais devoradora das finanças da população e cada vez menos controlável pelo Poder Público Municipal. É um ritual demoníaco.
MAIS QUE REGIÃO
Quem me acompanha sabe de cor e salteado que sempre extrapolo dados econômicos e sociais da região tendo em vista que comparar a região com a própria região é uma bobagem em muitas dimensões. Nem sempre a verdade aparece.
Por isso que, após mostrar em duas edições o comportamento do PIB Industrial e do PIB Publico regional, segui em frente e organizei também as duas métricas econômicas tendo como base os 15 municípios de maior porte do Estado (excluindo-se a Capital) e que integram o G-22, o Clube dos Maiores Municípios Paulistas, ou seja, quando associado aos sete municípios da região.
Esse é um grupamento que criei faz muito tempo exatamente para estruturar análises que fujam do provincianismo regional. Que tenham, portanto, maior abrangência e profundidade.
BOA COMPARAÇÃO
O G-22 criado por mim e sobre o qual lanço permanentes avaliações, é de fato G-20. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão no grupamento como caronas, por pertencerem à região. Ou seja: não têm individualmente porte para tanto. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra contam com apenas 2,5% do PIB Geral da região.
Mas vamos voltar ao que interessa. E o que interessa é mostrar a fraude do Dilema Tostines que impactaria a região.
Mostramos nas duas edições já referidas que o PIB Industrial da região perdeu além da conta participação no PIB Público neste século. Considerando-se valores nominais, ou seja, sem decomposição inflacionária, o PIB Industrial da região cresceu 141,72% no período de 20 anos (a inflação desconsiderada aqui registrou 250,04%), enquanto o pouco produtivo e cada vez menos transformador PIB Público avançou 364,15%.
DIFERENÇA EXCESSIVA
É muita diferença entre um PIB considerado até prova em contrário a fonte de crescimento de uma sociedade e um PIB contestado como ingrediente de Desenvolvimento Econômico, porque é em larga escala extrativista da sociedade ou, com muita boa vontade, um PIB em busca de alguma harmonia social.
Em termos de pontos percentuais, a diferença entre o avanço do PIB Público ante o PIB Industrial na região é de 222,43 – resultado do crescimento de 364,15 do PIB Público e de 141,72% do PIB Industrial. A participação relativa do PIB Público ante o PIB Industrial saiu de 21,54% registrada em 1999 e chegou a 41,37% em 2020. Ou seja: quase metade do PIB Industrial já está ocupado pelo PIB Público.
Feita essa recuperação de dados já publicados, agora chegamos aos resultados do PIB Industrial e do PIB Público dos demais 15 municípios do G-22. Preparem-se para chorar.
PERDENDO TERRENO
Como estamos cansados de escrever há 34 anos (desde a edição inaugural de CapitalSocial, em 1990, então em forma de revista de papel LivreMercado), perdemos terreno a cada nova temporada. A desindustrialização de razões múltiplas é a explicação mais simplificada – mesmo não sendo simplificada por conta das razões múltiplas ressaltadas.
O PIB Industrial dos 15 municípios extraterritoriais da região cresceu em termos nominais (sem considerar a inflação, repito) neste século praticamente o dobro do apontado no ABC Paulista – 288,20% ante 141,72%. Eram R$ 27.688,46 bilhões em 1999 e passou para R$ 107.485,69 bilhões em 2020. Já o PIB Público dos mesmos 15 municípios (o G-15 dentro do G-22) cresceu nominalmente 411,85%, ante os 364,15% de nossa região. Eram R$ 7.401.212 bilhões e passou para R$ 37.883,39 bilhões.
Sugiro ao leitor mais apressado que se acalme e, antes de apontar o dedo para o maior crescimento do PIB Público nos 15 municípios ante os sete municípios da região, que preste atenção à explicação. Comparar os números do PIB Público dos dois blocos é uma furada.
OUTRO LADO MELHOR
Para começar (e isso é muito importante), a diferença de crescimento nominal em pontos percentuais entre o PIB Industrial e o PIB Público do grupo dos 15 municípios (123,65) está muito abaixo do que o ABC Paulista registrou no mesmo período (os 222.43 pontos). Quando maior a diferença, maior o desequilíbrio orgânico do comportamento do PIB Geral, que é o PIB de todos os PIBs setoriais.
De fato, a distância é quase o dobro. Esse contraste é a base da diferença entre a combinação de PIB Industrial e PIB Público de forma mais harmoniosa, por assim dizer. Mais: como o PIB Industrial da região cresceu abaixo da inflação do período, enquanto no mesmo critério o PIB Industrial dos 15 municípios ultrapassou com folga a barreira inflacionária, está mais que evidente que existe uma combinação positiva de PIB Industrial e de PIB Público naqueles territórios; contrariamente, portanto, ao que vivemos na região.
Não se pode esquecer que entre as características de PIB Público estão investimentos em áreas como Educação, Saúde, Transporte, zeladoria. Isso significa que quanto maiores os recursos financeiros proporcionados pela dinâmica industrial, mais PIB Público do bem é transformado em ganhos sociais. O inverso é igualmente verdadeiro. E o inverso é o que temos no cardápio das duas últimas décadas na região.
Numa próxima edição sobre esses dados vou dar nomes a todos os bois municipais do G-15.
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