Economia

Seade ou Fiesp,
quem tem razão?

DANIEL LIMA - 05/02/2001

Números da Fiesp, entidade que representa o empresariado industrial paulista, e da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises de Dados Estatísticos), organização vinculada ao governo do Estado, sobre o comportamento do emprego lançam mais trevas do que luzes na economia estadual. A diferença é gritante demais para considerar os dois trabalhos livres da suspeita de incompatibilidade com os fatos. Como pode a Fiesp detectar a abertura de 27,4 mil novas vagas durante todo o ano de 2000 no Estado de São Paulo e a Fundação Seade anunciar como balanço anual no Grande ABC 29 mil novos empregos?

O balanço da Fiesp constata que pela primeira vez nos últimos seis anos houve saldo positivo anual de contratações na indústria paulista. De 1994 a 1999 o setor industrial só demitiu. Precisou se adaptar à nova realidade macroeconômica em que a competição internacional e a estabilidade monetária fizeram tabelinha devastadora. Foram quase 600 mil postos de trabalho eliminados no período. Por isso, os 27,4 mil empregos em 2000 não passam de gota no oceano, embora tenha sido barulhentamente anunciado. 

Já o saldo positivo da indústria do Grande ABC anunciado pela Fundação Seade em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas) não tem base de comparação histórica. O trabalho do braço de estatísticas do governo estadual foi contratado há pouco mais de um ano pelo Consórcio Intermunicipal de Prefeitos. O máximo de informação sobre o emprego no Grande ABC e que pode ser interpretado como razoavelmente confiável é a conta deficitária apontada pelo Ministério do Trabalho, que identificou perda de aproximadamente 125 mil postos com carteira assinada no período de 1989 a 1998.   

O choque entre números da Fiesp e da Fundação Seade é irresistivelmente enigmático. Por mais que critérios e metodologias sejam diferentes e por mais que um estudo leve em conta apenas o mercado formal e o outro trate também do informal, o resultado final não pode acusar tanta discrepância. Como o Grande ABC pode gerar mais empregos industriais em 2000 do que todo o Estado se detém apenas 10% da produção paulista do setor?  A situação se agrava ainda mais se forem incluídos os contratados industriais da Grande São Paulo, também conforme pesquisa da Fundação Seade -- foram 78 mil vagas preenchidas.

A PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) no Grande ABC anunciada no mês passado constata que a taxa de desemprego diminuiu de 17,5% em novembro para 17,1% em dezembro. O movimento de recuo correspondeu à geração de 11 mil novos postos de trabalho. O resultado foi fortemente influenciado pelo comércio, que criou 13 mil ocupações, já que a indústria reduziu o efetivo em oito mil postos e o setor de serviços em mil. Outros setores geraram sete mil ocupações. 

No balanço anual da PED para o Grande ABC, além da intrigante elevação do emprego industrial, foram criados cinco mil novos empregos no comércio e eliminados dois mil nos serviços. Comparado a dezembro de 1999, o nível de ocupação no Grande ABC cresceu 4,1%, o que corresponde à geração de 39 mil postos de trabalho. Na Grande São Paulo, a taxa média de desemprego caiu de 19,3% em 1999 para 17,6% da PEA (População Economicamente Ativa) em 2000. O crescimento do nível de ocupação, com a abertura de 280 mil vagas, foi o maior dos últimos cinco anos e o emprego com carteira assinada voltou a aumentar, segundo a Fundação Seade. Entretanto, passou-se a trabalhar mais por menos dinheiro. A renda média dos ocupados caiu 6,1% e a jornada de trabalho subiu para 44 horas semanais, após cinco anos estabilizada em 43 horas. Na comparação com 1995, os salários estão 14,3% menores na Grande São Paulo. Quem ganhava em valores atualizados R$ 1.020 por mês em 1995, fechou o ano 2000 com R$ 878. "A expansão do emprego nas pequenas empresas e o crescimento da informalidade puxaram a renda média para baixo" -- analisa Paula Montagner, economista do Seade. 


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